Após queda na pandemia, expectativa de vida volta a aumentar no país

Estudo do IBGE mostra também que o indicador subiu trinta anos desde 1940. Homens ainda vivem seis anos menos do que as mulheres

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Coordenadoria Municipal do Idoso Dati/Comai mobiliza mais de três mil idosos em atividades variadas- Foto divulgação/ PMPFCoordenadoria Municipal do Idoso Dati/Comai mobiliza mais de três mil idosos em atividades variadas- Foto divulgação/ PMPF
Coordenadoria Municipal do Idoso Dati/Comai mobiliza mais de três mil idosos em atividades variadas- Foto divulgação/ PMPF
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Nos bairros de Passo Fundo e nos distritos do interior, perto de 3 mil e 300 idosos se encontram semanalmente em oficinas de dança, canto, língua estrangeira ou computação, para a prática de Yoga, artesanato ou jogos variados. Todos têm acima de 60 anos de idade, alguns perto de completar o centenário. As atividades são realizadas pela Coordenadoria Municipal do Idoso Dati/Comai, na sede e em 52 grupos de convivência distribuídos pelo município, e representam, na visão da coordenadora Tania Carraro, um importante aliado para o envelhecimento saudável, contribuindo para a longevidade.

Seja por iniciativas como essa ou por avanços em políticas públicas específicas, os brasileiros têm vivido mais. Desde a década de 1940, a expectativa de vida aumentou em trinta anos em média. Numa análise temporal mais curta, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados há poucos dias, mostram que após uma retração durante os anos de pandemia da Covid-19 a mediana voltou a subir no país.

Conforme o IBGE, uma pessoa nascida no Brasil em 2023 tinha a expectativa de viver, em média, até os 76,4 anos, um acréscimo de 11,3 meses em relação ao ano anterior, superando o patamar pré-pandemia. “A elevação do número de mortes no Brasil e no mundo com a pandemia de Coronavírus reduziu a esperança de vida ao nascer em 2020 e 2021, chegando ao patamar de 72,8 anos nesse último ano (sendo 69,3 anos para homens e 76,4 anos para as mulheres). A recuperação desse indicador a partir de 2022 reflete a redução do excesso de mortes causado pela pandemia, para ambos os sexos”, observa Izabel Marri, gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE.

 Mulheres vivem em média seis anos mais

Para a população masculina, o aumento no período analisado pelo IBGE foi de 12,4 meses, passando de 72,1 anos para 73,1 anos. Já para as mulheres, o ganho foi um pouco menor: passando de 78,8 anos para 79,7 anos (cerca de 10,5 meses). O dado indica que, no Brasil, as mulheres vivem em média seis anos a mais do que os homens.

A professora Dra. Ana Carolina De Marchi, docente do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo -Foto divulgação/ UPF

Segundo relaciona a professora Dra. Ana Carolina De Marchi, docente do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo, a diferença na expectativa de vida entre pessoas do sexo masculino e feminino pode ser atribuída a uma combinação de fatores biológicos, comportamentais e socioculturais. “Entre os fatores biológicos, o estrogênio, hormônio sexual predominante nas mulheres, é destacado em alguns estudos por proporcionar benefícios cardiovasculares que podem proteger as mulheres de doenças cardíacas antes da menopausa, por exemplo. Por sua vez, os homens apresentam maior envolvimento em comportamentos de risco, como acidentes de trânsito, violência e consumo excessivo de álcool, causas significativas de mortes prematuras. Ainda, eles procuram com menos frequência os serviços de saúde, sendo as mulheres mais adeptas dos cuidados preventivos”, cita, complementando que, com relação aos fatores socioculturais, as mulheres contam com redes de apoio mais sólidas, que contribuem para a saúde mental e o bem-estar.

 

Expectativa de vida sobe trinta anos

Em comparação ao ano de 1940, quando a expectativa de vida para ambos os sexos era de 45,5 anos, houve um aumento de 30,9 anos, sendo de 30,2 anos para homens e 31,4 anos para mulheres.

Ao analisar essa variação, De Marchi associa o aumento expressivo na expectativa de vida a uma combinação de fatores inter-relacionados, considerando, por exemplo, a redução significativa da mortalidade por doenças infecciosas e crônicas, decorrente de melhorias na assistência médica e programas de erradicação de doenças; e avanços na medicina, incluindo o desenvolvimento de vacinas, introdução de antibióticos e tratamentos mais eficazes.

Ela chama atenção, ainda, à ampliação do acesso a serviços de saúde por meio de políticas públicas e a mudanças no estilo de vida, “como maior consciência sobre a importância de práticas saudáveis por parte da população e maior procura por cuidados médicos preventivos; além do impacto de avanços tecnológicos que elevaram a qualidade dos diagnósticos e tratamentos mais assertivos, incluindo o uso da Inteligência Artificial no auxílio aos profissionais da saúde”, lista a professora.

 

Longevidade e qualidade de vida

Melhora a qualidade de vida, aumenta a disposição e a autoestima, estimula a convivência, e possibilita o acesso a conhecimentos sobre saúde preventiva - por meio de campanhas de vacinação, controle de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão - fortalece vínculos sociais, que ajudam a combater a solidão e o isolamento social. Esses são alguns dos efeitos percebidos pela coordenadora da Coordenadoria do Idoso de Passo Fundo, Tania Carraro, ao se referir aos grupos de convivência existentes na cidade, que congregam pessoas com idade de 60 anos ou mais. A aluna mais idosa, conta, tem 97 anos.

Coordenadora da Coordenadoria do Idoso de Passo Fundo, Tania Carraro - Foto divulgação/ PMPF

Segundo calcula, são 1.318 alunos matriculados e ativos nas oficinas oferecidas na sede (localizada na Rua Antonio Araújo, 1190), e outros 1.978 alunos nos 52 grupos de convivência distribuídos nos bairros e no interior de Passo Fundo, totalizando 3.296 alunos matriculados ativos.

Na sede da Coordenadoria, são oferecidas oficinas como: banda, coral, instrumentos musicais, canto, espanhol e francês, computação, pilates, yoga, memória, artesanato, funcional, dança de salão e Zumba, dentre outras. Além disso, nos bairros e nos distritos do interior funcionam os grupos de convivência, locais onde um professor ministra aulas de atividades físicas e lúdicas.

A coordenadora diz ter certeza de que os programas baseados em atividades físicas, culturais, sociais e educacionais, mantendo o corpo e a mente ativos, contribuem para retardar o declínio cognitivo e físico e com a promoção do envelhecimento saudável. “Auxilia para que as pessoas idosas vivam mais e melhor, tendo um impacto significativo no aumento da longevidade e na qualidade de vida das pessoas idosas”, defende.

Foto divulgação/ PMPF


Sua percepção, atualmente, tem amparo em peças científicas. Um estudo recente conduzido pelo Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano (PPGEH) da UPF junto ao Centro de Referência e Atenção ao Idoso da Universidade de Passo Fundo (Creati/UPF) comprovou que práticas educativas inovadoras podem melhorar a autoestima dos idosos, fazendo com que se sintam mais valorizados, satisfeitos e engajados, o que é importante para a saúde mental e, consequentemente, para uma maior expectativa de vida. O Creati atende pessoas com mais de 45 anos com programas e serviços de atividades educacionais, físicas, técnicas, mentais, culturais, sociais, cívicas e afetivas. “O desafio desses espaços é inovar as práticas para promover maior engajamento, principalmente do público masculino, uma vez que são predominantemente frequentados por mulheres”, pontua a professora Dra. Ana Carolina De Marchi, que menciona o estudo.

Para ela, os grupos de terceira idade, como o DATI e o CREATI/UPF, desempenham um papel crucial na preservação da qualidade de vida e na longevidade. Esses ambientes, observa, promovem estilos de vida ativos e socialmente engajados para os idosos, proporcionando um sentimento de pertencimento que incentiva a prática de atividades físicas e a interação social. “Estudos demonstram que a participação em grupos sociais após a aposentadoria está associada à melhora da saúde física a longo prazo, um dos fatores determinantes para o aumento da expectativa de vida. Ao mesmo tempo, fatores psicológicos relacionados à integração social resultam em autopercepções positivas do envelhecimento, o que também contribui para a longevidade”, conclui.

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