A pandemia de Covid-19 ajudou a conscientizar as pessoas para a importância da saúde pública, especialmente em um país continental e com realidades muitos distintas como é o Brasil. Nessa edição especial, o ON ouviu os relatos de três profissionais que atuam na saúde pública de Passo Fundo, com diferentes trajetórias mas com o mesmo objetivo: cuidar das pessoas.
Uma dessas histórias é do médico Ivo Oliveira de Souza, que na década de 1970 não sonhava em ser médico. Chegou a tentar outra profissão, mas o destino colocou a medicina e a saúde pública no seu caminho. Hoje ele lembra com alegria os quase 40 anos de profissão, mais da metade deste período trabalhando no CAIS da Vila Luiza. “Minha mãe achava que eu tinha jeito para médico. Acho que toda mãe tem esse desejo, mas eu não queria ser médico”, lembrou ele. O ingresso aconteceu em 1976 e a formatura aconteceu em 1982.
“Eu penso que o médico não tenha que ser necessariamente um sacerdócio. Eu acho que nós temos que fazer o que gostamos, mas também temos contas para pagar. Mas como médico nós aprendemos um nível de responsabilidade e compromisso social muito grande, pela formação acadêmica e pelo convívio com colegas. Não se pode levar em conta apenas a questão financeira”, destacou.
20 anos no Cais da Vila Luiza
Dos quase 40 anos de carreira, 20 deles foram dedicados ao trabalho no CAIS da Vila Luiza. Há dois anos, ele chegou a trabalhar por um curto período de tempo no CAIS da Vila Hípica, mas com a chega da pandemia, e por uma questão de proteção, o médico se afastou, e quando retornou às atividades, voltou para a Vila Luiza. O que é mais marcante para ele neste período de trabalho é o fato de saber que têm pessoas que cuida há duas décadas. “Tem pacientes que eu atendo há 20 anos, e que eu olho na ficha e fico lembrando. Eu acho que é sensação do dever cumprido, pois temos um dever social, quando melhoramos a dor e angustia de um paciente, nós cumprimos com a missão. Pois doença sempre é sofrido. Hoje atendo aproximadamente 15 pessoas todos os dias entre serviço público e consultório” complementa.
Formatura antecipada em razão da pandemia
A médica Carolina Scortegagna De Conti atende atualmente no CAIS Petrópolis. Uma realidade muito diferente dos outros CAIS da cidade, pois este local se tornou, há dois anos, o ponto de referência para quem estava com suspeita de contaminação por Covid-19 em Passo Fundo.
A jovem médica teve uma surpresa quando o seu curso universitário se encaminhava para a reta final, no ano de 2020, pois com a pandemia de Covid-19 se alastrando, foi necessário antecipar a formatura, situação que ela nunca pensou em vivenciar. “Foi um misto de sentimentos, já havíamos terminado toda a carga horária, incluindo os estágios optativos, e estávamos em um período em que só poderíamos aguardar até a data da formatura, que ocorreria em junho. Então ficamos ansiosos e felizes por poder começar a exercer a profissão, mas também chateados por não poder fazer uma comemoração com a família e amigos que tanto nos apoiaram na busca desse sonho. Nossa formatura ocorreu em sistema de gabinete em abril de 2020”, comentou a médica.
CAIS Petrópolis
Logo após se formar ela começou a trabalhar na cidade de Marau, mas em setembro de 2020, surgiu a oportunidade de atuar no CAIS Petrópolis. “No início foi um pouco assustador porque não tínhamos tanto conhecimento sobre o vírus, não tínhamos vacina e existia um medo ainda maior de contaminação. A procura por atendimento era muito grande. Lembro de ter dias em que eu esquecia de tomar água ou ir ao banheiro, pois os atendimentos se acumulavam cada vez mais e era um paciente atrás do outro. Foi, e continua sendo, um grande desafio ter que começar a vida profissional em um momento tão delicado, atendendo pacientes Covid graves, tentando encaminhamentos, buscando por vagas que nem sempre existiam nos hospitais”, lembrou ela.
Uma jovem profissional que cuida da família e da comunidade
A jovem médica Aline Suzin Silveira também é uma profissional formada em 2020, e que teve sua formatura antecipada por conta da pandemia. Atualmente trabalha na UBS Adirbal Corralo, onde atende pacientes de diferentes realidades.
Ter a formatura antecipada em 60 dias, mesmo sem ter prejuízos nas horas curriculares, foi algo bastante tenso para ela, especialmente porque ela estaria na linha de frente do combate à pandemia. “Reconheço que foi um período de tensão, muito diferente do que esperávamos que seria nossa conclusão de curso. Foi realizada uma cerimônia de gabinete, poucos alunos por vez. Minha família, que é de Caxias do Sul, não esteve presente, assim como os familiares de muitos colegas, pelo medo da contaminação. Muitos pais assistiram a formatura por uma live no Facebook, incluindo minha mãe”, lembra.
Começo na linha de frente da pandemia
Assim que se formou, ela começou a trabalhar atendendo Covid na região de Passo Fundo, em um momento em que se precisava muito de médicos e profissionais de saúde em geral, devido ao afastamento dos grupos de risco, daqueles profissionais que adoeciam. “Nos acostumamos com as máscaras apertadas, com os capotes de plástico, o uso obsessivo de álcool gel, a lidar com o medo e a insegurança dos pacientes. Fiquei meses sem visitar minha família, com medo de que pudesse transmitir o vírus. Não foi um período fácil, mas foi de muito crescimento”, lembrou.