As Emergências hospitalares são conhecidas pela sua intensidade, urgência e rotinas agitadas. Por elas passam os casos de trauma, ataques cardíacos e até infecções, entre tantas outras enfermidades. Foram esses elementos que levaram a médica Josiane Diehl Moia, desde a sua formação, para esse setor. Hoje, ela é a responsável técnica pela emergência e pelo núcleo interno de regulação (NIR) do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo.
“O que eu sinto que me move é a questão da emergência ser uma medicina muito viva e muito abrangente. Tudo que tem na medicina e a gente estuda, chega ali. Então é isso que me desperta, e essa questão de estar muito próximo daquela emoção, do paciente que chega grave e tu consegue recuperar, essa emoção de poder ajudar realmente aquela vida, o que é às vezes em questão de minutos”, conta a médica.
Formada em 2010 pela Universidade de Passo Fundo, já no segundo ano da faculdade, Josiane começou a atuar em Emergências. Desde então, fez cursos e especializações, inclusive uma no Hospital Albert Einstein de São Paulo. Ao longo do tempo, o próprio papel das emergências mudou, com as unidades básicas de saúde concentrando as consultas. “Isso veio evoluindo bem, uma vez era misturado, chegava o paciente grave e tinham muitos outros que ficavam aguardando, havia a lotação, as filas de espera eram muito grandes, hoje mudou esse perfil. A parte da assistência básica está melhor, então o hospital fica para o caso de alta complexidade e o HSVP é uma referência. A gente recebe casos realmente muito graves, não só de Passo Fundo, como de toda a região, e às vezes de fora da nossa coordenadoria de saúde, porque é uma referência nas especialidades”, explica.
A vida no limite
Em um local onde a vida e a morte são definidas em minutos, é difícil afastar o lado emocional, até para quem tem anos de experiência. Para a médica, entre os casos que mais marcam estão os acidentes graves, casos de crianças e jovens, ou de pessoas até então saudáveis que chegam e não se recuperam. “A emergência vive muito nesse limite. São minutos. Dentro daqueles minutos iniciais, de cinco a dez, às vezes, se não consegue recuperar o desfecho é ruim. É o que mais mexe, o que mais nos comovem, quando é um caso grave”, relata Josiane.
Covid-19
Mesmo com a experiência e a rotina de emergência, a chegada de uma pandemia ainda foi um susto pela novidade e pelo desconhecimento sobre a doença e o vírus. “Pela questão do contágio, a gente teve que se organizar, criar estruturas, espaços e equipes diferentes. Sempre com aquela expectativa do que iria acontecer, porque era uma doença desconhecida, e que a todo momento tinha uma novidade, infelizmente não eram novidades boas”, lembra a médica.
O hospital estruturou duas emergências e duas equipes, uma para os pacientes com sintomas gripais e outra para as demais enfermidades. “Foi muito difícil, foi algo que nos tirou do nosso contexto e nos exigiu muito trabalho. A gente virava dia, virava noite e era só Covid, pensava Covid, vivia Covid, e não queria respirar Covid, porque era direto”, conta Josiane sobre os momentos mais intensos da pandemia.
Um dos problemas encontrados pelas equipes eram os pacientes que já chegavam em situação muito grave. O medo de ir para o hospital e a evolução rápida da doença tornavam o trabalho ainda mais intenso. “Para a população também era novidade e eles não sabiam, muitas vezes, em que momento procurar atendimento. Então, quando chegavam na situação de vir para a emergência, já estavam muito graves, às vezes ia para a CTI e logo depois vinha a óbito. Ou então, chegavam em um estado que inspirava muitos cuidados, mas que a evolução da doença era rápida. Depois que já estavam internados, às vezes em um ou dois dias, pioravam muito e o desfecho era desfavorável”.
A pandemia também marcou a profissional como um período de medo e exaustão. “Era tudo novo e tinha muitas mortes. A gente também tinha o receio da contaminação e o nosso medo era a questão de contaminar um familiar. E tem a exaustão, porque eram pacientes graves, muito complicados e chegamos em um limite da exaustão”, lembra a médica.
Alerta
O HSVP é uma referência regional e por isso, concentra casos e recebe pacientes de diversos municípios. Em diversas ocasiões, o hospital aciona o Alerta Vermelho e restringe a Emergência para apenas casos de urgência. “Quer dizer que estamos superlotados, afinal lotados a gente está meio que todo dia, mas o superlotado é aquele momento que então a gente pede “por favor” para que a população não venha, que a gente está recebendo só ambulância e pacientes graves”, explica a responsável técnica pelo setor.
A decisão é tomada quando a superlotação pode comprometer o atendimento dos pacientes que já se encontram no local, podendo tornar a parte técnica insuficiente. “É rápido e meio frequente, porque enche muito rápido e logo a gente, no máximo em dois dias, já consegue voltar ao normal”, esclarece Josiane.
Futuro
Para a médica, o futuro na profissão é certo: seguir trabalhando em Emergências. “Ali tudo se intensifica e chega de tudo, chega desde a área cardiológica, pediátrica e ginecológica. Eu acho que isso me deixou sempre com a medicina viva no sentido do conhecimento”, afirma Josiane, certa de sua escolha e futuro.