O que explica a alta e o que pode ser feito para baixar os preços dos alimentos

Governo federal definiu que prioridade em 2025 é baratear os alimentos. Para economista ouvido por ON, medidas econômicas e estruturais podem ser adotadas

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“Os alimentos estão caros na mesa do trabalhador”, reconheceu, nessa semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na primeira reunião do ano com seus ministros, quando indicou que baratear os preços será uma das prioridades do governo federal para 2025. A constatação, que pode ser percebida pelos consumidores nas gôndolas dos supermercados, se confirma também em dados oficiais. A inflação acumulada no ano passado da categoria "Alimentação e Bebidas" foi de 7,62%, apontou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE - acima do índice geral, de 4,83%. Para reverter esse cenário de alta, economista ouvido por O Nacional aponta que o governo pode adotar uma “combinação de medidas”, entre econômicas e estruturais.

“É uma tarefa nossa garantir que o alimento chegue na mesa do povo brasileiro em condições compatíveis com o salário que ganha”, disse o presidente Lula, durante reunião com ministros na segunda-feira (20).-Foto divulgação/ Ricardo Stuckert/PR


Conforme identifica o economista, doutor em economia, e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Julcemar Zilli, entre as alternativas está a desoneração tributária, principalmente, para os itens da cesta básica, o que reduziria os custos diretamente para os consumidores. De outro lado, para o produtor, aponta como uma iniciativa com efeitos práticos o incentivo à produção agrícola com subsídios e financiamentos acessíveis. “Também a ampliação de programas de distribuição de alimentos, a exemplo do programa de aquisição de alimentos que o governo federal e estadual apresentam; o investimento na questão da infraestrutura logística, que ainda é um problema, e isso pode vir a reduzir os custos de transporte e armazenamento”, completa.

O economista, doutor em economia, e professor da UPF, Julcemar Zilli-Foto arquivo ON

Na esfera política, enxerga Zilli, o governo federal também tem meios de promover a redução nos preços. Ele cita, por exemplo, a necessidade de ações de controle inflacionário, “usando a política monetária, que normalmente trabalha com elevação de juros; a política fiscal, que deveria ser muito mais controlada pelo governo federal, no sentido de reduzir os gastos do governo e, com isso, poderia ter um controle melhor no déficit orçamentário; e também a política cambial que, de alguma forma, pode contribuir para essa estabilização nos preços dos produtos, principalmente dos alimentos”, considera.

Julcemar Zilli coordena o projeto que levanta mensalmente os custos da cesta básica passo-fundense. O estudo, realizada pelo Centro de Pesquisa e Extensão da Universidade de Passo Fundo (Cepeac/UPF), indicou que também localmente os preços variaram para cima no último ano. Segundo os dados, com relação à variação mensal dos últimos 12 meses, observou-se que a evolução do custo da cesta básica de Passo Fundo, neste período, passou de R$ 1369,07 em dezembro de 2023 para R$ 1476,51 em dezembro de 2024, uma alta de R$ 107,44.

O que explica a alta

As medidas indicadas levam em conta os principais fatores que têm contribuído para a elevação dos preços dos alimentos, com destaque para os custos de produção e sua relação com a alta do dólar, questões climáticas e logísticas, por exemplo.

Para a produção, os agricultores tiveram gastos maiores com insumos agrícolas, combustíveis e energia, menciona o economista. “Basicamente, esses custos estão aumentando por dois fatores: o primeiro é a volatilidade cambial, pois o câmbio elevado faz com que os produtos importados cheguem ao Brasil mais caros, e sabemos que muitos dos insumos usados na produção agrícola são importados, encarecendo o produto brasileiro. E também a questão dos problemas climáticos que ocorreram nos últimos períodos, e que ainda estão de alguma forma afetando a produção agropecuária no Brasil. Aqui no Rio Grande do Sul, tivemos o caso das enchentes de maio, e temos agora algumas regiões já apresentando quebra de safra devido à exaustão climática por muito sol”, analisa.

Além disso, Julcemar Zilli cita os problemas históricos da logística brasileira e a demanda crescente, tanto interna como externa, por alimentos. “Tudo isso tem pressionado os preços dos alimentos e feito com que o valor gasto por uma família para comprar os itens básicos do seu dia a dia tem se elevado. Isso, inclusive, comprovamos aqui no acompanhamento mensal que a Universidade de Passo Fundo faz com relação aos itens da cesta básica da cidade, que segue o comportamento da cesta básica do Brasil”, finaliza.

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