O Brasil é o segundo país que mais faz transplantes no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Apesar disso, o momento é considerado o mais difícil da história para os pacientes que estão na fila monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e também para os profissionais que atuam na captação dos órgãos e tecidos. Em razão da pandemia, a taxa de efetivação das doações diminuiu e a situação preocupa os especialistas da área ligados à Organização de Procura de Órgãos - OPO 4 do Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo. Em 2021, por exemplo, foram dois transplantes renais no HSVP, no entanto, no ano passado foram 23 registros. Atualmente, 66 pessoas aguardam na lista por um rim na região.
Campanha permanente
Na semana alusiva ao Doador de Órgãos e Tecidos, o hospital reforçou sua campanha permanente de incentivo ao gesto de esperança e renovação da vida. Para que isso aconteça o Dr. Cassiano Crusius, coordenador da OPO 4, pede que as pessoas se sensibilizem com a causa. "Deve-se sempre manifestar à família o desejo de ser ou não doador, afinal o ato de doação após a morte só pode ser viabilizado com o consentimento dos parentes". A sociedade precisa ser parceira das organizações de saúde nesse trabalho de promoção da doação, permitindo que muitos brasileiros voltem a enxergar, recebam novos órgãos e saiam das máquinas de hemodiálise para terem uma vida mais longa e de qualidade. O Dr. Paulo Reichert, coordenador do serviço de transplante de fígado do HSVP, destaca que apenas um doador pode beneficiar entre 30 e 40 pessoas. "De um doador saudável pode-se aproveitar duas córneas, dois pulmões, coração, o fígado, dois rins, o pâncreas, ossos, tecidos e peles".
Processo seguro
É importante tranquilizar as famílias que o processo de doação de órgãos é extremamente seguro no país. A legislação brasileira é a mais rígida do mundo no que diz respeito ao atestado de morte encefálica. Em outros países basta um diagnóstico clínico, enquanto aqui são feitos dois exames específicos por especialistas que não estão ligados a nenhuma área de transplante. Além disso, a família do possível doador pode indicar um médico de sua confiança para acompanhar todo o procedimento. Hoje, na Comissão de Transplantes do HSVP também existe um serviço social e de psicologia que presta atendimento aos familiares e pacientes do pré e pós-transplantes hepáticos, renais e de córneas. A assistente social Franciele Gehlen lembra que a informação é a maior aliada dos profissionais durante as abordagens. “A gente explica que é um pedacinho do ente querido que vai dar a oportunidade para que outras pessoas possam estar seguindo com suas vidas. Por isso, reforçamos sempre que a vontade de ser doador de órgãos precisa ser dividida com quem amamos”.
Uma nova vida aos 41 anos
Há quatro meses, Ricardo Portolan, de 41 anos, ganhou uma nova chance de vida após um transplante de fígado. O técnico de informática é apenas uma das centenas de pessoas que já receberam um transplante de órgãos no Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo. “O meu grau era considerado fulminante, por isso tive o privilégio de ser um dos primeiros da lista para receber o órgão. Agora, graças ao meu doador, posso ver nos olhos dos meus familiares a alegria de me terem novamente.” Neste sentido, emocionado, o transplantado reforça o apelo para que mais pessoas se somem à campanha permanente do Hospital. “Realmente, a doação de órgãos muda vidas. Obrigado, de coração ao meu doador. Graças a ele, estou aqui”.