Com mais de 100 prédios em construção, “2025 pode ser um ano de consolidação do mercado imobiliário em Passo Fundo”

Em conversa com ON, o presidente do SINDUSCON, Cristiano Basso, analisa o crescimento e as características do setor localmente e projeta o novo ano

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Foto Édson Coltz/ ONFoto Édson Coltz/ ON
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Quem cruzou por Passo Fundo não muito mais do que há 20 anos, provavelmente, não identificaria a cidade nos dias atuais. O skyline – a visão do horizonte urbano - ganhou novos contornos, com prédios se elevando num ritmo que acompanha o avanço econômico local. Os números confirmam a impressão de desenvolvimento do setor da construção civil: atualmente, são mais de 100 edificações verticais ganhando forma, o que representa em torno de 6 mil apartamentos e salas comerciais.

A cada novo ano, a cidade do interior gaúcho, com cerca de 214 mil moradores, se adensa mais verticalmente, exibindo até um certo visual de cidade grande. São torres e mais torres que ganham novos andares em tempo cada vez menor, pelas mãos de milhares de trabalhadores. Alguns trabalham acima dos 120, 130, 140 metros de altura – são várias as edificações com mais de 30 andares, um chegando ao 40º pavimento, o mais alto do RS. 

Um polo de construção relevante no Rio Grande do Sul, Passo Fundo apresenta indicativos de que evoluirá em 2025 nessa área. Essa é a perspectiva do presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de Passo Fundo e Região (SINDUSCON), Cristiano Basso, que conversou com o Jornal O Nacional nessa semana, avaliando os resultados do ano passado e projetando o mercado para o futuro. A entidade que lidera representa cerca de 90 empresas do ramo. Leia na sequência a primeira parte da entrevista:

Cristiano Basso, presidente SINDUSCON Passo Fundo e Região - Foto divulgação SINDUSCON

O Nacional - Qual sua avaliação sobre os resultados do setor em Passo Fundo em 2024?

Cristiano Basso - Não temos ainda os números consolidados de 2024, mas os resultados realmente são muito positivos. Em virtude, principalmente, do segundo semestre com a feira Construimóveis [o evento teve saldo de R$ 218 milhões em negócios], atingimos um valor superior ao ano de 2023, um crescimento constante. Os números de lançamentos foram bastante impactantes no ano passado, com 12 a 15 grandes projetos. Em virtude de tudo isso, fazemos uma avaliação muito positiva do setor nesse período.

ON - Quanto ao desenvolvimento do setor, é possível analisar se os resultados locais acompanham cenários estaduais e nacionais ou a cidade destoa, se destaca de alguma maneira? O que impulsiona localmente a construção civil?

CB - Eu costumo dizer que o que impulsiona realmente a construção civil é a capacidade econômica da cidade. Nós temos uma cidade com uma diversidade de setores de investimento, como o agronegócio, a medicina, a educação, o comércio, os serviços. Tudo isso impulsiona muito a construção civil, gera demanda de moradia, novas salas comerciais. E a cidade indo bem, a economia da cidade indo bem, a construção civil vai bem também. E, paralelamente a isso, a construção civil fica a protagonista porque ela cresce, ela emprega muito e gera muito resultado de vendas e renda para o município.

ON - Como projeta que será 2025?

CB - Apesar de a gente ter encerrado 2024 com taxas de juros da Selic altas – o que para o mercado imobiliário sempre tem um impacto - eu considero 2025 um ano promissor. Eu acho que, principalmente para Passo Fundo, pode ser um ano de consolidação do mercado imobiliário. Possivelmente seremos o segundo polo da construção civil em 2025 [no Rio Grande do Sul], eu acho que até os três primeiros meses a gente vai consolidar isso, e eu vejo de forma muito positiva, como um ano pujante. Talvez a gente não tenha tantos lançamentos esse ano porque tivemos vários ao longo do ano passado, mas as obras vão estar aí, os estoques de venda vão estar também, isso é importante para a consolidação do mercado imobiliário.

ON - Há quantas unidades em construção em Passo Fundo?

CB - Conforme o último relatório entregue pela Secretaria de Obras do município, nós estamos com 107 prédios verticais sendo construídos em Passo Fundo nesse momento. Isso impacta num número de em torno de 6.000 a 6.500 unidades entre apartamentos e salas comerciais.

ON - Atualmente, há mão de obra suficiente e capacitada?

CB - Passo Fundo, nos últimos anos, cresceu muito o mercado imobiliário do médio e do alto padrão. Logicamente que a mão de obra qualificada impacta nesse setor, porque a qualidade desse tipo de empreendimento e produto é diferenciada.

Hoje, a gente já vê uma dificuldade em relação a essa mão de obra qualificada e tem bastante receio para os próximos anos que isso vai acabar diminuindo também. Então, é um grande alerta que a construção civil está tendo que se posicionar de forma diferente para os próximos anos.

ON - Na cidade, em uma análise geral, que tipo de imóvel apresenta maior demanda? O que pode explicar essa característica de consumo?

CB - Passo Fundo ainda é considerada uma cidade universitária, então isso acaba criando um movimento por imóveis reduzidos, os estúdios principalmente, a gente vê que tem muitas construções nesse setor. Agora, nesta época do ano, movimenta muito o setor da locação, porque os jovens vêm para estudar nas universidades, e buscam esse tipo de moradia.

Mas, como média geral, os apartamentos de dois dormitórios sempre foram bastante procurados em Passo Fundo, e ainda se mantém essa busca. Logicamente que o alto padrão acabou ocupando um espaço maior nos últimos anos, em virtude de grandes empreendimentos.

A gente tem uma diversidade de imóveis, de tamanhos, isso qualifica muito o mercado da construção civil em Passo Fundo, desde os primeiros imóveis de estúdio, com a faixa dos 30 metros, até moradias de altíssimo padrão, chegando a 200, 300, 400 metros privativos.

ON - Percebe alguma alteração na demanda em anos recentes?

CB - A alteração recente que a gente percebeu nos últimos anos foi daquele movimento que teve na pandemia, de muitos condomínios de casas residenciais e casas também não só em condomínios. Foi uma demanda que cresceu muito em 2021, principalmente. Agora em 2024, sentimos uma força novamente das construções das casas verticais, dos prédios, as pessoas retornando para as moradias verticais, muitas vezes até por questão de manutenção, pelo custo de morar numa casa ou pela segurança e a praticidade de residir em edifícios. Os empreendimentos de edifícios entregam uma qualidade muito similar às casas em relação às áreas condominiais também.

ON - Em sua visão, o que o setor da construção civil pujante pode representar sobre e para a cidade?

CB - Acho que em 2025 talvez a gente consiga ter um grande termômetro em relação a quanto vai impactar realmente essa quantidade de obras que estão sendo iniciadas na cidade, os lançamentos, e o que isso pode proporcionar para a nossa cidade.

Logicamente, inicialmente mão de obra. A gente vai ter vagas de emprego em todas as construtoras, novas edificações, então isso é uma baita de uma oportunidade, mas também é uma dificuldade em relação à qualificação, tema que falamos anteriormente.

Isso vai movimentar muito a cadeia do mobiliário, porque aí as lojas de planejados, de móveis, elas vendem muito, de revestimentos, materiais de construção, envolve muita coisa. A gente pode ter um impacto muito positivo nesse setor em 2025.


Os efeitos da elevação dos juros

Na segunda parte da matéria, que será publicada na próxima edição de ON, Cristiano Basso analisa os impactos locais dos recentes aumentos nas taxas de juros promovidos pelo principal agente financiador nacional, a Caixa Econômica, para determinadas faixas de renda.

Essa é a segunda mudança envolvendo o crédito em cerca de dois meses, pois, em novembro, o banco aumentou o valor da entrada de 20% para 30%.

O presidente do SINDUSCON fala, ainda, sobre as alternativas adotadas pelo setor para amenizar os efeitos dessas alterações. 

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