“Estamos sentindo um vazio que não sabemos como lidar”

Mara Regina Rodrigues lamenta morte do marido por Covid-19 enquanto aguardava um leito de UTI

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Idemar e Mara fariam 30 anos de casados em março. O açougueiro deixa dois filhos (Foto: Arquivo Pessoal)Idemar e Mara fariam 30 anos de casados em março. O açougueiro deixa dois filhos (Foto: Arquivo Pessoal)
Idemar e Mara fariam 30 anos de casados em março. O açougueiro deixa dois filhos (Foto: Arquivo Pessoal)
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O açougueiro Idemar dos Santos, 50 anos, morreu segunda-feira (22), no município de Não-Me-Toque, vítima da Covid-19, enquanto aguardava transferência para um leito de UTI. 

Ele havia sido internado sábado à noite no Hospital Beneficência Alto Jacuí, com um quadro considerado estável. No dia seguinte, com o agravamento do estado de saúde, teve início a busca por um leito de UTI através do Sistema de Gerenciamento e Internações (Gerint), que coordena as transferências no estado. 

A direção do hospital passou a fazer contato direto, sem sucesso, com outros hospitais por telefone, de acordo com a enfermeira responsável, Katia Hitinger Müller. 

Na segunda-feira (22) a situação se agravou. “Ele teve uma grande piora e necessitou de intubação. Quando já estava intubado e, em parada cardiorrespiratória, a central de leitos nos ligou informando sobre a disponibilidade de uma vaga em Cruz Alta”, conta a enfermeira. No entanto, não houve tempo. No momento da ligação, Idemar estava sendo reanimado, mas não resistiu.

“A gente se surpreendeu porque não esperava. Ele começou com uma tosse alérgica e não tinha outros sintomas, não tinha dor ou febre, foi uma surpresa. A gente estava se cuidando, tinha uma vida tranquila, não sabemos onde ele acabou se contaminando”, lamenta a artesã Mara Regina Rodrigues da Silva, esposa da vítima. Os dois completariam 30 anos de casada no próximo dia 2 de março. Além da esposa, Idemar deixou dois filhos, de 20 e 29 anos. 

Segundo a esposa, o açougueiro era pré-diabético, condição para a qual se cuidava, e um pouco obeso. 

Sentimento

A família ainda tenta processar a notícia. “Foi tudo muito rápido, muito bruto, impactante. Meus filhos eram muito apegados a ele, e nós tínhamos uma convivência de estar sempre juntos, unidos, fazendo e decidindo tudo junto. Para nós a perda foi muito grande, estamos sentindo um vazio que não sabemos como lidar. Estamos tendo bastante dificuldade para pensar no que tem que fazer, tivemos ajuda de amigos para tomar as primeiras atitudes”, conta emocionada Mara.

Mensagem

O objetivo de toda a família é passar uma mensagem, mesmo em meio à perda. “Que as pessoas se cuidem, tenham atenção. Ele pedia muito isso para nós e se cuidava muito”, explica Mara. O objetivo é que a morte de Idemar não seja apenas mais uma estatística. “Ele era uma pessoa muito boa, corria atrás de doações no Natal e se vestia de Papai Noel”, relembra Mara. 

“Um legado para pensar e se cuidar de verdade”, explica a artesã, criticando as aglomerações. “Pensa em alguém da tua casa ir para o hospital, você ir conversando com a pessoa no caminho e no outro dia a pessoa morrer”.

A cidade

Não-Me-Toque tem 150 casos ativos do coronavírus, de acordo com o boletim epidemiológico de terça-feira (23). No hospital da cidade, seis dos dez leitos clínicos estão ocupados, mas a instituição já chegou a 100% da ocupação. Na Unidade Básica de Saúde destinada a pacientes com suspeita de Covid-19 a demanda também cresceu. “Eles não estão comportando a demanda. São muitos casos, muitos pacientes suspeitos e não estamos comportando. Estamos trabalhando junto à secretaria para aumentar o atendimento na unidade e os leitos clínicos no hospital”, afirmou Kátia. A cidade está na classificação de bandeira preta, mas também adota protocolos de bandeira vermelha. 

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