O Observatório Regional de Saúde da Região de Agrupamento Passo Fundo tem observado, conforme aponta um novo levantamento, a predominância de casos confirmados de Covid-19 entre a população com 30 a 39 anos de idade. Na região, desde o início da pandemia, essa faixa etária vem representando, em média, 22% do total de casos positivos da doença. Para o professor de Economia da Universidade de Passo Fundo (UPF) e membro do observatório, Julcemar Zilli, o comportamento deste grupo pode estar associado à razão pela qual ele é o mais atingido pelo vírus.
Conforme a análise do professor, além de ser uma população majoritariamente inserida no mercado de trabalho, a faixa etária dos 30 a 39 anos é também a que tende a desfrutar mais da vida social. “Além da questão do trabalho, boa parte dessa população ainda está saindo de forma constante em bares, restaurantes e, talvez, até mesmo, locais clandestinos. Essa pode ser uma das explicações do por que essa faixa etária tem se mantido em um patamar alto desde o início da pandemia, praticamente sem oscilações. Essa movimentação é diferente, por exemplo, na faixa acima dos 40 anos, que tende a estar mais no convívio familiar. O mesmo para as faixas abaixo, mais jovens, que desfrutam do lazer, mas que por outro lado ainda estão iniciando no mercado de trabalho”, explica.
Ainda de acordo com o especialista, embora não seja mais possível rastrear a origem das contaminações, devido ao rápido e expressivo aumento nos números de casos, o que se imagina é que o maior percentual de transmissão do vírus não acontece dentro do comércio propriamente, por exemplo, mas no trajeto de um indivíduo até determinado estabelecimento. “É bem subjetivo, nós não temos mais um cadastro que mostre onde a pessoa supõe ter se contaminado, mas o que se imagina é que a maior parte das contaminações não acontece dentro do comércio e sim na movimentação até lá: dentro do ônibus, ao parar para tomar um cafezinho e tirar a máscara... Além disso, obviamente, nas festas clandestinas, nos encontros depois do trabalho e nas confraternizações de fim de semana, que são os principais vilões por ampliar a cadeia de transmissão do vírus e fazer com que ele continue circulando”, observa Zilli.
Casos aumentam entre adolescentes
Os dados do Observatório Regional de Saúde da Região mostram, também, um aumento no número de contaminados na faixa etária dos 15 aos 19 anos. Embora eles não estejam entre os mais acometidos pela doença — em maio, os casos concentraram-se principalmente em pessoas com 30 a 39 anos (22%), de 20 a 29 (18%), de 40 a 49 (18%) e de 50 a 59 (16%) —, o dado chama atenção para um avanço entre a população mais jovem. “No começo da pandemia, eles representavam 1% dos casos, agora representam 6%. A maioria dos casos entre os adolescentes não exige hospitalização, mas devemos prestar atenção nesse número porque eles são transmissores e podem estar levando a doença para dentro do grupo familiar”, alerta.
Por outro lado, nas faixas etárias maiores, acima dos 60 anos, com esquema de imunização completo, o avanço da vacinação começa a mostrar efeitos e tem reduzido o índice de contaminações. “Quem tem mais de 80 anos, no início da pandemia, representava em torno de 5% dos contaminados, mas desde o começo de 2021, caiu para 2%. O padrão é parecido nas outras faixas com mais de 60, cujo percentual de contaminados vem diminuindo ao longo dos últimos meses”. É nos idosos, também, que os óbitos por coronavírus vêm apresentando maior redução, conforme já apontado em uma reportagem publicada no jornal O Nacional no dia 17 de junho.
Os números levantados pelo observatório mostram que a população com 80 anos ou mais, que chegou a representar aproximadamente 35% dos óbitos no início da pandemia, passou para 16% do total no último mês. O mesmo acontece na faixa de 70 a 79 anos, que caiu de 29% em maio do ano passado para 16% em maio deste ano, e na população com idades entre 60 a 69 anos, reduzindo de 25% para 18%. Por outro lado, as faixas etárias intermediárias passaram a representar uma parcela mais significativa no total de óbitos por coronavírus na região: enquanto, no início da pandemia, pessoas com 50 a 59 anos registravam um percentual de óbitos de 11 a 15%, no último mês, elas passaram a ocupar o patamar de 27%, tornando-se a faixa etária com maior número de mortes causadas pelo vírus.
Município prorroga medidas restritivas
A Prefeitura de Passo Fundo voltou a prorrogar, nessa terça-feira (22), o decreto que determina restrição no horário de funcionamento das atividades não essenciais. A abertura segue proibida entre 21h e 06h, sendo permitido apenas o sistema de tele-entrega. O decreto tem vigência até o dia 28 de junho. A medida, que está em vigor há mais de um mês, é uma tentativa de reduzir o número de reduzir os índices da pandemia no município.
Conforme os boletins epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde, em 21 dias, o mês de junho já acumula 59 registros de óbitos por Covid-19 em Passo Fundo. Desde o início da pandemia, a cidade perdeu 581 moradores para o vírus. Outro dado que preocupa o município é o número de casos ativos, que permanece acima do patamar de mil desde o último dia 3. Apesar do número ainda alarmante, a secretária municipal de Saúde, Cristine Pilati, considera que as medidas adotadas estão começando a apresentar resultados. “Hoje [segunda-feira] é o quarto dia que observamos uma queda no número de casos ativos. Chegamos a mais de 1.300 casos e, agora, são 1.034. Isso provavelmente se deve a dois fatores: o avanço da vacinação e a adoção das medidas mais restritivas, como o fechamento dos bares e restaurantes às 21h”, avalia.
A queda também começa a ser observada no número de hospitalizações em Passo Fundo, que passou de 210, no início da semana passada, para 175 nessa segunda-feira (21). Deste total, 104 estão leitos clínicos e 71 em UTIs. Mesmo com a redução, o painel de dados do governo estadual revela que a região de Passo Fundo continua apresentando taxa de ocupação em leitos de UTI acima dos 100%.