A afirmação “Estamos gordos e desnutridos” da engenheira agrônoma e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Drª. Cláudia Petry, assusta, mas é uma realidade. Pesquisa divulgada este ano pelo Ministério da Saúde, através da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2014), constatou que 52,5% dos brasileiros estão acima do peso. O sobrepeso é fator de risco para doenças crônicas, como as do coração, hipertensão e diabetes, responsáveis por 72% dos óbitos no Brasil. A utilização de agrotóxicos também é uma grande preocupação. O promotor de Justiça, Paulo Cirne, que está divulgando e atuando intensamente no combate ao uso inadequado e excessivo dos agrotóxicos, revela que o Rio Grande do Sul é o quarto estado brasileiro que mais utiliza agroquímicos e, a pior notícia, é que a região de Passo Fundo é a que mais usa no Estado. Mas afinal: o que a população está comendo?
Muitas pessoas questionam se o câncer, a depressão, o aumento da doença celíaca (alergia ao glúten) e das doenças autoimunes (Hashimoto, Lúpus, esclerose...) não seriam também consequências da escolha dos alimentos. A professora Cláudia Petry, especialista que, em 2012-2013, realizou seu estágio pós-doutoral na Université de Poitiers, na França, no tema Agroecologia, e que coordena na UPF o Núcleo de Estudos em Agroecologia do Planalto Médio Gaúcho (NEA), responde: “Certamente que sim”.
Ao escolher uma alimentação baseada em produtos vegetais e animais minimamente processados (o mais próximo da origem) e de preferência orgânicos a população está proporcionando ao corpo chances de se desintoxicar. “Se hoje tem o modismo de alimentos Detox, se trata de uma tendência baseada em pesquisas que comprovam que nossos órgãos filtros estão precisando se desintoxicar. E nossos antepassados já sabiam e já faziam isso, através de chás, pratos típicos e bebidas específicas para cada estação”, explicou Cláudia.
Conforme pesquisa da Vigitel 2014, 52,5% da população brasileira está com sobrepeso e 17,9% estão obesos. “Isso é grave. Estamos gordos e desnutridos”, destacou a professora. Para Cláudia, é uma falácia o setor agrícola continuar repetindo que precisa produzir massivamente produtos agrícolas para acabar a fome no mundo. “Precisamos de distribuição de renda justa, de empregos e de informações. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO 2011), a América do Sul perde até 60% dos produtos hortícolas em todas as fases da cadeia produtiva, do campo, ao transporte até o prato do consumidor. Então não basta apenas plantar mais, precisamos ser mais eficientes e perder menos”, enfatizou.
"Alguém já assistiu uma propaganda de feijão?”
Comprar produtos industrializados na prateleira dos estabelecimentos é muito mais cômodo. No entanto, Cláudia alerta para os malefícios destes alimentos, os quais possuem substâncias químicas industrializadas para conservar, dar cor, sabor, textura, entre outros. “Alimentos industrializados de forma geral não são saudáveis, pois para manter a vida de prateleira contém muitos aditivos e ingredientes não nutritivos”, explicou a professora. Uma das regras sugeridas é evitar alimentos que tem publicidade. “Alguém já assistiu um dia uma propaganda de feijão? Não. Porque não precisa ter propaganda, pois todos sabem que feijão faz bem”, observou Cláudia.
A correria do dia a dia e a falta de tempo são alguns dos principais argumentos utilizados pelas pessoas para não cozinhar. Na opinião da professora da UPF, os brasileiros deveriam seguir o exemplo dos franceses. “No inconsciente coletivo dos franceses, por exemplo, aprender a comer bem é mais importante (vem primeiro) que ler e escrever. É uma honra cozinhar e ensinar os filhos a gostarem da nossa comida. É nossa principal herança cultural para as gerações futuras. Em relação à achar tempo para cozinhar, é apenas uma questão de prioridade: estabelecer a prioridade de se prevenir se alimentando bem ou achar o tempo depois que já perdemos a saúde”, salientou a professora.
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