“A ideia de trazer tecnologia para a medicina é torná-la mais humana do que ela é com pouca ou sem tecnologia”. A afirmação dita pelo médico Francisco Madalosso de Bittencourt marcou o último dia de atividades da XXX Semana Acadêmica da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo (FM/UPF). A palestra “Medicina Digital: médicos e máquinas juntos”, realizada nesta sexta-feira, 3 de dezembro, integrou a programação do evento, que foi norteado pelo tema central “A academia médica sob a luz da ciência”.
De acordo com Madalosso, que também integra o quadro de docentes da Universidade, a Medicina é, atualmente, uma das profissões que mais sofrem atraso no desenvolvimento tecnológico, porém, a pandemia acelerou muito a necessidade de “informatização” da área. “A profissão do médico é nobre ao ponto de você tratar alguém que vai te entregar a vida. Essa relação de confiança é muito forte e talvez por essa relação é que o médico, de uma maneira geral, é muito mais receoso nas tecnologias”, afirma o professor.
Ele citou algumas tecnologias que estão vindo para facilitar o dia a dia de trabalho dos médicos, como inteligência artificial, telemedicina, internet das coisas, robótica, impressão 3D, realidade virtual e realidade aumentada. “Independentemente da tecnologia, é preciso ressaltar que elas não estão vindo para substituir os médicos e a Medicina. Elas estão vindo para nos auxiliar. Por isso, a importância do médico precisar estar sempre atualizado”, ressalta Madalosso.
Uma realidade próxima ou distante?
Estetoscópio com algoritmos, impressões 3D de medicamentos e órgãos. Essas foram somente algumas das possibilidades já existentes citadas pelo palestrante como exemplos de digitalização da medicina. Segundo ele, o Rio Grande do Sul já possui grandes centros de formação de startups, em cidades como Porto Alegre e, no interior do estado, em Passo Fundo, com o Parque Científico e Tecnológico da UPF (UPF Parque). “Tenho visto grande capital privado nestes centros para investir nesse desenvolvimento e estamos crescendo. No Brasil não há um estímulo à pesquisa e ao ensino e isso trava muito os processos. Outro ponto que inviabiliza é quando depende de importação de tecnologia. Então acho que vamos avançar de forma um pouco mais lenta, mas, de modo geral, estamos indo bem”, observa o médico, especialista em cirurgia plástica e geral.
De acordo com o professor, a medicina digital não afeta a humanização do atendimento. Pelo contrário, tem a capacidade de melhorar. “Em uma teleconsulta, mesmo estando à distância, é possível haver uma humanização. Vários estudos dizem que prontuários médicos digitais já permitem que, enquanto a máquina faz a digitação, o médico consiga olhar nos olhos do paciente”, considera, exemplificando que não teria problemas em receber um laudo de uma biópsia ou raio-x vindo de um software, já que os algoritmos possuem uma capacidade maior de interpretação de imagens se comparada aos seres humanos.
Uma semana de imersão ao conhecimento
Ao longo de toda a semana, de 29 de novembro a 3 de dezembro, mais de 300 acadêmicos de Medicina acompanharam as atividades da XXX Semana Acadêmica da Faculdade de Medicina da UPF.
A programação contou com a palestra sobre “Investimentos na área da saúde”, com o empresário Pedro Brair e com debates que abordaram temas que fazem parte do dia a dia da profissão, como “Reanimação cardiopulmonar em pediatria”, “Médico Gestor, “Dermatologia e Mapeamento Corporal”, “Vacinas para Covid-19”, entre outros.
Minicursos também fizeram parte das atividades da Semana Acadêmica. Entre as temáticas estiveram “Exame físico osteomuscular”, “Aspectos e tendências em cirurgia cardiovascular”, “Raciocínio clínico” e “Interpretação de hemograma”.