O Diabetes Mellitus é uma doença de alta prevalência no mundo e no Brasil. O crescimento da população, assim como o seu envelhecimento, a maior urbanização e o aumento do número de pessoas obesas ou com sobrepeso, são fatores relacionados ao aumento do número de pessoas com diabetes. Quando não diagnosticada, acompanhada e controlada de maneira a manter os níveis de glicose no sangue dentro dos padrões estabelecidos, pode levar a uma série de complicações em diversos órgãos. O comprometimento da microcirculação é a causa das mais conhecidas complicações relacionadas ao diabetes: doença renal crônica, que pode evoluir para insuficiência renal; doenças vasculares periféricas, como o famoso pé diabético; níveis diversos de doença isquêmica do coração e do sistema nervoso central. Quanto aos olhos, o diabetes também pode levar a complicações importantes que, em casos de persistente mau controle da doença sistêmica e ocular, pode levar à cegueira.
Catarata
Pacientes diabéticos possuem mais risco de desenvolver catarata que a população geral. Além disso, possuem risco maior de desenvolver catarata em idade mais precoce e de esta evoluir para formas mais avançadas em um tempo mais curto. Na catarata, a lente que naturalmente faz parte do olho, chamada cristalino, torna-se progressivamente mais opaca, bloqueando a entrada da luz necessária para uma boa visão.
Glaucoma
O glaucoma é mais uma doença ocular crônica, que ocorre com maior frequência em pessoas diabéticas. O aumento do tempo pelo qual o paciente convive com a doença, assim como o avançar da idade, também torna o risco de desenvolvimento de glaucoma maior no diabético. Trata-se de uma doença na maioria das vezes silenciosa até os estágios mais avançados, quando a perda visual costuma ser irreversível. Afeta o nervo ótico, na maioria das vezes associado a uma elevação da pressão intraocular.
Erros refracionais
Os erros refracionais, mais comumente conhecidos como "grau", também são afetados pelo diabetes, principalmente durante mudanças mais abruptas dos níveis de glicemia. Hiperglicemia aguda pode levar a aumento nos graus de miopia, e durante um período de restabelecimento de um melhor controle da glicemia, uma tendência a maiores graus de hipermetropia foi demonstrado na literatura. Assim, para um exame mais confiável do grau, deve-se evitar troca de óculos e lentes nesses períodos.
Retinopatia diabética
Trata-se da complicação ocular mais temida e potencialmente grave do diabetes. O principal fator de risco para sua ocorrência é o tempo de doença, sendo de extrema importância que todo o paciente com diabetes tipo 2, forma da doença em que o início é geralmente em idades mais avançadas, passe a realizar consulta oftalmológica com exame de fundo de olho anualmente, a partir do momento do diagnóstico. Nos pacientes com diabetes do tipo 1, doença que se inicia geralmente na infância ou juventude, a mesma rotina deve ser adotada no mais tardar, a partir do quinto ano de doença. Os vasos da retina passam a sofrer com as alterações crônicas dos níveis de glicemia. Em sua forma inicial encontramos pequenas hemorragias e aneurismas dos vasos retinianos e a visão pode estar ainda normal ou minimamente comprometida. Com a persistência do mau controle da doença, ocorre um crescimento anormal de vasos sanguíneos na retina. Estes por serem mais frágeis que os vasos de uma retina saudável, rompem-se facilmente, causando hemorragias oculares que comprometem significativamente a visão e podem, com seu crescimento, exercer tração sobre a retina, levando ao seu descolamento, condição grave e muitas vezes irreversível, que pode levar a perda permanente de visão.
Edema macular
A mácula é a parte central da retina, onde o foco de nossa visão central ocorre. Quando os vasos sanguíneos desta região perdem sua capacidade de controlar a passagem de líquido e outras substâncias entre o sangue e a retina, permitem um vazamento de fluido para dentro da mácula, condição que chamamos de edema macular, uma das principais causas de perda visual no diabético. Trata-se, em outras palavras, de um inchaço na área central da retina, com potencial de importante comprometimento visual.
Como prevenir e tratar
A prevenção das alterações oculares causadas pelo diabetes inicia com diagnóstico precoce, tratamento e acompanhamento com endocrinologista. A consulta oftalmológica com exame de fundo de olho deve ser feita anualmente, mesmo na ausência de sintomas oculares, uma vez que as formas mais precoces dessas complicações já podem estar se desenvolvendo, mesmo com a visão ainda normal. Quanto antes forem diagnosticadas e tratadas, menor a chance de perda transitória ou definitiva da visão. O tratamento varia com as diversas condições e estágios de doença. A catarata é resolvida com cirurgia, para o tratamento da retinopatia diabética pode ser necessário aplicação de laser na retina, medicamentos intraoculares e, nos casos mais avançados, cirurgia de retina. Como em muitas outras doenças, a prevenção ainda é o melhor remédio. Consulte regularmente seu médico clínico e faça seus exames de rotina.