Às vezes a vida se torna pesada, as diferentes visões de mundo, os relacionamentos na família, no trabalho, a solidão, a tristeza que bate e a vontade de pôr fim em tudo. São diferentes sentimentos que fazem com que uma pessoa possa perder o “brilho” na vida. A notícia da morte da jogadora de voleibol Waleska surpreendeu a todos com a possibilidade de que a causa da morte tenha sido suicídio, porém as investigações da Polícia Civil devem apuar as reais causas do óbito. Contudo, a notícia é um alerta sobre a importância da saúde mental e da atuação na prevenção do suicídio.
Números
O suicídio é problema de saúde pública que impacta toda a sociedade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama - ou guerras e homicídios.
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.
Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.
As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres. No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).
Segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), em países da Europa, houve declínio nas taxas de suicídio e observou-se um aumento dessas taxas em países do Leste Asiático, América Central e América do Sul.
Um chamado para vida
Em Passo Fundo, está atuando há cerca de cinco anos um posto do CVV. De acordo com a coordenadora do CVV Passo Fundo, Simone Meredith Scheffer Basso, o posto do município conta com os voluntários para atendimento pela linha 188. “Em Passo Fundo além do atendimento, há também o serviço comunitário com outros voluntários com outro tipo de formação que atua por meio de palestras, rodas de conversa, apresentam filmes em escolas, empresas e na comunidade divulgando as ações do CVV e promovendo a preservação a vida”, disse.
De acordo com Simone, o posto físico do CVV, localizado no Hospital Municipal César Santos, está temporariamente fechado pelas reformas do hospital. Além disso, por causa da pandemia da Covid-19, os voluntários iniciaram atendimento em home-office, o que possibilitou a continuidade dos atendimentos. “Com a pandemia, os cerca de 3.5 mil voluntários de todo o Brasil passaram a atender remotamente de suas residências através de um aplicativo baixado dos computadores pessoais, sempre com o cuidado da manutenção do total sigilo durante e após as ligações. Em termos nacionais, foram quase 3,6 milhões de atendimentos em 2023, o que, no entanto, não supre a demanda: se tivéssemos 7 mil voluntários ainda não atenderíamos a demanda, que é muito grande”, comenta.
Os voluntários atendem, no mínimo, 4h por semana, sendo que, segundo Simone, o número de ligações varia. “Muitas vezes uma ligação dura mais de três horas, porque quem desliga nunca é o voluntário, sempre é a pessoa que está do outro lado. O voluntário respeita o tempo da pessoa e só vai ser procedido o desligamento quando a pessoa manifestar o desejo de desligar”, disse.
Acolhimento e apoio emocional
Simone conta que é comum o relato de solidão, da falta de ter alguém com quem desabafar, de não se sentir acolhido por familiares e amigos, atendendo também pessoas que estão com ideação suicida e com os mais diferentes dramas. “Mas também recebemos ligações de pessoas que manifestam gratidão ao CVV, outras que ligam para manifestar sua melhoria emocional, outras ligam como suporte adicional ao tratamento profissional, pois nosso serviço não é tratamento terapêutico, e não o substitui; nós somos treinados para escutar com empatia, para acolher alguém que está sofrendo, sem julgamento, nem perguntas invasivas, e partindo do princípio que nós não damos conselho: o CVV não é um serviço de aconselhamento. Nosso trabalho é estar ao lado da pessoa, respeitando-a e confiando na sua capacidade de encontrar solução para sua dor. Com o avançar da conversa, é comum a pessoa se dar conta de seus sentimentos, e, inclusive, de suas potencialidades. Acreditamos e confiamos na capacidade da pessoa em resolver seus problemas, desde que acolhidos, compreendidos, sem julgamento e críticas, mas sempre ouvidos com atenção.”
Para os voluntários do CVV, além do curso inicial de preparação para o voluntariado, há necessidade de contínuo aperfeiçoamento. Por isso, há oferecimento de cursos que estimulam o desenvolvimento da disponibilidade dos voluntários e do autoconhecimento, de forma a melhorar o atendimento de quem está necessitando apoio emocional. “A palavra solidão é das mais recorrentes, juntamente com pressão social, pressão do grupo, luta contra vícios, problemas familiares, bullying, entre outros, ou seja, o reflexo da nossa sociedade, que está agitada, imediatista, superficial nas relações, com anseio por ostentação, espetáculo, postagens, viralizações” finalizou.
Setembro Amarelo e o CVV
Desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), e apoio do CVV, realiza no Brasil a campanha Setembro Amarelo com o objetivo de trazer informações atualizadas sobre suicídio e conscientizar a sociedade e colaborar para a prevenção do suicídio no país. Neste ano o slogan da Campanha é: "Se precisar, peça ajuda". A campanha acontece durante todo o mês.
Ligue 188
A ligação é gratuita, e o serviço está disponível 24 horas por dia, em todos os dias do ano. Mais informações sobre o CVV em Passo Fundo: [email protected].