A Secretaria de Habitação de Passo Fundo analisa a possibilidade de alojar em outro local as quatro famílias vítimas do incêncio que atingiu as casas nas quais moravam na Vila Isabel, no último domingo. A nova região, no entanto, ainda permanece sendo estudada em conjunto com a Secretaria Municipal de Planejamento e com a Procuradoria-Geral do Município, como explicou o secretário Municipal de Habitação, Paulo Caletti.
Os moradores vítimas do incêndio devem permanecer no espaço considerado de moradia irregular até a definição dos agentes públicos. "A Secretaria de Obras está fazendo a limpeza e retirada dos escombros, e estamos arrecadando donativos para que haja uma assistência às famílias", mencionou Caletti.
Recomeço
Quatro dias após o incêndio que reduziu quatro casas a escombros, o cheiro de madeira queimada ainda chegava antes de qualquer silhueta humana na Ocupação Vila Isabel. Entre a calçada e o portão de uma das casas erguidas nos terrenos do Vila Isabel, o assunto na roda de conversa formada pelas moradoras ainda era o domingo passado.
"Nessa hora, a gente estaria lá embaixo tomando chimarrão, comendo pipoca", resumiu a dona de casa Luana Alves da Luz. Aos 22 anos, a família dela e de mais três vizinhos ficou desalojada pelas chamas que arderam, no domingo em um dos quartos, segundo as suspeitas, e se alastraram pelas demais residências. "Nós recém tínhamos almoçado. Assim que largamos os pratos na pia, ouvimos os gritos de 'fogo, fogo!'", relembra. Percorrendo o espaço agora tomado pelo rescaldo, um foco de fumaça é abafado com terra e algumas pedras. "Naquela situação, não sabíamos o que fazer. Tempos atrás eu tinha lido que pegou fogo em uma outra casa aqui perto, mas nunca pensei que isso pudesse acontecer com nós", lamenta.
Há oito anos morando na ocupação com o marido, a casa de madeira do casal foi sendo construída "aos poucos", como relata. "Foram anos e anos investindo para virar nada em questão de 20 minutos. Eu olho pra isso e vejo a minha casa", desabafava enquanto o olhar permanece fixo nos escombros. A desolação, aliás, parece ser o sentimento que une os moradores da localidade. "Ele trabalha na construção civil, mas só conseguiu ir pro serviço de manhã. Nessa situação, a pessoa não tem ânimo para trabalhar", conta referindo-se ao companheiro, Everton Nunes de Jesus, de 25 anos. Junto dele e da sogra, Marizete Rodrigues Nunes, de 39 anos, Luana abre as portas da pequena igreja evangélica, construída nos fundos do que, antes, era a moradia da pequena comunidade de pessoas que denominam como "um povo só", utilizada como abrigo improvisado.
Também de madeira, o novo lar dela e de mais cinco integrantes da família não está com o telhado finalizado. Os vãos na parte superior permitem a entrada de vento e de água. O calor atípico para o inverno que fazia, na tarde de quarta-feira (28), era potencializado pelos colchões que se espalhavam pelo assoalho. "A gente vem aqui só para dormir e fazer comida", considerou Luana. Com dois cômodos, o templo religioso recebe, ainda, as doações que vão chegando em carros de passeio e caminhões. "É difícil. Sinto saudade de deitar no meu sofá", diz. "No dia, meu marido tentou ligar a torneira, mas o fogo já tinha estourado os canos", recorda. A água, como contam quase que simultanemente as vizinhas, só retornou na tarde de terça-feira (27). "Nós precisamos de material para reconstruir o que foi perdido. De doação de outras coisas, como roupa e comida, não podemos reclamar", pede. As famílias reclemam na demora para retirada dos entulhos. O trabalho ainda não havia iniciado.