O silêncio das vilas
Quando há uma bipolarização no cenário político, além de um divisor ideológico, também observamos condutas distintas de parte a parte. Uma turma fala mais alto e expõe os seus pensamentos abertamente. O outro lado fica mais acanhado, como se estivesse sob ameaça. Isso faz lembrar uma época em que apenas era permitido enaltecer um grupo, enquanto as ações do outro lado tinham características da clandestinidade. Na cabecinha de uma criança isso pode representar um faroeste com rótulos de mocinhos e bandidos. Agora, com essa divisão, nos colocaram numa sinuca de bico. E nesse jogo de bilhar o risco não é apenas cair na caçapa. Sim, tem gente bicando ou usando o bico para muita trela. Ou treta!
Porém, certamente, a abertura do bico é uma conduta que serve de parâmetro para compreensão do momento. Assim, voltamos àquilo que a qualificação imaginária define como bonito ou feio. Em outras palavras, o que é ou não é politicamente correto no momento. Ora, a dimensão dos bicos não está na mídia, nem nas redes sociais e muito menos nos debates públicos. O mais preciso termômetro não tem rótulo partidário, imagem preparada ou posição social. É a maneira como os bicos se comportam próximos ao seu ninho. Essa vitrine encontramos nas bodegas da vida e nas conversas pelas cercas entre vizinhos. É o papo informal que corre solto nas vilas. Centro ou periferia, o comportamento é quase o mesmo. Uns falam mais, outros menos.
Porém, é nas vilas que encontramos maior autenticidade na maneira de ser. Isso também vale para avaliar o momento político. Se o resultado não tem valor científico, a lógica coloquial estará sempre acima da sua própria margem de erros. É uma pesquisa empírica embasada na metodologia dos bares da vida. Olhando de longe, parece-me que as vilas estão muito quietas. Apenas alguns poucos eufóricos saíram para o limpo. Fora isso, prevalecem as conversas reservadas ou ao pé do ouvido. Essa silente conduta das vilas é enigmática. E é exatamente nesse silêncio que poderemos encontrar muitas respostas.
O barulho dos candidatos
Fico abismado ao ouvir buzinas e alto-falantes na campanha política. Nos últimos dias, ocorreram barulhentos desfiles liderados por candidatos a deputado. Além do péssimo exemplo para homens públicos, isso é um desrespeito aos ouvidos alheios. Para produzir ruídos já temos muitos idiotas por aí. Necessitamos de candidatos com propostas para coibir o barulho. Políticos, pelo que sei, teriam a obrigação de transmitir educação e respeitar as leis. Barulho é poluição sonora. Candidato que faz barulho é poluidor. E essa contaminação associa a imagem do candidato à degradação. Então, obviamente, meu voto não acompanha a descompostura dessa péssima conduta.
Celestino Meneghini
Para tristeza dos leitores, nas duas últimas terças-feiras não tivemos a sempre deliciosa coluna de Celestino Meneghini. O motivo é que ele sofreu um tombo na calçada que, pela relação peso-impacto, resultou em delicada fratura no pulso. Agora, ele está sob os cuidados da equipe comandada pelo Professor Osvandré Lech. Ou seja, seu pulso está em ótimas mãos. Ficamos na torcida pela recuperação do Meneghini que, desde os tempos da Planalto, é carinhosamente conhecido no meio como Batatinha. Logo as suas letras, de inimitável lato sensu, estarão de volta com certeiros prefixos e categóricos radicais. Abraço, Meneghini!
Trilha sonora
Hoje, com uma pitadinha de história...
Em 1968 a TV Excelsior promoveu o festival O Brasil Canta no Rio. O vencedor foi o compositor Sérgio Bittencourt. Também conhecido como radialista e jurado de TV, era filho de Jacob do Bandolim. Com o Maracanãzinho lotado, a linda e educada voz de Taiguara levou o troféu de melhor intérprete. A partir disso, ele tornou-se um dos principais cantores do país. Como naquela época a música ainda era arte, o magnífico arranjo é do Maestro Gaya e ao violão o acompanhamento teve o virtuose Dino 7 Cordas. E, de lambuja, Jacob ao bandolim.
Taiguara – Modinha