Por muitas décadas foi comum, para os que tivessem condições de fazê-lo, acordar e folhear um jornal para informar-se sobre as novidades. Os jornais impressos eram indispensáveis ao cotidiano. A leitura das páginas de um periódico local, atentando às colunas de gosto particular, permitia a atualização sobre temas políticos, sociais, médicos, desportivos e judiciais, propiciando a cada leitor estar apto às conversas do dia a dia e mais capacitado para interpretar os acontecimentos que vivenciava. O lançamento da folha O Nacional, em 19 junho de 1925, teve tal potência e apelo. Pela sua historicidade, não só no sentido de sua trajetória, mas também das técnicas e possibilidades de produção e editoração, vinculadas às tecnologias disponíveis à época, vamos nos ater a descrever esse periódico que marca o jornalismo passo-fundense.
Sob direção de Herculano Araújo Annes, O Nacional veio à público contando com o formato de 4 páginas, em tamanho de 30,5 x 43 cm, que reuniam assuntos diversos. Além da tradicional coluna dos editores – o Editorial – O Nacional trazia na capa, naquela edição de número 1, uma configuração recorrente no período, qual seja, muitos textos e poucas imagens. Ainda não era possível ter nas capas o destaque que se teria posteriormente, com o avanço tecnológico da imprensa, com imagens em destaque, ladeadas por manchetes que vinham tratadas sobretudo no miolo do jornal. Em 1925, era recorrente que os periódicos aproveitassem todos os espaços possíveis para trazer os textos, notas, avisos, publicidade, artigos possíveis ao formato eleito para a publicação.
Na capa da edição inicial d’O Nacional, dividida em topo, com o cabeçalho remissivo à bandeira nacional, e 5 colunas de texto, constavam o editorial e um apelo aos leitores para que colaborassem com a manutenção longeva da folha, que previa ser lançada duas vezes por semana. Ao fim do editorial, lê-se o lema da publicação "Liberdade máxima dentro da máxima responsabilidade", reforçando a ideia já exposta no texto de que O Nacional se declarava uma folha livre – não devotada a interesses religiosos, políticos, ou outros vínculos. O editorial ocupou a primeira coluna textual e foi seguida pela Secção Medica, que trouxe o artigo "A triste lei da herança", dedicado à discussão sobre as enfermidades hereditárias, tema em voga em tempos em que a chamada profilaxia, visando prevenir ou atenuar doenças, era um tema importante a considerar ante uma sociedade que se voltava ao trabalho e que tinha na segurança da produtividade parte das preocupações. O artigo do médico ítalo-argentino José Frederico Castelleti ocupou duas colunas com o texto. Seu autor poderia ser mais bem conhecido pela propaganda profissional, divulgada na página 4 da publicação. O médico declarava atender como clínico geral com várias especialidades na Pharmacia Serrana e na Pharmácia São José.
Na coluna 4 da divisão dos textos, além do apelo d’O Nacional, temos a seção Pelo Foro, dedicada a noticiar temas relativos à justiça, informando a transferência do então juiz distrital do foro local, Pery G. Oliveira, para Itaqui, cuja "remoção virá, naturalmente deixar uma lacuna no nosso serviço judiciário". Ocupando a parte inferior da coluna, um excerto de Olavo Bilac, laudando a pátria e a importância do idioma nacional. A última divisão textual da capa contém uma nota sobre a autoria de textos de colaboradores, intitulada Collaboração, um excerto de texto de Rui Barbosa acerca dos males do jogo, e um aviso da Livraria Nacional, responsável pela redação e gerência do jornal.
As páginas internas são ainda mais diversas em temas. Temos ali notas sociais, destacando os aniversariantes e os enfermos, propagandas curtas aproveitando espaços disponíveis, informe de telegramas e fonogramas retidos, dados comerciais, esportivos, falecimentos, editais, seção sobre viajantes e várias publicações da Intendência, à época, encabeçada por Armando Araújo Annes, irmão de Herculano, Diretor d’O Nacional. Chama a atenção, na terceira página, a descrição do jogo ocorrido entre o 14 de Julho e o Sport Club Ypiranga, de "Boa Vista de Erechim", realizado em Passo Fundo. Indicando o juiz da partida e a escalação, a narrativa segue pormenorizada: "Tirada a sorte, esta foi favorável ao 14 que escolheu o lado oposto à entrada. Ás 15,10 precisamente David dá a sahida fazendo o Ypiranga fraca excursão no campo do 14 facilmente desfeita por Alarite, que manda a bola aos seus dianteiros, fazendo Noé bom centro que não é aproveitado". A riqueza de detalhes sobre o certame, segue até o fim da matéria. Tal qual as narrações radiofônicas ou televisivas atuais, Jeca, autor do texto, prestou-se a narrar detidamente a atuação dos players no jogo, que findou em 5 a 2 para o time local. Finalizando a publicação, temos na página final espaço amplo de publicidade. São anúncios de médicos, dentista, alfaiate, mecânico, comércios variados e o destaque a Livraria Nacional, que toma quase metade da folha. Tal como hoje, os anunciantes são essenciais para a garantia de periodicidade dos jornais, sejam impressos ou digitais.
Atualmente os jornais têm sido divulgados por mídias digitais, ou em páginas da internet, ou com versões em PDF ou imagem, tornando a experiência dos leitores diversa do que já o fora. Essa transformação torna o próprio contato com a imprensa mais leve e imediato. Se outrora liam-se jornais específicos com o devido tempo para o folhear das páginas, tomando como parte desse processo a materialidade do impresso, com a imprensa digital é corrente a busca de notícias de interesse imediato, muitas vezes sem seguir na leitura das demais matérias disponíveis, alternando não entre páginas impressas, mas entre agências de notícias e outros sites da internet. Como experiência moldada no tempo, a leitura de periódicos se transforma, tornando visíveis outras técnicas, métodos, possibilidades e práticas leitoras. Nos seus quase 100 anos, O Nacional é uma testemunha desse processo rico e longevo.