O medo de infecção pelo coronavírus é maior entre os trabalhadores passo-fundenses, de acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) no município. O artigo, publicado no primeiro trimestre deste ano no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, indica que 64% dos moradores entrevistados sentiam medo de contrair a doença.
O convite à participação foi divulgado em redes sociais, no começo da crise sanitária, e em grupos de aplicativos de comunicação de aparelhos telefônicos móveis. As respostas ao questionário virtual, como explica a metodologia do estudo, foram armazenadas na plataforma digital com acesso restrito à equipe de pesquisa. Um ano depois do início do estudo, os professores Gustavo Olszanski Acrani e Ivana Loraine Lindemann avaliam que essa sensação de medo em relação à pandemia foi amenizada, especialmente, após o início da imunização contra a Covid-19. “Provavelmente a sensação de medo possa ter diminuído, caso contrário não veríamos os lugares públicos com tanta gente se aglomerando”, observaram os pesquisadores em entrevista ao jornal O Nacional na quinta-feira (6).
Essa mudança no comportamento dos moradores locais, pontuaram os docentes, possivelmente não esteja associada à ignorância em relação aos modos de contágio ou à gravidade da doença, mas sim ao que eles relacionaram ao conceito de “fadiga da pandemia”. “A chegada da vacina, a qual, mesmo com uma cobertura populacional incipiente, provoca um comportamento de risco na medida em que se flexibilizam os cuidados”, alertaram.
Como o estudo foi elaborado
Na amostragem, foram coletados dados e respostas de 920 passo-fundenses que se dispuseram a contribuir com a investigação científica. A partir destas informações, o grupo de cientistas, composto por docentes da UFFS e pelo acadêmico Christian Pavan do Amaral, fizeram uma descrição da amostra com base em uma série de critérios sociodemográficos, como sexo, faixa etária e escolaridade.
A partir disso, foi possível determinar que 67,7% dos moradores participantes da pesquisa eram do sexo feminino; 88,8% adultos; 89,3% de cor branca; 67% tinham elevada escolaridade; 74,5% deles inseridos mercado de trabalho, sendo 66,6% em área que não a saúde; 73,8% moravam com até três pessoas e 76,1% não tinham idosos no domicílio. Assim, os investigadores constataram que o temor da contaminação se mostrou associado a importantes fatores sociodemográficos, de saúde, de comportamento e de conhecimento sobre o vírus e a doença. “Os idosos, reclusos em seus domicílios, provavelmente apresentaram uma sensação de maior segurança”, destacaram os professores ao pontuar um período de maior adesão ao isolamento social.
Mas, como indica o estudo, a preocupação em relação ao contágio esteve presente, em maior grau, entre os passo-fundenses que trabalham, que moram com idosos, que tem um elevado risco de contaminação, que realizam maior número de medidas preventivas e que sabem que pertencem ao grupo de risco. “O medo, que é um mecanismo de defesa adaptável e fundamental para a sobrevivência, pode influenciar o comportamento da população, na medida em que leva ao maior cuidado e, consequentemente, ao menor risco de contaminação e de propagação da doença”, justificaram os pesquisadores.