Quem, um dia, se atrever a escrever a história da Agrometeorologia brasileira não vai ter como se furtar de fazer especial menção a Eduardo Delgado Assad. O pesquisador que, no dia 3 de janeiro de 2022, depois de uma carreira de quase 35 anos, por motivo de aposentadoria, desligou-se da Embrapa.
Assad é formado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (turma de 1979). Fez mestrado, 1984, e doutorado,1987, pela Universidade de Montpellier, na França, em Hidrologia e Matemática, na área de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto. De volta ao Brasil, após breve passagem pela EPAMIG, ingressou na Embrapa, em 1º de outubro de 1987, onde se destacaria pela capacidade de liderar equipes, colocando, indubitavelmente, a área de Agrometeorologia na Empresa em um nível de reconhecimento que, até então, nunca havia gozado.
Eu conheci, pessoalmente, Eduardo Assad, em 1993. Sabia quem era ele por publicações e pela primeira edição do livro “Sistemas de Informações Geográficas - Aplicações na Agricultura”, que havia recém lançado, em parceria com Édson Sano. Foi no 8º Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, realizado em Porto Alegre, de 27 a 30 de julho daquele ano. Assad procurou, individualmente, todos os colegas da Embrapa que estavam no evento e marcou uma reunião. Foi nesse encontro que ele demonstrou o espírito aguçado de liderança e visão de trabalho em equipe, deixando claro que, se continuássemos isolados em nossas Unidades, dificilmente seríamos protagonistas de coisas relevantes. Começava ali uma “Nova Era da Agrometeorologia” na Embrapa.
E não foram poucas e nem insignificantes as iniciativas lideradas por Eduardo Assad. Eu destaco o legado da gestão de riscos, com o lançamento, em 1996, do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), originalmente chamado apenas de Zoneamento Agrícola, como ferramentas de suporte à política de crédito e securidade rural do Governo Federal. Esse esforço eu acompanhei de perto, pois o trigo foi a primeira cultura a ser inserida no Zoneamento Agrícola do MAPA, na safra de inverno de 1996, e posso testemunhar que conheci poucos indivíduos com a habilidade do Assad para comandar uma equipe de trabalho. Reunir pessoas com formação diversificada e fazer uso de bases de clima e solos, modelagem e simulação de cultivos, análises de risco e ferramentas SIGs, em uma época de limitação na capacidade de processamento de dados, e com o compromisso de gerar um produto útil e aceito no mercado, hoje pode parecer fácil, mas não foi. Estou convicto, sem Eduardo Assad, não existiria ZARC no Brasil. A compilação do resultado desse esforço e da base conceitual pode ser encontrada na edição especial, dezembro de 2001, da Revista Brasileira de Agrometeorologia (v.9, n.3), que tive o privilégio de ser o editor, junto com Eduardo Assad. Há, ainda, o papel decisivo do Assad na criação, em 2009, do plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, com linhas especiais de financiamento para os produtores rurais brasileiros, além da atuação na coordenação do inventário nacional da emissão dos Gases de Efeito Estufa.
Um líder inconteste. Na Embrapa Cerrados, em Planaltina, criou o Laboratório de Biofísica Ambiental e foi Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento (1996-2000). Na Embrapa Agricultura Digital, em Campinas, foi Chefe-Geral (2005-2009) e, efetivamente, aproximou a Unidade da agricultura. Quem trabalhou com ele não poupa adjetivos – visionário, articulador, trabalhador, líder, competente, etc. -, embora, pela personalidade forte e dominadora, há aqueles que divirjam dele. Entre tantos prêmios que recebeu, destaque para o Frederico Meneses da Veiga (1999) e o Fundação Bunge (2021).
Eduardo Assad, o marido da professora Maria Leonor Assad e pai do Pedro (pianista, compositor e arranjador) e da Alice (bacharel em Hotelaria), deixou a Embrapa, mas não vai parar. Seguirá como professor da Fundação Getúlio Vargas e pesquisador colaborador do CEPAGRI na UNICAMP. Boa sorte Assad! Saia com a certeza que você goza de grande respeitabilidade na Rede ZARC da Embrapa.