Espaços colaborativos unem várias propostas

Na segunda e última reportagem da série sobre coletivos, ON apresenta a diversidade das iniciativas, no cinema, na fotografia, no artesanato e nas artes visuais

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No Andorinhas, além da Feira Vegana eCardume Arteiro, também há espaço para a arte e vivênciasNo Andorinhas, além da Feira Vegana eCardume Arteiro, também há espaço para a arte e vivências
No Andorinhas, além da Feira Vegana eCardume Arteiro, também há espaço para a arte e vivências
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Nesta segunda reportagem, vamos mostrar iniciativas como o Andorinhas, o Grupo da Foto, o Cinematógrafo Cineclube e a Confraria das Artes. Grupos que, assim como os coletivos citados na primeira parte desta série especial, organizam-se de maneira independente e, com uma boa dose de criatividade, mantêm viva a cena cultural da cidade.

 

Andorinhas - Coletivo em Movimento

“Quando eu penso em coletivo, eu penso em um grupo de andorinhas. O Andorinhas é um coletivo e um coletivo em movimento”, diz Max Antunes. Foi admirando o voo delas que o mineiro, hoje residente em Passo Fundo, decidiu assim nomear o projeto que criou ao lado da mulher, AniDaltoé, e da amiga, Ariene Portella. O Coletivo Andorinhas saiu do papel há quase dois anos, atuando especialmente na promoção de oficinas e feiras que têm como propósito estabelecer relações mais humanas e verdadeiras e proporcionar um lugar de consumo consciente, sustentável e de intercâmbios constantes, em todos os âmbitos. “Nós buscamos oferecer novos paradigmas de educação, de aprendizagem, de trabalho, de troca”, ele elucida.

 

Tudo acontece em uma casinha cuidadosamente decorada com artesanato e pinturas, ondeum pátio, nos fundos, conta até com uma fogueira. A atmosfera é quase mágica e, embora seja também a residência do casal fundador, o Andorinhas está sempre aberto para quem quiser aparecer por lá e desfrutar do espaço colaborativo. “Quando a gente começou, ainda não tínhamos nenhuma perspectiva de ter um espaço próprio onde as coisas acontecessem, mas depois a coisa foi tomando mais corpo e apareceu a oportunidade de vir para cá [no bairro Petrópolis]. Isso aqui nos possibilitou que iniciativas além das nossas pudessem acontecer. Uma delas foi o Cardume Arteiro, que é um coletivo de artesãos, mas não só artesãos, artistas seres humanos que resolveram se juntar para promover os valores que nos unem”, conta Max.


Além do Cardume Arteiro, que realiza feirinhas com comerciantes locais dos mais variados produtos, nesses meses de caminhada o Andorinhas tem oferecido também, entre outras coisas, oficinas de Contato-Improvisação, de Contação de Histórias para Guardiões de Pequenos, de Teatro e de Constelação Familiar; ateliês Sementeira e Pequenos Mestres; uma Roda do Sagrado Feminino; e cursos de meditação. Nomes um tanto diferentes, que chamam a atenção e podem gerar dúvidas, mas que resumidamente são propostas voltadas ao autoconhecimento, à sustentabilidade e à melhoria das relações interpessoais.

 

“Algumas, são atividades que nós ministramos. Outras, como a Feira Vegana, é uma ideia para a qual nós só cedemos o espaço. Dezenas de expositores vêm e colocam seus produtos à venda. Isso é algo para qual estamos sempre abertos. Se as pessoas que tiverem ideias que ressoam com os nossos propósitos, queremos ajudar a fazer isso acontecer, são iniciativas fundamentais. Os coletivos fazem a vida acontecer além da normose, eles têm um papel importante na vida das pessoas a fim de que ela não seja uma eterna repetição, que ela possa ser encenada, apreciada, como quem aprecia uma obra de arte”, reflete.


Cinematógrafo Cineclube
Criado em 2015, o Cinematógrafo Cineclube tem o objetivo de democratizar o acesso à produção cinematográfica, exibindo filmes brasileiros e latinos que não costumam entrar no circuito comercial de Passo Fundo e região, além de aproximar o público do fazer cinema através de bate-papos que acontecem após as exibições, com profissionais do audiovisual, sobre os processos de um filme. “Eu sou produtora do Festival de Gramado e percebia, neste meio, que muitas vezes eu conhecia as pessoas mas não conhecia o trabalho delas. Então comecei a pensar nessa ideia de fazer um cineclube – cineclube como conceito mesmo, para debater as obras, os trabalhos, a indústria. A ideia surgiu em 2013 e o pessoal de imediato se ofereceu para disponibilizar seus filmes, mas foram necessários dois anos para de fato conseguir montar. Passamos por vários espaços até, no ano passado, conseguirmos uma parceria com o Sesc, que vem nos cedendo uma sala no prédio deles para a realização dos encontros”, narra a fundadora do projeto, Rafaela Pavin.


Entre idas e vindas, o projeto realizou até o momento 24 sessões de exibição, todas organizadas de maneira voluntária pelos membros do coletivo que, atualmente, é formado pelos amantes de audiovisual Nara Marley, Carlos Alberto Silva, Rafaela Pavin e Losangeles dos Anjos. Nos últimos meses, as sessões de exibição, seguidas de debate, vinham sendo realizadas quinzenalmente, com entrada gratuita. A falta de público, no entanto, fez com que o grupo precisasse tomar a decisão de diminuir a frequência dos encontros. “Nossa média de público era de dez pessoas por exibição, às vezes bem menos. O pessoal não comparece, não se interessa, não se engaja. Isso nos desanima porque é um trabalho tão grande organizar as sessões. Resolvemos fazer a cada um mês agora. Talvez isso nos ajude a mobilizar mais pessoas para que tirem pelo menos um dia do mês para comparecer. Ou, pelo menos, vai aliviar para a gente que faz isso de maneira voluntária e deposita tanto tempo”, lamenta Rafaela.


Confraria das Artes
No caso das Artes Visuais, uma das principais lideranças culturais a dar suporte ao nicho é a Confraria das Artes. Fundado no início de 2016, o coletivo nasceu com o propósito de mediar as relações de grupos e entidades envolvidas no cenário de artes visuais da cidade, para construir um Setor de Artes Visuais junto ao Conselho Municipal de Políticas Públicas, levando até ele os anseios dos artistas locais e documentando tudo isso no Plano Municipal de Cultura.


Quando seu primeiro passo foi concluído, o grupo passou a assumir o compromisso de resgatar a arte e o artista local, buscando um espaço onde eles pudessem mostrar seus trabalhos. Durante algum tempo, quem os abrigou foi a antiga Estação da Gare, onde o coletivo permaneceu por dois anos e realizou 38 exposições, além de oficinas, ateliê público, recepção e visita guiada a escolas, sempre pondo em destaque o trabalho de aristas passo-fundeses. Hoje, no momento, a Confraria não está mais instalada neste mesmo espaço, depois que ele foi transformado em um complexo gastronômico, mas segue com atuação ativa dentro da cidade e conta com 45 integrantes.


Entre os principais projetos do grupo está o ‘Cidade Viva Arte Urbana’, que nasceu com o objetivo de transformar espaços públicos da cidade em locais de convívio, arte, cultura e lazer, propondo intervenções participativas, estimulando a relação das pessoas com o espaço, fazendo com que os cidadãos se envolvam nas transformações urbanas e continuando a valorização da arte, do artista local e dos patrimônios. Em dois anos, já foram realizadas 12 intervenções deste gênero pelos voluntários do coletivo. “Acreditamos na máxima de que quem gosta, cuida”, registra a coordenadora da Confraria das Artes, Lindiara Paz.


Grupo da Foto

O coletivo Grupo da Foto é formado por mais de 30 fotógrafos profissionais e amadores, que trocam experiências fotográficas, promovem encontros, saídas a campo, palestras e outras atividades ligadas à arte fotográfica. Entre os coletivos culturais listados nesta reportagem, este é o mais antigo: foi criado em 2010, a partir da vontade da fotógrafa Fabiana Beltrami de conversar, pensar e praticar a fotografia com outras pessoas. “Começou com encontros para trocarmos ideias e foi se transformando em algumas ações. Nós montamos exposições coletivas, começamos a fazer mais saídas fotográficas, trazer fotógrafos para conversar com a gente, fazer palestras abertas, debates... Desde prática, até teoria. Depois, a gente participou com exposições temáticas na Feira do Livro e na Jornada Nacional de Literatura. Também fizemos muitas oficinas em escolas e exposições sobre a cidade. Acaba que a nossa coletividade é: um grupo de fotógrafos que gostam de conversar e praticar juntos”, ela resume.


Um dos diferenciais positivos dentro do grupo, na opinião do fotógrafo Diogo Zanatta, é que ele agrega debates diversos. “É um lugar bastante democrático. Teve uma época que tiveram pessoas de 14 até 60 anos participando. O grupo abraça diversas pessoas, diversas idades, sem nenhum preconceito. É simplesmente gostar da fotografia e participar. Volta e meia a gente faz saídas fotográficas para fazer fotos de eventos astronômicos, do inverno... Depois, compartilhamos com o público”, esclarece. A tecnologia, naturalmente, é uma grande aliada: praticamente todos os contatos são feitos pelo WhatsApp, segundo Diogo. “É um grupo aberto a todos os interessados. Tem gente que nem tem câmera fotográfica, que está ali simplesmente porque gosta de foto e quer nos ajudar a disseminar a fotografia pela cidade. Isso deixa a discussão bem bacana, conseguimos falar sobre muitas coisas e manter a cidade e a fotografia em movimento”.

 

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