Nestes tempos trágicos da pandemia da Covid-19 temos visto reações inusitadas das pessoas. A crescente mortalidade, sem paralelo na história da humanidade, causada pelo coronavírus levou a posições extremadas. Na luta contra esse inimigo, buscaram-se medicações que pudessem frear seu desenvolvimento. Nas ciências básicas encontraram-se drogas que impediam a replicação do vírus e, como já eram usadas para outras enfermidades há tempo e serem baratas, passaram a ser usadas como uma panaceia para tratar a Covid-19. Essas constituem o “tratamento precoce” e incluem cloroquina, invermectina, vitaminas e outros “adereços” que são acrescentados ou retirados sem uma explicação convincente. Com o passar do tempo, o louvável esforço de combater a pandemia, tornou-se um dogma em parte da classe médica brasileira. Os “precocistas” advertem que é um crime não tomar. Na defesa dessa posição artigos pagos foram publicados nos maiores jornais nacionais, outdoors são colocados nas ruas na defesa incondicional do tratamento precoce.
Médicos coagidos
Recentemente, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) teve que sair em defesa dos associados visto que uma banca de advogados estaria coagindo médicos para prescrição desses medicamentos. Nunca teve tal pressão para o uso de um tratamento na história da medicina brasileira. Paralelamente a um aumento de 500% na venda de componentes do “kit”, verificou-se um aumento na mortalidade. Nunca tivemos tantos óbitos. Não há mais vagas em hospitais, UTIs e cemitérios. Não há equipamentos ou equipes médicas para tratar a avalanche de pacientes. A mortalidade avança sobre pessoas jovens consideradas anteriormente de menor risco. Visto isso de uma maneira global, parece que esse tratamento piorou e 340.000 mortes são testemunhas desse equívoco.
De olho no mundo
O mantra intoxicante do “tratamento precoce” brasileiro impede que se levantem os olhos para ver o que está ocorrendo no mundo. A vacinação em Israel fez com que taxa de infecções por Covid-19 diminuísse 95,8% entre as pessoas que receberam ambas as doses da vacina. Dessa forma, é necessário que a nossa classe se una em torno do que vem funcionando no mundo. Esse esforço é ainda mais importante já que o governo brasileiro tomou posições equivocadas na condução da pandemia e, até agora em abril de 2021, continua dando informações contraditórias. Foi uma atuação péssima, uma vergonha.
A união da medicina brasileira deve ser para pressionar pelo uso de máscaras, higiene das mãos e afastamento social. Pela vacinação em massa, pela compra das vacinas, pelo pedido de empréstimo para quem comprou a mais. É fundamenta emitir um SOS e fazer um mea culpa. Não é possível continuar com essa mortandade vendo tantas pessoas falecendo, dia após dia, sem precisar.
(*) Hugo R. K. Lisboa, MD, PhD é endocrinologista e professor de Medicina da IMED