O dia 19 de setembro marca uma das datas mais importantes para a saúde pública brasileira, pois é o dia em que foi sancionada a Lei Orgânica da Saúde (8.080/1990), que regulamenta as ações e serviços de saúde em todo o território nacional e estabelecem os princípios, diretrizes e objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS). No mês em que o SUS completa 33 anos, a Associação Médica do Rio Grande do Sul promoveu na quinta-feira, 16, um simpósio sobre o legado da telemedicina pós-pandemia, com foco no SUS e os investimentos em soluções para que profissionais da atenção primária pudessem manter o acompanhamento de pacientes de forma ágil e segura. Com a moderação do médico de Família e Comunidade e diretor de Exercício Profissional da Associação Gaúcha de Medicina de Família e Comunidade (AGMFC), Juliano Campanha Barcelos, o evento foi pautado com apresentações e contrapontos trazidos pelos participantes. Esta edição do Simpósio AMRIGS foi uma realização da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) em parceria com a AGMFC.
Saúde conectada
A apresentação do médico de Família e Comunidade, professor adjunto da FAMED/UFRGS e coordenador científico do TelessaudeRS, Marcelo Rodrigues Gonçalves, pontuou sobre outras modalidades que vão além dos atendimentos, como consultorias entre os profissionais de saúde, os diagnósticos que podem ser feitos diretamente com um médico, a cirurgia com a infraestrutura robótica, o monitoramento passivo e ativo usando recursos digitais e a educação, já reconhecida e utilizada há bastante tempo. “A internet tem um aumento exponencial na quantidade de pesquisas e publicações feitas ao longo dos anos e, a partir de 2000 e com a incorporação de smartphones, começamos a ter a saúde conectada com o monitoramento de exercício físico, por exemplo. Isso possibilitou os avanços atuais, principalmente em questões como armazenamento virtual em nuvem, o acesso a prontuários eletrônicos, a inteligência artificial e a rastreabilidade dos dados”, afirmou. Do ponto de vista jurídico, segundo Rodrigues, houve uma mudança de legislação que avançou desde 2002, quando a telemedicina virou assunto acadêmico. Em março de 2020, teve início um novo entendimento sobre a consulta devido à necessidade que a COVID-19 trouxe: a incorporação de um formato de atendimento que pudesse ser realizado a distância.
Teleatendimento
O professor associado do Departamento de Cirurgia e Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Cirúrgicas da FAMED/UFRGS, Dr. Brasil Silva Neto, trouxe um estudo sobre hiperplasia prostática benigna (HPB), devido a sua alta prevalência, além de dados sobre o acompanhamento do TelessaudeRS e sobre a produção em tele ambulatório. Conforme ele, em 2020 foram registradas 52.878 consultas e, somente no primeiro semestre de 2021, foram realizadas 40.731 consultas. Destas, 4.560 foram atendimentos em especialidades cirúrgicas, 7,2% do total. “Aproximar os médicos e pacientes da tecnologia é o maior legado da telemedicina. As discussões sobre as permissões que foram feitas para atendimentos e a inclusão do teleatendimento em todos os níveis, inclusive dentro de um hospital como o Clínicas (Porto Alegre), é algo grandioso em comparação com o período pré-pandemia. Especialmente para o atendimento de demanda reprimida, é uma ferramenta excepcional e os resultados mostram isso”, apontou.
Atendimento virtual
As principais formas descritas na literatura de telemedicina em reumatologia foram destacadas pela médica reumatologista e preceptora do Programa de Residência Médica do Serviço de Reumatologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição, Deise Marcela Piovesan. Entre elas estão os protocolos de referenciamentos, regulação de encaminhamentos e aplicativos onde o paciente utiliza o QR Code e responde algumas questões. Piovesan também explicou que o atendimento virtual fez com que os pacientes entendessem melhor a importância dos processos e se mostraram mais receptivos a esse tipo de consulta. “Os benefícios da telemedicina superaram todos os obstáculos que antes nos perguntávamos como íamos resolver. Além disso, reduzimos muito a circulação, o tempo de transporte e custos, especialmente de pacientes do interior. Também observamos que a autonomia e o conhecimento do paciente e da sua rede de apoio, melhorou muito em relação a sua doença”, disse.