DIA DO MÉDICO - “O médico continua sendo aquele ser humano que cuida de outro ser humano”

Novas práticas na Medicina após a pandemia devem gerar estreitamento de relações entre médicos e pacientes

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Crise sanitária investe com força para mudar paradigmas e acelerar a busca por soluções e respostas (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)Crise sanitária investe com força para mudar paradigmas e acelerar a busca por soluções e respostas (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Crise sanitária investe com força para mudar paradigmas e acelerar a busca por soluções e respostas (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
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Na ciência das verdades provisórias, uma crise sanitária investe com força para mudar paradigmas e acelerar a busca por soluções e respostas para questionamentos que partem da própria comunidade científica e da sociedade. Alguns debates, antes restritos às cátedras universitárias, vazaram para as ruas e telas durante a pandemia do coronavírus e instigam, agora, os profissionais a repensarem a prática da Medicina. 

Essa democratização do conhecimento médico, forjado através de séculos de progressão no campo de estudo, também deve mudar a maneira como os próprios pacientes entendem a saúde. “Um outro lado que a pandemia trouxe que não envolve tecnologia, mas uma relação de autonomia entre dois indivíduos, que são os médicos e pacientes, é o poder de participar dessa tomada de decisões, dele ser um agente de escolha”, observa o diretor técnico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HCPF), Juarez Dal Vesco. “A partir de agora, os médicos devem dividir com o seu paciente as diversas possibilidades diagnósticas e terapêuticas e acho que isso traz um avanço para todos porque o paciente, exceto em casos emergenciais, começa a ganhar um espaço para discutir com o seu médico as diversas alternativas”, complementa Dal Vesco. 


Medicina virtual

Indo além de horizontalizar algumas tomadas de decisão, o médico destaca o aprimoramento e a aceleração na implementação da telemedicina como suporte para os profissionais. “Eu tenho um conceito de que a Medicina, como ciência, se transformou ao longo do tempo conforme os conhecimentos mudaram, mas o médico em si, a figura de quem exerce a Medicina, é a mesma. O médico continua sendo aquele ser humano que cuida de outro ser humano”, enfatizou. “A telemedicina vai inevitavelmente acontecer. O que teremos de ter é muito bom senso para saber em que momento do atendimento é viável porque tem atos que são extremamente presenciais”, pontuou o diretor técnico do HC. “Essa virtualidade me tira um pouco daquilo que a Medicina exige, que é a relação entre dois seres humanos e a percepção que o médico deve ter do outro indivíduo porque somos treinados para conhecer gente antes de conhecer as doenças”, ponderou Dal Vesco. 

As conversões, no entanto, não ficarão restritas aos consultórios e hospitais. O ensino da profissão, destaca a professora de Medicina da IMED, Ornella Sari Cassol, igualmente respondeu por uma expansão durante a crise sanitária iniciada em 2020. “Óbvio que algumas coisas não substituem o presencial, como a troca de experiências, mas o acesso aos locais mais distantes foi facilitado pelas reuniões virtuais e conseguiu levar a atualização a fronteiras muito mais distantes”, considerou. “No momento em que não se sabia como esse vírus iria se comportar, e até hoje muita coisa ainda não foi respondida, todos os médicos e profissionais da saúde precisam parar, pensar e se posicionar porque esses profissionais precisam manter o atendimento. Então, envolve toda aquela questão de manter o controle emocional nosso e dos nossos pacientes”, relatou a docente que corroborou, ainda, com a análise de Dal Vesco sobre a Medicina virtual. “O médico, através dessas plataformas, consegue dar continuidade e diminui a vinda do paciente às localidades. Foi um acesso que se consolidou mais e, em algumas situações, facilita”, salientou Ornella. 

Dentro dessa relação tecnológica aludida por ambos profissionais, a cirurgia robótica é elencada como outro avanço na área médica nos últimos anos. Conforme explicou o diretor técnico do HC, ela permite operar um paciente sem tocá-lo ou estar em contato com o corpo. Ainda assim, Dal Vesco volta à telemedicina para mencionar algumas limitações que as consultas virtuais trazem às práticas clínicas. “O médico tem que ter a compreensão da fisiologia normal e da fisiologia patológica, só que tudo isso aplicado em um determinado ser humano. Então, eu, como médico, preciso conhecer tudo de uma doença, mas preciso antes conhecer tudo daquele ser humano que tem aquela doença, e para conhecer o ser humano é importante a relação presencial. As expressões, a subjetividade das queixas, a percepção que o próprio paciente tem em relação ao próprio estado doentio é uma coisa muito presencial”, frisou. 


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