OPINIÃO

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS, ADITIVOS E PESTICIDAS (3)

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 O medo dos transgênicos e dos aditivos alimentares

           No livro “Tábula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana”, Steven Pinker escreve que o medo generalizado de todos os alimentos artificiais e geneticamente modificados é patentemente irracional se o motivo for a saúde. Isso pode tornar os alimentos mais caros e, portanto, menos acessíveis para os pobres. De onde vêm esses medos equivocados? Em parte, eles nascem da escola de jornalismo dada a apregoar o ¨carcinógeno do dia¨, informando, sem analisar, sobre qualquer estudo que mostre elevação de taxas de câncer em ratos que foram alimentados com megadoses de substâncias químicas.

 A “biologia intuitiva” e o essencialismo

           Uma das razões do medo que as pessoas têm dos transgênicos e dos aditivos alimentares provem do que foi chamado de “biologia intuitiva”, isto é, a crença que existiria uma essência invisível nos seres vivos que lhes dá sua forma e poderes. Esse essencialismo intuitivo faz com que povos tradicionais acreditem em magia por simpatia, também conhecida como vodu. Julgam que objetos de aparência semelhante têm poderes semelhantes. Assim, por exemplo, pessoas consideram que o chifre de rinoceronte moído é a cura para a disfunção erétil. Essa crença ilusória, sem evidências, tem sido trágica para os rinocerontes, que são abatidos por causa dessa crença.

 Enst Mayr (1904-2005), “Darwin do século 20”

 Ernst Mayr, renomado cientista evolutivo, mostrou que os biólogos que rejeitaram a teoria da seleção natural acreditavam que uma espécie era um tipo puro definido por uma essência. Não conseguiam adaptar suas mentes ao conceito de que espécies são populações de indivíduos variáveis e que uma pode fundir-se em outra no decorrer do tempo evolutivo.

  Para Mayr, o medo de alimentos geneticamente modificados não parece tão estranho: ele é simplesmente a intuição humana típica de que todo ser vivo tem uma essência. Julga-se que os alimentos naturais possuem a essência pura da planta ou animal e contêm os poderes rejuvenescedores do ambiente bucólico no qual se desenvolveram. Alimentos geneticamente modificados, ou alimentos contendo aditivos artificiais, são vistos como deliberadamente misturados a uma substância contaminadora, maculada por suas origens em um cáustico laboratório ou fábrica. Os argumentos baseados em genética, biologia e química, evolução e análise de risco tendem a ser desconsiderados quando confrontados com esse arraigado modo de pensar.

 Arroz dourado

         Milhares de crianças em todo o mundo morrem de enfermidades que prosperam ante a deficiência da vitamina A ou ficam cegos pelo resto da vida. Isso acontece em países pobres em que o arroz é um alimento básico. Para enfrentar essa tragédia humanitária, Peter Beyer, professor da Universidade de Friburgo, e seu colega, Ingo Potrykus, da Escola Técnica de Zurich, desenvolveram um arroz capaz de produzir betacaroteno, a partir do qual se produz a vitamina A. A introdução desse arroz transgênico é revolucionária para aqueles países pobres em que as pessoas não têm uma alimentação mais variada, dependendo muito do arroz comum. No entanto, diz Beyer em entrevista ao jornal El País, apesar de mais de trinta de anos de consumo de produtos modificados geneticamente não oferecerem evidências de riscos para a saúde, as reticências do público ante essas tecnologias provocaram uma intensa regulação que dificulta levar ao mercado esses produtos.

 Aditivos alimentares e pesticidas

           Steven Pinker, no livro “Como a Mente Funciona”, afirma que “as pessoas clamam pela proibição de resíduos de pesticidas e aditivos alimentares, embora eles representem riscos mínimos de câncer em comparação com os milhares de carcinógenos naturais que as plantas desenvolveram para deter os insetos que as devoram”.

 Steven Pinker: sugestão de leitura

O leitor já deve ter percebido as seguidas referências ao cientista e escritor Steven Pinker. É um dos nomes mais festejados na área da ciência. Seus livros vendem milhões em todo o mundo, porque são fundamentais para iluminar o comportamento humano. Seus principais livros editados no Brasil: “Como a mente funciona”, “Tábula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana”, Os Anjos Bons da Nossa Natureza: porque a violência diminuiu”, “O Novo Iluminismo: em defesa da razão, da ciência e do humanismo”. 

 

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