Os mais de 16,9 milhões de pessoas diagnosticadas com diabetes fazem com que o Brasil seja o quinto país com maior incidência da doença no mundo, de acordo com o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF). Conviver com a doença exige mudanças que podem não ser fáceis. Mas, com a colaboração de uma rede de apoio, essa tarefa se torna até divertida. Esse é o objetivo do Acampamento da Criança com Diabetes, projeto de extensão da Universidade de Passo Fundo (UPF), desenvolvido em parceria com o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) e o Lions Clubs Internacional.
Seja a Diabetes Mellitus Tipo 1, causada pela destruição das células produtoras de insulina; Tipo 2, que pode ser desenvolvida em razão do sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e hábitos alimentares inadequados; ou gestacional, dada pela diminuição da tolerância à glicose, diagnosticada pela primeira vez na gestação, a doença é um dos males crônicos que, quando não tratados corretamente, deixam o caminho livre para complicações severas.
Mais comum em crianças, o Tipo 1 da doença é resultado da destruição das células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina, que é o hormônio responsável por transportar o açúcar para dentro das células e evitar que se acumule no sangue. Sem cura, ela necessita de tratamento correto, acompanhado de alimentação saudável, exercícios físicos e medicação.
Viver a infância em plenitude
Desde 2013, o Acampamento da Criança com Diabetes proporciona a crianças e jovens de seis a 12 anos encontrar uma forma diferente de enxergar a Diabetes Mellitus Tipo 1. O projeto, vinculado ao programa de extensão ComSaúde, busca por meio de vivências e experiências lúdicas, garantir que seus participantes possam viver a infância em sua plenitude, com segurança, saúde e alegria.
Médico endocrinologista, professor da Faculdade de Medicina (FM/UPF) e coordenador do Acampamento, Me. Thiago Fritzen, aponta que o projeto é fundamental para auxiliar o público-alvo a entender quão importante são estes cuidados. “É uma doença que vai repercutir na vida inteira deles. Com essa rede de apoio, aprende-se mutuamente, assim como os pais que estão iniciando nessa jornada e podem contar com auxílio daqueles que já lidam com ela há mais tempo. Vemos diferença também na postura das crianças, que se preocupam com o exemplo que darão para as mais novas, que estão iniciando. O Acampamento criou ramificações que a gente nem pensaria que poderiam existir”, aponta.
Partilha de conhecimentos
A partilha de conhecimentos é um dos benefícios que o projeto proporciona à comunidade, além de auxiliar no combate à propagação de informações equivocadas. “Quando informações errôneas se propagam, elas são puramente resultado de desconhecimento. Falar que quem tem a doença não pode comer doce ou que ela é transmissível, são falácias. Nosso papel como educadores e Instituição é levar esses saberes para o maior número possível de pessoas”, ressalta o professor.
Aos 36 anos, Fritzen convive com a doença há 22. Por conhecer bem o dia a dia da vida com esse diagnóstico, o médico encontrou no Acampamento uma forma de compartilhar as suas experiências e desmistificar a diabetes. “O acampar é só a cereja do bolo. Nosso grande diferencial é a interdisciplinaridade do nosso projeto. São cerca de dez cursos da área da saúde, comunicação, artes, engenharias, e muitos outros, porque quanto mais o paciente for visto, melhor será o controle da sua doença. Os acadêmicos vivem a diabetes, veem que não é assustadora, as crianças correm, brincam, caem, têm uma vida normal”, conta Fritzen, que já participou como estudante extensionista e professor auxiliar do projeto.
Amor pela extensão
É assim que Ana Khatarina vê essa experiência. Acadêmica do VI nível de Medicina, ela se apaixonou pelo projeto ainda antes de entrar na faculdade. Passo-fundense, acompanhou o desenvolvimento de várias edições do Acampamento, colaborando com barracas e doações. Depois de assistir por anos pela televisão, Ana pode realizar o sonho de participar ativamente dele como extensionista. “Amo o contato com a comunidade e a forma que o Acampamento o faz. Ele muda realidades e podemos ver isso. Convivemos com crianças, conhecemos suas rotinas, fazemos a diferença. Já fui voluntária e agora sou bolsista, e posso dizer que aprendi muito sobre organização de eventos, mas muito mais sobre empatia”, aponta Ana.
Segundo Ana, os ensinamentos sobre a doença dados pelo projeto são mais do que acadêmicos. Além de conceitos técnicos e teóricos, durante a extensão os estudantes podem experienciar o lado humanístico dado pela relação com o paciente. “Vemos crianças que no primeiro dia não aplicavam insulina sozinhas, aplicarem no quinto. A diabetes é diferente para cada criança e família, e isso muda a forma como elas interpretam. Mas, como elas contam, participar do Acampamento é recarregar as energias até o próximo ano e saber que existem mais pessoas como elas, que não estão sozinhas”, finaliza.
Programação especial
Em virtude da pandemia, o projeto realiza atividades e encontros on-line desde 2020. Neste ano, ocorrerá uma Feira de Saúde no domingo, 14/11. A atividade será realizada na Praça da Gare em Passo Fundo, a partir das 15h30, e, além da UPF, conta com apoio do Hospital São Vicente de Paulo e do Lions Clubs Internacional.