A Prefeitura de Passo Fundo deu início à campanha de vacinação contra a Covid-19, na tarde dessa terça-feira (19), através de um ato simbólico realizado no Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) do bairro Petrópolis. A técnica de enfermagem Nair Carmelina Teixeira Nunes, de 56 anos, foi a primeira pessoa a ser vacinada no município. Ela atua há 17 anos no Cais Petrópolis e trabalha na linha de frente do combate ao coronavírus desde o início da pandemia.
Escolhida para receber a primeira dose da CoronaVac aplicada em território passo-fudense por ser a servidora de maior idade em atuação no Cais Petrópolis – uma das unidades de referência para atendimento de pacientes com sintomas do coronavírus –, Nair conta que acompanhou a trajetória da Secretaria Municipal de Saúde em busca da vacina desde os primeiros meses de pandemia. “Eu vi familiares saírem chorando, vi pacientes saírem de certa forma até agonizando em função de um vírus que durante meses fez vidas serem perdidas. E, hoje, estamos aqui agradecidos por receber esse incentivo de vida, de cura”, relembra.
A servidora destacou ainda que a aplicação foi “tranquila” e mostrou-se grata pela oportunidade de receber a primeira dose. “Eu estou muito gratificada em ser escolhida como a primeira vacinada, em nome das minhas colegas e de uma colega que há poucos meses esteve internada [com Covid-19] dentro de uma CTI. Hoje, eu digo para ela que ela tem a chance de receber um tratamento para esse vírus. Para mim, eu acredito que foi um agradecimento em nome do Cais Petrópolis”.
A responsável por aplicar a primeira dose foi a técnica de enfermagem e colega de Nair no Cais Petrópolis, Leandra Portella. “Como profissional, me sinto muito grata. Ainda mais em aplicar em uma colega minha, com quem eu convivo há anos. Hoje a gente aplicou na colega, mas a expectativa é que agora a vacina venha para todos nós e a população em geral. A gente não tem que ter medo, a gente tem que acreditar nos profissionais que elaboraram [o imunizante] e se vacinar”, destacou Leandra.
Passo Fundo recebeu mais de 5 mil doses da CoronaVac
A primeira remessa de ampolas da CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, chegou à 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (6ª CRS), com sede em Passo Fundo, no início da tarde de terça-feira (19). A região recebeu do Governo do Estado um total de 10,2 mil doses do imunizante, que precisaram ser distribuídas entre os 62 municípios de abrangência da coordenadoria. A divisão do quantitativo por municípios aconteceu a partir de critérios populacionais. Por ser a maior cidade da região, Passo Fundo recebeu 5.035 doses da vacina, quase metade do montante destinado à 6ª CRS.
O prefeito Pedro Almeida comemorou o momento, enfatizando que o número de doses que a cidade recebeu é inferior ao que esperava, mas que, mesmo assim, a chegada da vacina representa uma vitória coletiva. “Passo Fundo se preparou para imunizar a população, organizando toda a estrutura necessária, e nós estamos cheios de expectativa de que a vacina seja o início de novos tempos”, enfatizou.
Como a CoronaVac é aplicada em duas doses, com intervalo de duas a quatro semanas após a primeira aplicação, a Secretaria Estadual de Saúde decidiu dividir o envio para os municípios em duas remessas. Por isso, a expectativa é de que mais 5 mil vacinas cheguem a Passo Fundo até o fim do mês para que os beneficiados com a primeira dose da Coronavac possam receber a segunda dose do imunizante dentro do tempo recomendado.
A imunização aos grupos de risco será aberta no município a partir desta quarta-feira (20). Nesta remessa de doses, seguindo orientações do Estado, serão vacinados profissionais da saúde que atuam diretamente no atendimento de Covid-19, pessoas com 60 anos ou mais que vivem nas Instituições de Longa Permanência (ILPIs), funcionários destes locais e indígenas aldeados. A população deve respeitar a ordem dos grupos prioritários e não se dirigir aos locais de vacinação enquanto não houver orientação para isso. Não haverá inscrição para fazer a vacina. “Provavelmente, a partir da semana que vem, já teremos mais doses da vacina e até o final do mês de fevereiro todo o grupo será vacinado”, adiantou a secretária municipal de Saúde, Cristine Pilati. Ela informou ainda que a expectativa é de que até o fim do ano todas as pessoas com indicação de vacina recebam a imunização.
Chegada da vacina representa momento de esperança, mas cuidados devem ser mantidos
A chegada da vacina, mesmo que em remessa ainda insuficiente para vacinar todos os grupos prioritários, é visto como um sinal de esperança no dia em que Passo Fundo chegou ao número de 250 mortos. “É um sinal de esperança e de que as coisas estão começando a mudar”, comentou o diretor-técnico do Hospital de Clínicas (HC) de Passo Fundo, Juarez Dal Vesco.
O coordenador do curso de Medicina da Imed e ex-secretário de Saúde do município, Luiz Arthur Rosa Filho, definiu a data com um dia de inversão. “Acho que esse é o dia mais importante no enfrentamento científico da doença para Passo Fundo. É o dia da inversão, quando passamos a realmente poder enfrentar a doença de frente. A solução econômica e social de retorno à normalidade começou hoje. Nós recebemos poucas doses, mas uma é melhor do que zero. Proteger os trabalhadores de saúde daqui, é proteger a região toda. É um dia de glória”, comemorou.
Além de representar uma luz no fim do túnel para a população em geral, o doutor em Virologia e professor da Universidade de Passo Fundo, Luiz Carlos Kreutz, ressalta que a chegada da vacina é também uma conquista do ponto de vista científico. “Para a ciência, obviamente, representa um ganho enorme, uma vez que se produziu e se validou uma vacina em um tempo recorde. Enquanto, normalmente, as vacinas levam vários anos para serem desenvolvidas e validadas, a vacina contra o coronavírus está disponível à população em menos de um ano. Isso demonstra uma conquista e a força que existe na pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias”, celebrou.
Por outro lado, Kreutz pondera que a conquista não representa o momento de virar a página da pandemia. “Eu acredito que seja um momento histórico, um marco limitador dessa pandemia. No futuro, vamos começar a pensar essa pandemia a partir do antes e depois da vacina. No entanto, devemos manter todos os cuidados com o vírus que temos mantido até o presente momento. Segundo as últimas notícias, os países que mais conseguiram vacinar – são dois ou três países – conseguiram imunizar 22% da população, enquanto a maioria dos países está com índice de imunização de até 3,5%, o que é muito baixo”. Ele relembra que o Brasil ainda tem vivido um número crescente de casos de mortes que a vacinação de todos os grupos de risco pode levar até o fim do ano.