Mais de 100 municípios já decretaram emergência em função da estiagem no Rio Grande do Sul. As condições variam muito de região para região. Isso ocorre em consequência da irregularidade das chuvas, não apenas em volume, mas também pelas ocorrências pontuais. “Estamos numa fase crítica que pode se agravar”. Assim, Oriberto Adami da Emater-RS, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, define o momento da estiagem na região. A avaliação é em relação aos 42 municípios de abrangência pela regional de Passo Fundo. Ressalta que “aqui ainda não é em nível tão severo como em outras áreas do Rio Grande do Sul”. O engenheiro agrônomo explica que a seca não tem uma ação generalizada e, assim como as chuvas ocasionais das últimas semanas, também tem efeitos distintos em cada área. “Aqui a preocupação começou em janeiro quando choveu pouco, enquanto na região de Santa Maria, por exemplo, o alerta começou ainda em dezembro”.
Milho
Dentre as culturas de verão, o milho representa um décimo da área plantada. “O milho do cedo não foi tão afetado, pois chegou a dezembro com o ciclo completo”, explicou. Também ressaltou que as perdas nas lavouras de milho variam muito de acordo com a localização, exatamente pela irregularidade das chuvas. “A região de Vila Maria, Marau e Casca foi bem afetada, enquanto o eixo da BR-285, entre Mato Castelhano e Caseiros foi menos afetado”. Se o milho do cedo, plantado lá por setembro não sofreu com a falta de chuvas, o milho do tarde, com produção bem menor e mais utilizado para silagem, foi mais prejudicado.
Soja
“A situação da soja se agravou nos últimos dias. Teve 20 a 25 dias sem precipitações. É claro que há situações bem distintas em consequência das chuvas irregulares. Chove aqui e no vizinho não chove”, exemplificou. Em avaliação geral, o agrônomo diz que a produção de soja teve perdas. “A chuva da quarta-feira (12) ajudou em parte, mas foi muito pouco, uns 5mm, enquanto esperávamos em torno de 60mm”. Houve locais onde a chuva foi mais generosa como em São Domingos, Casca e Muliterno. “Foram chuvas localizadas e em quantidades boas, o que amenizou um pouco a situação nesses locais”, disse, Adami.
Dois agravantes
Sobre as condições meteorológicas que judiam as lavouras, o superintendente da Emater enfatiza que “são dois agravantes: o calor extremo e pouca chuva. A soja está na fase de enchimento de grãos. Em outros locais a seca atingiu a floração, as flores caíram e a situação é mais grave”. As perdas na floração e no enchimento diminuem a quantidade e a qualidade dos grãos. “Isso vai refletir na produtividade. É temerário avaliar sobre perdas agora, quando a planta está verde e em ciclo de desenvolvimento”. Porém, ainda dependendo de novas chuvas, as perdas podem oscilar entre 25 e 30%. A variação dos percentuais é grande e, de lavoura para lavoura. “Mantendo-se assim (poucas chuvas) podem oscilar de 20 a até 50%”. Isso em consequência do déficit hídrico de janeiro. “Mas a fase que mais preocupa é a de agora. Se não normalizar a frequência das chuvas as perdas irão se ampliar, a cada dia vão aumentando e podem chegar a 50% ou mais”.
Produção de leite
As pastagens também sofrem com o calorão e a estiagem. “A temperatura é um problema para o bem-estar animal e há uma redução na faixa de 40% na produção de leite”, estima Oriberto. Na falta de pasto, os produtores recorrem à silagem. “Quem não tem silagem já sofre com a diminuição da produção, enquanto aqueles que usam a silagem agora terão problemas lá na frente”, diz, em relação ao uso antecipado da forragem que alimentaria os animais no inverno. Isso também pode significar dificuldades durante o ano para a bacia leiteira.
Dias decisivos
De acordo com a avaliação de Oriberto Adami, os próximos dias serão decisivos, especialmente para as lavouras de soja já em fim de ciclo. “A horticultura e a fruticultura também são prejudicadas por essas condições. A temperatura elevada e a baixa umidade exigem mais irrigação e os reservatórios estão baixando”. Reitera que “janeiro foi complicado, já estamos na metade de fevereiro e a fase é crítica e pode se agravar”. Para o agrônomo a esperança vem do céu, em forma de chuvas constantes, em bom volume e que com abrangência territorial.
Esperança de chuvas e o fim do calorão
O campo está de olho no céu e os meteorologistas nas cartas do INMET em busca de chuvas. De acordo com os registros do Laboratório de Agrometeorologia da Embrapa Trigo, até a tarde de quinta-feira, 13, em fevereiro choveu 36mm. A média mensal é de 147mm. A expectativa é de um volume de até 40mm de chuvas até segunda-feira, 17. Se as previsões derem certas, haverá esperança em salvar muitas lavouras. Porém, conforme o analista da Embrapa, Aldemir Pasinato, persistirá a irregularidade e as precipitações serão localizadas. “Previsão de chuvas de quinta a sexta-feira, nublado e chuvas isoladas no sábado e domingo”. O calorão dá um tempo e teremos temperaturas dentro das médias do mês. “Sexta e sábado 29ºC, domingo passa dos 30 e segunda entre 28 e 30ºC”.