Passados 23 anos da formação da primeira turma de promotoras legais populares, Passo Fundo está recebendo o reforço de dez novas voluntárias, recém formadas pela organização A THEMIS - Gênero, Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre.
Integrante da primeira turma, Valda Maria Nunes Belitzke comemora o reforço das novas promotoras. “Estamos em pouquinhas, quando participei da 1ª edição, nós éramos 27 mulheres, depois, com o tempo, algumas foram seguindo, se mudando. Mas estamos fortalecendo o grupo com essas novas participantes que vão se formar, ficaremos com o total de 18 mulheres”, conta.
A notícia chega jutamente durante a Campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”. Promovida pelo Conselho Nacional de Justiça, a mobilização começou em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e segue com ações de reflexão e debate alertando mulheres e homens sobre o problema, que é de toda a sociedade.
O trabalho das promotoras legais é voluntário e consiste na escuta e acolhida das mulheres vítimas de violência. “Nesta semana, na quarta-feira, levamos as novas participantes para conhecer a Delegacia da Mulher, o Fórum na Vara especializada em violência contra a mulher, depois vamos ir conversar com a Semcas, responsável assistência social e saúde da mulher dentro da rede, vamos ir também na Defensoria Pública e na Promotoria. Temos também a Patrulha Maria da Penha, tudo isso faz parte e é importante para que elas conheçam os órgãos que são nossos parceiros no trabalho”, informou Valda.
Moradora do Bairro Integração, Tania Mara Duda, 61 anos, é uma das integrantes da nova turma. Segundo ela, o curso é realizado no formato híbrido.
“Temos aulas online e alguns encontros presenciais em Porto Alegre. O curso, deslocamento e até estadia é tudo gratuito. As aulas são com pessoas especializadas no tema como desembargadores, juízes, professores, que sabem e estudam a violência contra a mulher. Como promotoras populares não temos poder legal, mas sim de escuta e acolhimento para os órgãos oficiais”, explicou.
Prestes a concluir a formação, Tania já fala com propriedade sobre a matéria, alertando sobre o papel que a sociedade deve assumir diante do problema.
“A gente vive em uma sociedade patriarcal e isso já define uma relação de poder do homem sobre as mulheres. Mesmo a mulher que não se colocam como vítima, ela acaba sofrendo violência, porque tem a violência do salário desigual, da sobrecarga de trabalho, toda a mulher já nasce herdando o serviço de casa, isso também é uma violência. Sofremos violência psicológica que é uma das mais graves, porque ela vai habilitar para violência física".
Associação de Promotoras Legais Populares
A atuação das promotoras legais no município contribui para a reflexão sobre os variados cenários da violência de gênero contra meninas e mulheres. De acordo com Valda, as promotoras legais conseguiram criar a Associação em 2007 no município.
Valda conta que ingressou nessa luta por ver exemplos na família e na comunidade de mulheres sofrendo com o machismo e a violência. “Não interessa a classe social, a maioria dessas mulheres que sofrem é um ciclo tão vicioso que, às vezes, não se dão conta e não conseguem sair, mesmo tendo independência financeira, porque alguns casos, financeiramente elas são independentes, mas psicologicamente são dependentes desses companheiros”, diz.
Conforme Valda é preciso que toda a sociedade se una em prol da causa. “Temos que educar os filhos e os netos para que cuidem das mulheres, não que judiem das mulheres. As mulheres não querem ser odiadas, querem ser amadas.Passo Fundo fica sempre em 2º e 3º lugar no Estado com os números de violência contra mulher, além disso, tem muita violência velada, que a gente não fica sabendo, mas infelizmente é uma das cidades com mais violência doméstica”, pontua.
Exposição “Lar, doce lar?”
Iniciando as atividades dos 21 Dias de Ativismo, a Associação promoveu a exposição “Lar, doce lar?” no hall de entrada da Câmara de Vereadores de Passo Fundo. “A Exposição iniciou no dia 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra e encerrou na quarta-feira (22), onde simulamos uma casa, mostrando o sonho encantado da menina, depois a realidade e a superação. Então nessa casa mostramos as situações que a mulher passa até chegar na parte da violência”, explicou.
21 dias de ativismo
O movimento criado pelo CNJ, que busca sensibilizar a sociedade para o tema, sobretudo no Judiciário, se inspira na ação mundial denominada 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a mulher, que se iniciou em 1991, intitulada “as mariposas”, em homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, assassinadas, em 1960, na República Dominicana. Submetidas às mais diversas situações de violência e tortura, dentre elas, o estupro, as irmãs foram silenciadas pelo regime ditatorial de Rafael Trujillo, no dia 25 de novembro de 1960.
No dia 6 de dezembro - Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra Mulheres, as promotoras legais de Passo Fundo estarão distribuindo laços brancos e material informativo nas paradas de ônibus, convidando mulheres e homens a se integrarem nessa luta.
Toda a mulher já nasce herdando o serviço de casa, isso também é uma violência. Tania Mara Duda