A alta no número de novas contaminações pelo coronavírus tem trazido de volta para o centro das atenções discussões sobre a necessidade de retomada das medidas de enfrentamento à pandemia que, até então, vinham sendo flexibilizadas. O boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde mostra que, em Passo Fundo, o total de casos ativos da doença passou de 19, no dia 21 de dezembro de 2021, para 680, no dia 9 de janeiro deste ano — um crescimento de mais de 3.500% em apenas 20 dias. O resultado é o aumento na procura por atendimento nas unidades de referência do município e um cenário propício para o surgimento de novas cepas do vírus, segundo especialistas.
Para o médico sanitarista e mestre em epidemiologia Luiz Artur Rosa Filho, a explosão de novos casos não pode ser atribuída a uma única causa e, sim, a um conjunto de fatores relacionado à chegada de novas variantes, à flexibilização nas medidas de distanciamento e ao comportamento da população. “As novas variantes, por exemplo, fazem com que pessoas que já tiveram Covid anteriormente possam ter a doença de novo. Vale lembrar também que a variante Ômicron tem um período de incubação menor, portanto, os sintomas aparecem mais agudamente e mais precocemente. Então já devemos ter aí parte desses casos relacionados ao Natal e Ano Novo. Foram dois feriados extensos em que muita gente viajou para a praia e pode ter se contaminado nessas festividades. É um fenômeno que não é exclusivo de Passo Fundo, é no Brasil todo”, pondera.
O especialista destaca também que, embora o número de hospitalizações tenha se mantido em patamar similar ao de quando o município apresentava uma média de 30 casos ativos de coronavírus, o ritmo acelerado com que as contaminações vêm acontecendo não pode ser ignorado. “Graças à vacinação, temos observado poucos casos graves, que demandam hospitalizações. Mas é preciso lembrar que, quando temos muitos casos, aumentam as chances de novas variantes. E, assim como a Ômicron é menos grave do que as outras, podem surgir variantes que sejam mais graves. Então, mesmo que o número de casos seja o menos importante dos indicadores, ele ainda nos diz que continuamos muito longe do controle da doença. Da mesma maneira que tivemos uma variante amazônica quando estávamos com excessos de casos naquela região, poderemos ter uma nova variante surgindo no país a partir desse novo excesso”, observa. Ele também alerta que, apesar de os casos graves serem raros em um cenário de alta cobertura vacinal, eles ainda são passíveis de acontecer.
“A nossa melhor medida é ampliar a vacinação”
Os últimos levantamentos epidemiológicos realizados pela Secretaria Municipal de Saúde apontam para uma aceleração no contágio pelo vírus. Nos últimos cinco dias, por exemplo, o total de casos ativos saltou diariamente de 175 para 205, 402, 594 e 680, respectivamente. No entanto, o epidemiologista Luiz Artur considera imprevisível calcular, no momento, qual patamar o município poderá atingir até o fim de janeiro. “A resposta depende de qual resposta nós daremos”, explica, referindo-se à adoção ou não de medidas mais restritivas.
O médico cita a inclusão de crianças de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO), autorizada na última semana pelo Ministério da Saúde, como uma das medidas que podem ajudar a conter o avanço da pandemia. “É um grupo populacional importante. Em Passo Fundo, deve significar em torno de cinco mil crianças, e é bastante importante que elas sejam vacinadas para que tenhamos mais gente com anticorpos tentando enfrentar o vírus. Mas quanto ao resto, vamos voltar atrás nas deliberações? Vamos começar a promover novamente o fechamento do que é possível? Se fizermos isso, o resultado será maior. Se não fizermos, a tendência é de que a gente deixe o vírus circulando como ele se encontra”, considera.
Luiz Artur acrescenta que, apesar da possibilidade de aumento no número de pessoas contaminadas sem a retomada de medidas mais duras, ele acredita que o município não deverá passar da casa de mil casos ativos, a exemplo de outros momentos da pandemia, e ressalta a importância da vacina. “A nossa melhor medida é ampliar a vacinação. Para crianças de 5 a 11 anos e, se possível, mais. Nós temos vacinas sendo estudadas para populações menores ainda. Saiu um estudo mostrando, por exemplo, que a Covid provoca 20 vezes mais lesões cardíacas do que a vacina, portanto, a imunização é muito benéfica para que a gente possa enfrentar esses novos cenários. Precisamos seguir vacinando e nos cuidando. Nós não vamos poder tirar as máscaras por um bom tempo e temos que requestionar a necessidade das nossas viagens de férias, porque a situação no litoral, na serra e nas grandes cidades brasileiras está realmente complicada”, finaliza.