O tema é antigo, mas a pressão pelo uso da Canabis para fins medicinais tem crescido a cada dia, o que reforça a importância de debater o assunto. Por conta disso, o I Simpósio AMRIGS sobre o uso medicinal do Canabidiol trouxe especialistas no assunto para abordar as vantagens, desvantagens, potenciais ganhos e riscos do uso do elemento no tratamento de pacientes. O evento foi realizado em formato híbrido, com os debatedores de forma presencial na sede da AMRIGS e transmitido via streaming para os inscritos. A mediação do evento foi feita pelo diretor de Exercício Profissional da AMRIGS, Ricardo Moreira Martins. Após saudação do presidente da AMRIGS, Gerson Junqueira Jr, a primeira apresentação foi da médica Tatiana Della Giustina, especialista em Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia e em Medicina do Trabalho e Conselheira do Conselho Federal de Medicina. Ela fez uma abordagem histórica sobre a Cannabis, evidenciando que o primeiro registro aconteceu por volta de 2.700 a.C, destacando também a evolução dos aspectos legais.
Uso aprovado
No Brasil, o uso é baseado na Lei 11.343/2006 do Sistema Nacional de Política Pública Antidrogas, que em seus artigos proibiu de forma geral uso, a posse e a produção. Posteriormente, os medicamentos à base de Canabidiol tiveram uso aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A princípio, o Canabidiol é uma droga promissora para tratamento de diversas situações pelos seus efeitos multifacetados. A medicação pode ser neuroprotetora, pode ter propriedades anti-inflamatórias e princípios antidepressivos e antioxidantes. Ou seja, de um modo geral, pode ajudar no tratamento de pacientes com danos neurológicos”, explicou o especialista em Neurologia e Neurofisiologia Clínica, José Augusto Bragatti.
Novo tratamento
O neurologista Infantil e Neurofisiologista Clínico, Josemar Marchezan, discorreu sobre o uso na população pediátrica. "Cerca de um terço dos pacientes que tem epilepsia apresenta resistência aos medicamentos. Por isso, um novo tratamento que possa melhorar a qualidade de vida dessas pessoas será bem-vindo. Os estudos são bastante antigos, mas em 2013 observou-se em uma paciente, nos Estados Unidos, uma resposta muito importante ao uso do medicamento, o que reacendeu o debate”. Um trabalho retrospectivo descreveu a experiência no estado americano do Colorado com 75 pacientes mostrando que 57% relataram melhora na frequência de crises de epilepsia. Durante sua fala, o palestrante também recordou possíveis benefícios no tratamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), limitado, no entanto, a casos graves.
Propriedades
A médica, com treinamento em Neurologia e doutora em Psicofarmacologia pela UNIFESP, Helena Maria Tannhauser Barros, falou dos benefícios e riscos do uso medicinal do CBD. Entre as ações terapêuticas citadas, estão a capacidade de atuar como analgésico, antemético (classe de medicamentos que tem como foco o tratamento de náuseas e vômitos), anti-inflamatório, e possuir composto anticonvulsivante. Ainda, pode agir como agente protetor da neurodegeneração. Por outro lado, a preocupação é com a falta de ensaios clínicos amplos e bem controlados, bem como a segurança em relação aos efeitos colaterais indesejados. O médico Sérgio de Paula Ramos, doutor pela UNIFESP, lembrou que, mais importante do que o debate filosófico, é analisar dados, não deixando de considerar o fator econômico que está em jogo. Segundo ele, há avaliações de que a soma financeira no mundo de recursos que envolvem álcool tabaco e drogas ilícitas se compara a poderosa indústria bélica no mundo.