Em frente às poltronas e sofás, não faltam televisores com telas planas LED ou plasma em variados tamanhos e os mais incríveis recursos multimídias. E todos esses aparelhos têm imagens coloridas. TV em cores é uma obviedade, mas nem sempre foi assim. Por 22 anos, no Brasil a telinha era somente em preto e branco. Isso até 19 de fevereiro de 1972, portanto há 50 anos, quando ocorreu a primeira transmissão colorida na televisão brasileira. No auge da ditadura, o país estava sob o comando do general Médici. O ministro das comunicações era outro militar gaúcho, o caxiense Hygino Corsetti. Então, as cores na TV começaram em Caxias do Sul com a transmissão da Festa da Uva.
O impacto das uvas
Com imagens geradas pela TV Difusora de Porto Alegre, através de um pool de emissoras liderado pela Globo, espalharam cores pelo país. Mas poucos tiveram o privilégio de assistir em colorido, pois eram raros os aparelhos para tamanha modernidade. Além das tonalidades exuberantes dos carros alegóricos, ainda teve o primeiro jogo de futebol televisionado em cores, mostrando ao vivo o empate em 0 x 0 entre Caxias e Grêmio. Foi impactante. E, imediatamente, começou a corrida para compra de televisores em cores. Apenas alguns programas e raros anúncios eram coloridos. Mas a consolidação das cores na TV veio com a Copa de 1974, a primeira ao vivo e em cores, propiciando uma explosão na venda de televisores coloridos. E, aos poucos, os enormes tubos em preto e branco foram jogados na lata do lixo.
Chuvisco e videoteipe
Depois de alguns ensaios, somente em 18 de setembro de1950 começou a história da televisão brasileira, quando Assis Chateaubriand inaugurou a TV Tupi de São Paulo. Aliás, foi a primeira emissora da América do Sul. Incipiente, a televisão não tinha abrangência nacional, pois eram raros os receptores e poucas as retransmissoras. Pela simplicidade tecnológica e acessibilidade, o rádio tinha maior penetração. Aqui no interior, a TV era puro chuvisco e quando aparecia um vulto a gente comemorava. As casas ostentavam enormes antenas que, quando não quebravam, exigiam ajustes. Não havia transmissões via satélite e nem imaginávamos uma internet. Os programas eram gravados em videoteipe e enviados do Rio e São Paulo de avião para reprodução em outras capitais. Assim, aqui no Rio Grande do Sul, programas, novelas e mesmo noticiários assistíamos um dia ou uma semana depois. Isso, é claro, se não chovesse lá fora.
O tom cinza da Seleção
Sob a regência da opressão, o circo televisivo necessitava ampliar a sua abrangência. Foi assim com a integração pela conexão via satélite. A televisão deu um salto e invadiu os lares na Copa de 1970. Mas a camisa amarela de Pelé, Tostão e Jairzinho ainda era vista num tom de cinza. No mesmo ano, a Tupi inovou com um programa dominical via satélite pela Embratel, permitindo que Flávio Cavalcanti usasse o bordão ‘ao vivo para todo o Brasil’. Mas tudo isso em preto, branco, até que chegaram as cores e, então, era ‘ao vivo e a cores para todo o Brasil’. Após enjoativos dramalhões mexicanos, as novelas brasileiras mudaram muito com Beto Rockfeller, que foi ao ar pela Tupi em 1968. Mas o espectro deu cores às telenovelas brasileiras somente em 1973 com O Bem-Amado, na Globo. Depois disso, muita tecnologia rolou pela telinha. As antenas desapareceram dos telhados e vivemos o conforto da tecnologia digital. Maravilha. Mas não podemos nos esquecer daquela transmissão de 1972 em Caxias do Sul. E, com uma nostálgica pitada de bairrismo, lembrarmos que as uvas do Rio Grande do Sul espalharam as suas cores pelo país.