A comunidade venezuelana radicada em Passo Fundo vive momentos de expectativa e mobilização às vésperas da posse de Nicolás Maduro, marcada para esta sexta-feira (10). Enquanto o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declarou a vitória de Maduro no pleito realizado em 28 de julho de 2024, a oposição do país caribenho e diversos organismos internacionais questionam a legitimidade do processo eleitoral, apontando Edmundo González como o verdadeiro vencedor.
Em resposta a essa crise, a comunidade venezuelana de Passo Fundo, formada por aproximadamente 3.5 mil imigrantes, decidiu organizar uma mobilização pacífica. O ato estava previsto para ocorrer no final da tarde de quinta-feira (9), na Praça Narciso Vieira, no bairro São Luiz Gonzaga, com objetivo de manifestar apoio a Edmundo González e à líder de oposição Maria Corina Machado, além de denunciar a repressão política vivida no país. O local foi escolhido por concentrar a maioria dos venezuelanos residentes na cidade.
Questionamentos e contestações
A oposição venezuelana denuncia que as eleições não seguiram as regras previstas no sistema eleitoral do país. Entre as irregularidades, destacam-se a ausência de auditorias independentes e a não divulgação dos boletins de urna por mesa eleitoral, prática que anteriormente dava transparência ao processo.
Países como Argentina e Peru já reconheceram Edmundo González como o verdadeiro vencedor e cobram sua posse. Outras nações, incluindo o Brasil, ainda aguardam documentos que comprovem o resultado oficial. Por outro lado, o governo de Nicolás Maduro mantém sua posição de que o processo foi legítimo e ratificado tanto pelo CNE quanto pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).
Desde o anúncio da vitória de Maduro, a Venezuela tem vivido um clima de instabilidade. Protestos e manifestações resultaram em dezenas de mortes e mais de 2 mil prisões. Nas últimas semanas, a Justiça venezuelana libertou 1,5 mil detidos, mas a tensão persiste.
Mobilização em Passo Fundo
Luisana Gonzáles, presidenta da Associação de Venezuelanos no Brasil (Venebras), explicou a importância da mobilização: “Queremos justiça. No dia 28 de julho, as eleições confirmaram a vitória de Edmundo González, mas o ditador Nicolás Maduro se recusa a entregar o poder. Nossa mobilização é para pedir liberdade e democracia para nosso país, além de apoiar nossos líderes que buscam uma transição pacífica e justa.”
As manifestações promovidas em Passo Fundo são atos de orações e reflexões, simbolizando a esperança de uma restauração democrática na Venezuela. Luisana destaca que as manifestações que acontecem na cidade são totalmente pacíficas.
Desafios da comunidade venezuelana
Este momento de grande tensão vivido pela Venezuela, também é uma oportunidade para dar visibilidade às dificuldades enfrentadas pelos imigrantes que residem em Passo Fundo. Segundo Luisana, embora muitos estejam empregados e adptados ao novo lar, o processo de regularização documental ainda é um desafio significativo. “A demora na emissão de documentos pela Polícia Federal tem dificultado a vida de muitos imigrantes. Através da Venebras, estamos solicitando um mutirão para agilizar a regularização. Isso é essencial para que possam nos estabelecer plenamente e contribuir com a comunidade local”, afirmou.
Além disso, Luisana descreveu as dificuldades enfrentadas no cotidiano de parentes e amigos que permaneceram na Venezuela. Atualmente o país vizinho está com uma inflação superior a 1.000%, instabilidade nos serviços públicos e repressão política. “A pobreza é extrema, o custo de vida é insustentável e os serviços básicos, como gás, eletricidade e internet, são precários. A liberdade de expressão é praticamente inexistente. Se alguém é identificado compartilhando informações contrárias ao governo nas redes sociais, pode ser acusado de traição à pátria e preso”, lamentou.
O impacto da crise
A crise política e econômica da Venezuela tem gerado um êxodo massivo nos últimos anos, com milhões de cidadãos buscando refúgio em outros países. Em Passo Fundo, os venezuelanos encontraram acolhimento e oportunidades, mas o vínculo emocional com o país de origem e a preocupação com familiares que ficaram para trás tornam os dias difíceis.