Mudanças nos rótulos das embalagens devem facilitar a escolha por produtos mais saudáveis

Endocrinologista afirma que a padronização de informações irá facilitar a comparação entre os alimentos, sendo uma importante ferramenta para escolhas mais conscientes

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Foto: Rosângela Borges/ONFoto: Rosângela Borges/ON
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Desde o início desta semana uma nova legislação sobre as informações nutricionais nos rótulos de alimentos entrou em vigor. A mudança tem como objetivo facilitar o conhecimento dos consumidores sobre a quantidade de ingredientes como açúcares, gorduras e sódio, ligados diretamente às doenças como diabetes e hipertensão. 

A mudança era uma demanda buscada por entidades do setor há pelos menos 8 anos. Em 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anivsa, aprovou o novo modelo de rotulagem nutricional frontal, mas somente no último domingo (09), a legislação entrou em vigor. 

Entre as mudanças, a inclusão de mais informações nas embalagens e a padronização da cor da tabela nutricional, que passa a ter letras pretas e o fundo branco. Outra modificação será a inserção de um símbolo de lupa na parte superior frontal do rótulo quando aquele produto contiver uma quantidade de açúcares adicionados, gorduras saturadas ou sódio acima da recomendada pela Anvisa. 

A tabela nutricional deve trazer a declaração de açúcares totais e adicionados, do valor energético e de nutrientes por 100 gramas ou 100 mililitros, a fim de ajudar na comparação dos produtos. Também será necessário informar o número de porções por embalagem.

Para produtos com prazo de validade mais longo, a data final para adequação pode variar entre 2023, 2024 ou 2025. 


Padronização

O endocrinologista, professor da Escola de Medicina da UPF, Tiago Malaquias Fritzen, afirma que as novas regras são extremamente importantes na hora da escolha dos alimentos e que a padronização dos rótulos minimiza a confusão na hora da escolha. “Se notarmos a gama de produtos alimentícios que existem, há várias formas de layouts e cores os tornando mais atrativos para a venda, o que é extremamente perigoso quando utilizado na tabela nutricional. O objetivo neste caso não é informar, mas fazer com que a população compre o produto. Quando se tem a obrigatoriedade de padronizar os rótulos, temos uma informação clara e o consumidor mais orientado, que se preocupa com a saúde, tem a opção de buscar informações de forma mais facilitada e verdadeira. Essa transição traz uma vantagem muito grande, permitindo que as pessoas possam comparar os produtos que vão consumir, fazendo com que haja escolhas melhores na compra de produtos industrializados especialmente”. 

De acordo com o médico, as empresas têm o foco na venda e as informações acabam sendo suprimidas ou minimizadas através de recursos que utilizam nos rótulos. “Quando você tem uma legislação que obriga a empresa que produz a colocar claramente o teor de determinação grupo de ingrediente de modo destacado, como sal e açúcar, diretamente ligados com diabetes e hipertensão, isso é muito salutar. Em questão de ser esclarecedor e eficaz é um processo, dificilmente se consegue ter todas as modificações com apenas uma ação, mas sem dúvida é um início bastante importante para que possamos avançar na legislação e para que haja cada vez mais transparência sobre os ingredientes que os alimentos contem”. 

Tiago Malaquias Fritzen, endocrinologista e professor da Escola de Medicina da UPF. (Foto: Divulgação)


Em relação à inserção de um símbolo de lupa na parte superior frontal do rótulo quando aquele produto contiver uma quantidade de açúcares adicionados, gorduras saturadas ou sódio, o médico afirma que é uma alteração simples, mas bastante útil, porque umas das formas que a indústrias utiliza é usar frações na tabela nutricional para aparecer que tem menos ingredientes danosos. “Um pão de 50 gramas (duas fatias em média), tem 20g de determinado carboidrato, mas algumas empresas optam por diminuir o peso do alimento. Ao invés de botar 50g de pão, eles colocam 30g e isso faz com que a quantidade de açúcares e gorduras reduza proporcionalmente, dando a falsa impressão de que aquele pão tem menos açúcar. Então a ideia de tabelar tudo em 100g ou 100ml faz com que todos os alimentos tenham a mesma proporção e faz com que possamos comparar os alimentos e optarmos pelo mais saudável. Isso vai facilitar a interpretação dos consumidores em relação aos alimentos que ingerem”, explica Tiago.

Para o endocrinologista, qualquer avanço que traga conhecimento para o público e que permita decisões mais assertivas é válido. “Sabemos que em se tratando de grandes indústrias a pressão externa é grande, então as modificações são lentas, mas devem continuar. Qualquer evolução no sentido de trazer mais transparência ao consumidor é útil”.

Nas redes sociais e site do Idec - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, há dicas sobre como entender os rótulos dos alimentos e especialmente a questão nutricional que estará mais clara com a mudança. As embalagens de alimentos irão mudar e facilitar o conhecimento dos consumidores sobre quais produtos têm ingredientes nocivos à saúde e com informações mais completas a população terá mais ferramentas para fazer escolhas conscientes. 


Obesidade 

De acordo com uma pesquisa realizada pela Federação Mundial da Obesidade, o Brasil deve ter quase 30% de adultos obesos em 2030. O dado alerta para o tipo de alimentos que a população consume e sobre a necessidade de sabermos as informações nutricionais e ingredientes contidos nesses produtos. 


Produtos fabricados a partir de agora precisam estar adequados à norma vigente. Os demais terão prazos de adequação. 

- até 09 de outubro de 2023 para os alimentos em geral;

- até 09 de outubro de 2024 para os alimentos fabricados por agricultor familiar ou empreendedor familiar rural, empreendimento econômico solidário, microempreendedor individual, agroindústria de pequeno porte, agroindústria artesanal e alimentos produzidos de forma artesanal;

- até 09 de outubro de 2025 para as bebidas não alcoólicas em embalagens retornáveis, observando o processo gradual de substituição dos rótulos.

Saiba mais sobre os rótulos dos alimentos: https://idec.org.br/de-olho-nos-rotulos


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