MEDICINA & SAÚDE - A demanda transfusional na Pandemia da Covid-19

(*) Dra. Cristiane da S. Rodrigues de Araújo

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Dra. Cristiane da S. Rodrigues de Araújo (Foto – Divulgação-HSVP)Dra. Cristiane da S. Rodrigues de Araújo (Foto – Divulgação-HSVP)
Dra. Cristiane da S. Rodrigues de Araújo (Foto – Divulgação-HSVP)
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A pandemia de Covid-19 representa um desafio aos serviços de hemoterapia pela redução no número de doações de sangue (SCHONS, 2020). SARS-CoV-2 (também conhecido como Covid-19) tem gerado preocupações sem precedentes em muitas áreas da medicina, e em bancos de sangue não seria diferente. A Covid-19 teve um efeito nitidamente negativo em vários centros de coleta do mundo, a exemplo dos Estados Unidos (EUA), China e em vários países europeus, forçando muitos bancos de sangue em diferentes países a adotar novas políticas para se adaptar a um suprimento reduzido de sangue, bem como para proteger os doadores do novo coronavírus. Em todo o mundo, a pandemia causou um declínio nas doações de sangue, entre 30% e 70% em alguns dos países mais afetados. Na Espanha, durante as primeiras oito semanas após a decretação do Estado de Emergência em 14 de março de 2020, nos relatórios semanais do Ministério da Saúde, foi observada uma redução média de 20% em relação à doação de 2018. No Brasil ocorreu uma diminuição da ordem de 15% a 20% no total de doações. A redução de doações de sangue até o momento, provavelmente, foi em resposta às medidas de distanciamento social e representa um novo desafio aos serviços de hemoterapia. A manutenção das demandas por transfusão nos pacientes em tratamentos emergenciais e urgentes requer a implantação de estratégias e ações institucionais imediatas direcionadas a reorganização de processos relacionados ao sangue.

 

Demanda

Provavelmente, entre os motivos do aumento da demanda transfusional destacam-se o retorno de muitos procedimentos eletivos e cirurgias programadas que tiverem que ser adiadas devido a pandemia. Ainda, muitos centros médicos acabaram por um período priorizando os atendimentos urgentes e emergenciais. Alguns pacientes acabaram protelando suas buscas por consultas médicas e estão internando com comorbidades mais avançadas e graves. E em muitos pacientes internados com manifestações graves da Covid-19 requerem suporte transfusional.


Estratégias

Diante da experiência prolongada do surto de SARS-CoV-2 determinou-se a necessidade de implementar estratégias e ações utilizadas para sensibilização sobre doação de sangue direcionados a comunidade local e regional em todo território nacional. Entre as estratégicas utilizadas destacam-se o incentivo ao agendamento individual ou de pequenos grupos para doação e coleta de sangue, ligações telefônicas convidando a comunidade a doar, em especial doadores prévios, intensificação de captação de doadores fidelizados (doam pelo menos duas vezes ao ano) e de reposição (doam para amigos e familiares), aumento no número de doações automatizadas (doação de duplo de hemácias e plaquetaférese), apoio intensificado da mídia e redes sociais, além de, divulgação do tema de forma virtual. Lidar com a disponibilidade de sangue e questões de segurança durante este período, sem dúvida, irá nos preparar melhor não só para ações imediatas, mas também para futuros desastres e contribuirá para o aprimoramento dos processos de captação de doação de sangue no contexto global.


Doações automatizadas

As doações automatizadas podem contribuir para manter o suporte transfusional neste período, em especial a plaquetaférese. São exemplos de métodos de doação automatizada a aférese dupla de hemácias e a aférese plaquetária. Uma doação de plaquetaférese equivale a uma dose terapêutica que necessitaria de 6 a 8 doadores de plaquetas randômicas. A exemplo de contribuição desta modalidade de doação, no Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo no ano de 2020 representou 17,49% do total de doações de sangue, ganhando espaço como importante estratégia de combate aos impactos negativos da pandemia no HSVP. Fatores que potencialmente contribuem com esse crescimento são a fidelização do doador e a possibilidade de coleta de maior quantidade de hemocomponentes específicos em um único procedimento.


(*) Dra. Cristiane da S. Rodrigues de Araújo é especialista em Hematologia e Hemoterapia, Mestre em Envelhecimento Humano-UPF, professora da Faculdade de Medicina UPF, gestora e responsável técnica do Serviço de Hemoterapia do HSVP

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