DIA DO MÉDICO - Passo Fundo é referência em formação médica

Docentes apontam o município como um centro de excelência para a formação de novos médicos

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Com cursos de Medicina disponíveis em três instituições estima-se que o município forme cerca de 200 novos médicos por ano (Foto: Rawpixel)Com cursos de Medicina disponíveis em três instituições estima-se que o município forme cerca de 200 novos médicos por ano (Foto: Rawpixel)
Com cursos de Medicina disponíveis em três instituições estima-se que o município forme cerca de 200 novos médicos por ano (Foto: Rawpixel)
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Considerado o terceiro maior polo de saúde do Sul do Brasil e uma referência em educação para toda a região, Passo Fundo vem aliando a excelência de ambas as áreas ao se consolidar ainda como um centro de excelência para formação médica. Com cursos de Medicina disponíveis em três instituições — a Universidade de Passo Fundo (UPF), a IMED e a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) —, estima-se que o município forme cerca de 200 novos médicos por ano.

A complexa e tecnológica infraestrutura hospitalar existente na cidade, conforme avaliam os especialistas consultados pela reportagem de O Nacional, também é parte primordial para garantir a qualidade no ensino dos novos profissionais. Isto porque é em instituições como o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), o Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HCPF) e o Hospital Beneficente Dr. César Santos que esses estudantes têm a oportunidade de vivenciar o dia-a-dia hospitalar e exercitar os conhecimentos adquiridos em sala de aula antes mesmo de terminar a graduação.


Centro de atendimento e de formação

Para o coordenador do curso de Medicina da IMED, o cirurgião digestivo Lucas Duda Schmitz, o fato de a qualidade acadêmica e a qualidade prática andarem lado a lado é o motivo central pelo qual Passo Fundo se tornou uma referência para centenas de outros municípios, de onde vêm milhares de pacientes à procura de atendimento de média e alta complexidade todos os dias. “Passo Fundo sempre esteve um degrau acima em relação a outras cidades da região, no sentindo de infraestrutura, tecnologia e profissionais capacitados. Acredito que um dos maiores diferenciais da cidade é, justamente, o fato de termos um ensino médico. Isso ajudou muito a medicina se desenvolver e se tornar a medicina de ponta que temos hoje, porque é na faculdade que está o propulsor do conhecimento”, reflete.

O psiquiatra e coordenador do curso de Medicina da UFFS, Rogério Riffel, também destaca a importância da harmonia entre ambos os campos, uma vez que é no próprio município onde os estudantes têm o primeiro contato com o exercício da medicina. “Passo Fundo, como um centro médico, tem um espaço precioso para a formação médica. Nós somos reconhecidos pelas grandes estruturas hospitalares, a alta capacidade resolutiva em relação à tecnologia e a disponibilidade de especialidades. Fazer a graduação em um ambiente assim é muito importante”, observa.

Não à toa, o município leva o título de terceiro centro médico do Sul do país, ficando atrás apenas de Curitiba e Porto Alegre, como complementa o cirurgião e diretor da Faculdade de Medicina da UPF, Paulo Reichert. Ele ressalta uma gama de procedimentos que são feitos somente em Passo Fundo e especialidades que se destacam na cidade, como a cardiologia, traumotologia, neurologia, transplantes, oncologia, ortopedia, cirurgia vascular e dezenas de outras. Um contato tão próximo com áreas pioneiras na medicina de ponta não poderia ser mais importante em uma profissão que tem, cada vez mais, explorado suas subespecialidades, ainda que a graduação em medicina busque formar médicos generalistas para que saíam bem preparados e, na residência, possam escolher o caminho que desejam seguir.


Expansão das escolas médicas

Se há uma década — quando apenas uma instituição oferecia o curso de Medicina em Passo Fundo — o fato de existir de um ensino médico no município já era preponderante para alçá-lo a um patamar mais capacitado do que aquele ocupado por outros municípios da região, nos últimos anos, a qualidade do cenário tem recebido um ganho ainda maior com a expansão das escolas de Medicina. A opinião é do coordenador do curso na UFFS. “Antes tínhamos somente a UPF, mas que por si só já era extremamente bem estruturada e conceituada, com uma formação reconhecida em qualquer lugar. Então esse know-how que Passo Fundo já tinha como um centro formador só veio a complementar com a possibilidade de novas formações em outras escolas de Medicina. É uma proposta que não vem para dividir e sim para somar na formação e ampliar a possibilidade de alunos”, comenta Riffel, citando a própria vinda de uma universidade federal ao município como uma representação importante do processo de expansão na formação médica e, de certa forma, uma democratização no acesso ao ensino nessa área.


Desafios no mercado de trabalho

Apesar de contar com escolas médicas de alta qualidade e uma infraestrutura hospitalar conhecida em todo o sul do país, os novos médicos formados em Passo Fundo não estão imunes aos desafios enfrentados pela profissão em um cenário que evolui a todo o momento e que vem sendo desafiado por novas propostas de atuação. O próprio cenário de ampliação no número de profissionais formados a cada ano traz, junto a todos os aspectos positivos, um lado desafiador.

O cirurgião Paulo Reichert relata, por exemplo, um “exagero” de profissionais no mercado e, consequentemente, uma concorrência muito maior no campo médico. “Infelizmente, apesar do exagero, esses profissionais não estão bem distribuídos no território nacional. Há muita carência de médicos em diversos municípios, enquanto nos centros mais equipados há uma concentração exagerada. Vejo, pela frente, um desafio muito grande para o país de criar uma política nacional capaz de atrair esse grande número de profissionais que se forma anualmente para as cidades que mais precisam. Não só financeiramente, mas com condições razoáveis para exercer a medicina”.

A concorrência também exige que o profissional esteja cada vez mais preparado e constantemente atualizado. Como destaca Schmitz, não basta aos novos médicos saírem bem preparados para uma única situação. “É um mercado de trabalho que exige muito do profissional. Ele tem que sair bem informado tanto para atuar de maneira mais básica e generalista, quanto dentro de equipes mais complexas, com um entendimento um pouco mais especializado da medicina”.

A expectativa da própria sociedade em relação à atuação médica também parece ter mudado. Segundo o psiquiatra Rogério Riffel, além de estar mais atualizado, hoje, o médico precisa estar ainda mais inserido no contexto social da realidade regional onde ele atua, a fim de ter um desempenho mais efetivo. O lado bom, ainda de acordo com ele, é uma certa pressão benéfica, que motiva o profissional a buscar a prestação de um atendimento cada vez melhor. O outro é, justamente, uma pressão incessante em cima do profissional para que ele esteja constantemente atualizado em um mundo que nunca para.


Novas formas de atuação

A telemedicina, regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina durante a pandemia, é um exemplo de como a prática tem sido desafiada a se reinventar. O famoso olho no olho deixou de ser uma obrigatoriedade em parte dos atendimentos e deu lugar à possibilidade de realizar consultas por chamadas de vídeo. “Foi uma brecha que aconteceu e que mudou muita coisa, não só na atuação médica, mas também para os pacientes, que conseguem um retorno mais ágil. Facilitou muita coisa. É algo que não vai mais deixar de existir, mas é óbvio que precisamos ter cuidado e entender que isso não pode ser aplicado em todas as situações”, expõe o docente da IMED.

O que, antes, era um passo à frente em relação a outros espaços, agora é simplesmente uma necessidade. Acompanhar o avanço tecnológico é a única saída para não ficar para trás. Nas palavras de Schmitz, no caso de Passo Fundo, o degrau que separava o município das cidades ao redor já não é tão expressivo quanto era no passado, de forma que investir em tecnologia é uma necessidade cada vez mais latente para que o município possa manter a posição de referência na área da saúde — e, naturalmente, os novos médicos precisam estar preparados para acompanhar esse avanço.

“Passo Fundo ainda está à frente das outras cidades da região, mas não como antes. Antigamente, as instituições de saúde ao redor sentiam que tinha que se dar um salto muito grande para chegar ao nível de Passo Fundo. Hoje em dia, ao mesmo tempo que fomos oferecendo educação médica, nossos egressos começaram ocupar a região e levar qualidade para lá”, descreve Schmitz, enquanto o colega de profissão, Paulo Reichert, compartilha uma visão semelhante. Para ele, o cenário de concorrência cada vez maior para os médicos é, também, um cenário de concorrência cada vez maior para os centros médicos. “Para continuarmos na vanguarda, é preciso investir cada vez mais em conhecimento, tecnologia e formação avançada de profissionais”.


Formação médica em números

Inaugurado em 1970, o curso de Medicina da Universidade de Passo Fundo é o mais antigo dentre as três instituições que oferecem a graduação médica no município e já formou aproximadamente 2,4 mil médicos em cinco décadas de trabalho. Na UFFS, o curso foi inaugurado em 2013 e, até o momento, formou cerca de 140 alunos, distribuídos em quatro turmas. Já na Imed, onde o curso vem sendo lecionado desde 2015 e duas turmas já se graduaram, a instituição estima que tenha formado 75 médicos até o momento.


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