É no passar de pano e esfregão, sempre das paredes às áreas mais sujas, que o agravamento da pandemia também pode ser mensurado em um dos principais complexos hospitalares do Norte gaúcho. Nos três primeiros meses deste ano, quando o coronavírus começou a atingir com mais força os moradores, os procedimentos de desinfecção e higienização no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), em Passo Fundo, foram intensificados pela circulação de pacientes, profissionais de saúde e familiares dos enfermos.
A sensibilidade ao contágio, além de adoecer médicos e enfermeiros, expõe os agentes de limpeza à fragilidade de uma potencial infecção pela covid-19. Quase invisíveis, mas fundamentais para evitar o alastramento de microrganismos nas unidades hospitalares, a crise sanitária conduz os funcionários de limpeza, almoxarifado, copa e cozinha a jornadas mais intensas de trabalho e afastamentos diários para isolamento por contato ou contaminação pelo coronavírus. “As técnicas continuam as mesmas, mas as áreas precisam ser limpas com mais frequência”, diz a gerente de hotelaria do HSVP, Mariléia Ferreira. “Eu vejo hoje o serviço de higienização e limpeza como um dos mais importantes nas instituições de saúde”, destaca.
“O óbito mexe com o nosso psicológico”
Todas as manhãs, dez minutos antes do ponteiro indicar 7 horas, a auxiliar de limpeza Fabiana Lúcia de Marchi avança pelos corredores do Hospital São Vicente de Paulo em direção à CTI Covid. O ruído das rodinhas do carrinho, que transporta todos os itens essenciais para o asseio, logo cessa para dar início a uma das três higienizações no setor mais crítico de combate à pandemia.
Paramentada, enquanto as mãos vão repetindo os movimentos para a organização dos leitos e quarto, Fabiana é acompanhada pelo barulho dos monitores que mantêm os pacientes graves com coronavírus conectados às funções vitais. “No começo foi mais difícil, mas agora já estamos acostumados”, conta. No exercício de deterger o chão e trocar o enxoval, sobretudo quando a cama hospitalar foi desocupada pela morte, a auxiliar de limpeza e as camareiras também se cercam do sofrimento causado pela perda. “O óbito sempre mexe mais com o nosso psicológico”, revela a auxiliar de 40 anos de idade, cujos últimos 14 foram dedicados ao HSVP. Na vanguarda da crise sanitária e sem sentir os sintomas que a doença provoca em um ano de pandemia, ela foi a primeira a receber a vacina contra a covid-19 na unidade hospitalar. “Eu me senti muito feliz porque foi um reconhecimento. É uma esperança. A vacina veio como esperança”, enfatiza Fabiana.
Afirmação que é repetida pela gerente de hotelaria das duas unidades hospitalares. Desde o início da campanha de imunização contra a doença, relata Mariléia, houve uma diminuição significativa nos contágios entre os 200 profissionais que se ocupam da desinfecção das áreas nos centros de saúde. “Não houve nenhum óbito, mas em alguns momentos trabalhamos com a falta de 25 a 30% das equipes. Foi preciso reorganizar e rever escalar pensando sempre na segurança”, menciona. “É uma fase ruim, mas vai passar”, complementa Fabiana.