MEDICINA & SAÚDE - Suplementos vitamínicos e visão

(*) Gabrielle Senter

Por
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(Foto - Luciano Anderson Breitkreitz – ON)(Foto - Luciano Anderson Breitkreitz – ON)
(Foto - Luciano Anderson Breitkreitz – ON)
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Na Oftalmologia, assim como em todas as áreas da saúde, existem doenças para as quais ainda não há cura e, muitas vezes, não são conhecidos métodos eficazes para evitar o seu surgimento ou progressão. Diante disso, o interesse e as pesquisas sobre suplementação nutricional vêm ganhando espaço em muitas áreas, inclusive no que diz respeito à saúde visual. A oferta de suplementos vitamínicos voltados para a visão tem crescido. Apresentam nomes comercias chamativos, apelo publicitário e muitas vezes, promessas nem sempre realistas. Não é raro vermos anúncios em meios de comunicação, incluindo emissoras de televisão com amplo alcance, de suplementos prometendo prevenir ou mesmo tratar condições como catarata, doenças de retina e “vista cansada”, nome popular para a presbiopia - condição que faz os olhos perderem a capacidade de focar objetos próximos, dificultando a leitura, geralmente após os 40 anos de idade, variando conforme condições de grau anterior, de pessoa para pessoa. 


Muita cautela

É necessário olhar com cautela e realismo para essas fórmulas, pois embora não causem danos à saúde, a maior parte de seus componentes não possuem comprovação científica de eficácia em algumas doenças e condições oculares. Trazendo dessa forma um ônus financeiro recorrente e falsas esperanças de cura. A maioria dos suplementos para visão disponíveis no mercado têm na composição luteína, zeaxantina, vitaminas C, E, zinco. Existem variações também com vitamina A, ômega 3 e 6, vitamina D, entre outros. Como saber então se há indicação ou não para usá-los e quais são seus reais benefícios? Antes de tudo, é necessário ressaltar que a real deficiência nutricional de determinadas vitaminas, pode levar a doenças oculares especificas, como no caso da chamada Cegueira Noturna relacionada com deficiência crônica de vitamina A. No entanto, para pessoas saudáveis, com uma boa alimentação, a quantidade necessária de vitaminas pode ser conseguida com dieta adequada, sem necessidade de suplementação.


Estudo específico

O complexo vitamínico composto por luteína, zeaxantina, vitamina C e zinco, foi estudado para pacientes com uma doença específica da retina, chamada de Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) em um famoso estudo conhecido como AREDS. Essa doença pode surgir em pessoas acima de 50 anos e é mais comum em fumantes, mas é importante ressaltar que a grande maioria dos problemas de visão nessa faixa etária não se deve a DMRI. Com o passar dos anos a visão perde a qualidade, a capacidade de ajuste de foco e nitidez naturalmente. Isso se deve a problemas muito mais comuns do envelhecimento, como a catarata. Entretanto a DMRI é uma doença potencialmente grave, na qual existem lesões na retina identificadas pelo oftalmologista no exame de fundo de olho, e avaliadas com exames como a tomografia da mácula, que é a região central da retina. Em pacientes já diagnosticados com DMRI, em estágio intermediário, o uso contínuo da suplementação estudada, provou reduzir a chance de piora do quadro. Porém, sem melhora das lesões já existentes. Além da suplementação indicada no momento correto pelo oftalmologista, o acompanhamento constante é necessário, pois no caso de piora deve-se instituir tratamento específico com injeções intraoculares. Vale ressaltar que o uso desta suplementação em pacientes sem a doença não mostrou beneficio em reduzir seu surgimento, assim como não evitou sua piora nos pacientes que tem o grau mais leve da doença. O mesmo estudo avaliou se o suplemento contendo luteína, zeaxantina, vitamina C e zinco poderia evitar a evolução da catarata senil, ou seja, a catarata causada pela idade que atinge grande parte das pessoas após os 60 anos. A conclusão é que não houve melhora da catarata ou diminuição do seu surgimento nos pacientes que usaram o suplemento. Ainda, esse suplemento não foi estudado para tratar a chamada “vista cansada” (presbiopia). Dessa forma, não podemos esperar que tais vitaminas evitem o surgimento ou resolvam a presbiopia. 


Prescrição individualizada

Outro tipo de suplementação comercializada para saúde ocular apresenta formulações contendo ômega 3 e 6. Neste caso, sua indicação está relacionada a doenças da chamada superfície ocular, que resultam no conhecido olho seco. Sua indicação deve ser individualizada, pois o oftalmologista precisa avaliar a causa do olho seco e dos sintomas do paciente, se há infecções ou inflamações associadas e decidir se o uso desses ácidos graxos vale a pena no longo prazo. Assim, a indicação de qualquer suplementação deve ser idealmente individualizada. O oftalmologista, baseando-se no exame, nos fatores de risco e nos possíveis benefícios reais da suplementação poderá prescrever o suplemento mais adequado, se de fato for necessário para a saúde visual.


(*) Dra. Gabrielle Senter é médica oftalmologista no Hospital da Visão em Passo Fundo

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