OPINIÃO

O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo (3)

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Intelectuais, pessimismo e progressobia (1)

           A ideia de que o mundo é melhor do que já foi e pode tornar-se ainda melhor saiu de moda entre os intelectuais há muito tempo, diz Pinker. Eles odeiam o progresso, embora usem em suas críticas utilizando um computador em vez de pena e tinteiro. Preferem submeter-se a uma cirurgia com anestesia em vez de sem. É a própria ideia de progresso que exaspera os intelectuais críticos. Os profetas do apocalipse são estrelas do currículo de ciências humanas: Nietzche, Schopenhauer, Heidegger. Theodor Adorno, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jean-Paul Sartre, Frantz Fanon, Michel Foucault, Noam Chomsky, dentre muitos outros.

           Experimentos mostraram que um crítico que desanca um livro é visto como mais competente do que um crítico que elogia a obra. Isso também vale para os críticos da sociedade. Preveja o pior e você será aclamado como profeta. O pessimismo é igualado à seriedade moral. Os jornalistas acreditam que, ao acentuarem o negativo, estão cumprindo seu dever de vigiar, investigar, informar e afligir os acomodados. E os intelectuais sabem que podem alcançar uma importância instantânea apontando um problema não resolvido e teorizando que se trata de um sintoma de uma sociedade doente.

 Intelectuais e o "Ritual da grande recusa" (Melchior)

           José Guilherme Merquior (1941-1991) chamou de “ritual da grande recusa” a tendência de se tomar a denúncia global do regime econômico e do sistema social como prova suficiente de espírito crítico. Em tom semelhante, Raymond Aron (1905-1983), um dos mais lúcidos sociólogos do século XX, disse que os intelectuais franceses não buscavam nem entender o mundo nem transformá-lo, mas denunciá-lo.

           Matt Ridley (1958), no extraordinário livro “O Otimista Racional”, diz que uma aliança implícita se desenvolveu entre reacionários e radicais, entre aristocráticos nostálgicos, conservadores religiosos, ecólogos fundamentalistas e anarquistas irados, para persuadir as pessoas que elas deveriam estar ansiosas e alarmadas. (...) Os viciados em apocalipse (apocaholics) exploram e lucram com o pessimismo natural humano, o reacionário inato em toda pessoa. Durante 200 anos os pessimistas tiveram todas as manchetes, muito embora os otimistas estivessem certos com muito mais frequência.

 Intelectuais semeiam o pessimismo

Karl Popper (1902-1994) disse que os intelectuais costumam fazer críticas injustas sobre a sociedade ocidental e, com isso, semeiam o pessimismo, inoculando nos jovens o desânimo e o desprezo sobre a “sociedade aberta”, a mais livre, próspera e justa que a humanidade conheceu. Popper dizia ser um otimista em um mundo em que a intelligentsia decidiu que a pessoa deve ser pessimista se quer estar na moda.

  

John Stuart Mill (1906- 1873) e Friedrich Hayek ((1899-1992)

           Mill é considerado um dos pensadores mais influentes da língua inglesa, um dos mais proeminentes e reconhecidos defensores do liberalismo político e do socialismo liberal. Ele percebeu que, em geral, o pessimismo intelectual é levado mais a sério do que o otimismo. “Tenho notado” – disse ele – “que não é o homem que mantém a esperança quando os outros se desesperam, mas sim o homem que se desespera quando os outros têm esperança que é admirado como sábio por um grande número de pessoas.”

           Hayek, um dos maiores defensores do liberalismo clássico, também percebeu essa tendência intelectual: “Confiança implícita nos benefícios do progresso passou a ser vista como sinal de mente superficial.”

 Adam Smith (1723-1790)

           Autor do livro “Uma investigação sobre a Natureza e a Causa da Riqueza das Nações”, livro que fundou a ciência econômica e que ainda é utilizado como referência por gerações de economistas, foi outro grande pensador que já tinha notado que os pessimistas têm sido sempre onipresentes e sempre festejados. Ele escreveu: “Não se passaram cinco anos sem que algum livro ou panfleto fosse publicado pretendendo demonstrar que a riqueza da nação declinava rapidamente, o país se despovoava, a agricultura era negligenciada, as manufaturas decaiam, o comércio estava acabado”,

 

 

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