Quanto amor cabe em uma mãe? Para Anália Maria da Silva, 38 anos, educadora física, natural de João Pinheiro em Minas Gerais, a quarta gravidez chegou em um momento difícil e de luta pela vida. Paciente do Instituto do Câncer do Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo, a maternidade veio acompanhada pelo diagnóstico da doença. Mas foi o novo bebê quem lhe trouxe a força necessária para enfrentar a biópsia, cirurgias e sessões de quimioterapia.
A oncologista Patrícia Pacheco, que acompanha o caso, explica que o começo do tratamento foi bastante delicado. “A Anália chegou na Emergência com falta de ar e foi encaminhada direto para a UTI. Ela estava no final do primeiro trimestre de gravidez com um nódulo ainda sob investigação. Os exames constataram que, além de problemas na mama, também havia alterações no pulmão e ossos. Como a situação era muito grave, precisou ser entubada e passar por várias cirurgias. Aos poucos, a paciente foi melhorando e pode ir para o quarto para dar início a quimioterapia”, relata a médica.
Gravidez planejada
Apesar do medo, Anália nunca cogitou suspender a gestação. “A minha gravidez foi planejada, seria o primeiro filho do meu marido, e eu queria muito. Lembro que quando saí do coma tentei tocar a minha barriga, mas não conseguia. Sou muito católica, pedi a Nossa Senhora Aparecida que deixasse ele crescer e que a gravidez chegasse até o final. Confiei muito em Deus, por isso no fundo eu sabia que meu bebê estava bem. Nunca vou me esquecer do alívio que senti com o primeiro ultrassom acordada, após 22 dias em coma, em que pude ver que ele estava perfeito, foi uma vitória”, recorda emocionada.
Conforme a médica especialista, depois do susto do diagnóstico, a gestação e o tratamento transcorreram de forma relativamente tranquila, sempre com acompanhamento das equipes da oncologia e da obstetrícia. “O tratamento escolhido foi pensado para preservar a saúde do bebê e frear o desenvolvimento da doença. Mas acredito que não foi só a medicina que garantiu o final feliz para mãe e filho. Vejo que a garra e a fé da Anália, mesmo diante de um quadro super grave, foram grandes responsáveis pelo nascimento do Ravi. Ela nunca desistiu do filho”, lembra a Dra. Patrícia.
Nascimento de Ravi Felipe
A história de Anália prova que enquanto houver vida há esperança. Neste caso, duas almas que uniram forças para sobreviver. Ravi Felipe nasceu, de parto natural, em 15 fevereiro de 2023, saudável, às 19h15, com 2 kg 750g e 47 centímetros. Por isso, não há dúvidas de que uma mãe carrega no peito todo o amor necessário para enfrentar qualquer adversidade por um filho. “Eu nunca tinha ouvido falar que uma gestante poderia fazer quimioterapia e durante os nove meses foram seis sessões. Ravi me deu a força que eu precisava para viver, sem ele eu não estaria aqui hoje. Eu amo muito os meus outros filhos, tenho mais três, mas naquele momento de vulnerabilidade foi o bebê quem me salvou. Ravi era a sementinha que eu precisava para me manter forte”.
Hoje, a paciente se divide entre Passo Fundo e General Câmara para dar sequência ao tratamento. Como combustível ela conta ainda com o amor dos filhos, Isabelli, 21 anos, Enzo, 15, e Yasmin, 7, e do marido Luiz Felipe. Ao lado dela também existe uma equipe multidisciplinar que lhe dá um suporte importante na luta contra o câncer. “Tenho uma rede de apoio muito grande com meus filhos e pais em Minas, os amigos Saionara e Fábio, minha sogra Glades e os profissionais que cuidam de mim. Eu digo que aqui no hospital encontrei uma segunda família e o melhor tratamento oncológico que poderia receber. Infelizmente, não consigo lembrar todos os nomes, mas quero agradecer a dedicação de cada um que esteve comigo nesta caminhada. Obrigada a Dra. Patrícia Pacheco, Dra. Dariane Alberti, Dra. Caroline Klock, Dra. Natália Luvison e ao Dr. Rafael Cadore por todo carinho. O fato é que me sinto acolhida no Hospital São Vicente de Paulo e não tenho mais medo do futuro”.
Exemplo de superação
Neste momento, deve existir outras mulheres passando por algum problema de saúde no período gestacional. Pensando nisso, no Dia Das Mães, Anália deixa uma mensagem carinhosa para essas guerreiras: “de mãe para mães, peço que não desanimem e que tenham fé. Não é fácil, nem todos os dias são flores e nem sempre acordamos sorrindo. Desistir é uma palavra que não passa pela minha cabeça, como paciente oncológica e como mãe. Chorem quando tiverem que chorar e sempre agradeçam por suas vidas. A maternidade é amar alguém incondicionalmente, por isso viveria tudo de novo só para ter o Ravi em meus braços e poder reunir a minha família. Sei que ainda não acabou, mas não será o câncer que vai me derrotar. O amor que tenho pelos meus filhos e a vontade de vê-los crescer é mais forte que tudo”, finalizou.