Quem teve o privilégio de, na última sexta-feira (8/11/2024), assistir, às 19h, na sede da Academia Passo-Fundense de Letras, à “Mateada Literária Luis Lopes de Souza”, saiu desse encontro com a sensação de que a emoção é o sentimento que mais pode unir as pessoas em prol de uma causa, especialmente quando se trata de uma boa causa. Então não é por outra razão que o livro da poetisa Tatiane da Rosa Crestani, uma das artistas que abrilhantou o evento, lançado em 2024, é intitulado A POESIA NOS UNE, pois poesia é, acima de tudo, emoção.
A “Mateada Literária da Academia Passo-Fundense de Letras”, atualmente chamada de “Mateada Literária Luis Lopes de Souza”, surgiu por inciativa do então acadêmico Luis Lopes de Souza (15/09/1968 – 21/08/2022). O objetivo era a preservação da cultura poética gauchesca no espaço institucional do Sodalício das letras locais. E, frise-se que, seja sob o comando de Luis Lopes de Souza e, posteriormente à sua morte, sob a coordenação do acadêmico Alexandre da Rosa Vieira, esse papel tem sido cumprido com maestria pela Academia Passo-Fundense de Letras, ao ter as suas portas abertas à juventude tradicionalista e por buscar preservar a memória dos poetas gauchescos e suas obras.
Luis Lopes de Souza foi um “imortal” da Academia Passo-Fundese de Letras. Até em razão disso ele “não morreu”. Quando morre um poeta, o próprio Luis Lopes de Souza escreveu, “As musas, chegam silentes... Param mórbidas no esquife... Mas e agora? Quem cantará de alma pura... E quem vai chorar por elas... Elas mereciam mais... O poeta é transcendente, mas se apaga na história, e as musas são os anjos que eternizam, sua memória!”. Ledo engano, Luis! Você, POETA, não se apagou na história. Apesar do seu, hoje clássico e premiado “Adeus ao velho poeta”, como você mesmo destacou “...resta o silêncio gelado do velho e ousado poeta”, as musas que sosseguem. O teu canto não vai calar. A tua luz e alegria não vão morrer nunca. Você continuará vivendo cada vez que alguém declamar um dos seus muitos poemas. Os livros de Luis Lopes de Souza – Retorno (1989); Prece (1995); Do canto rude dos loucos (2015); e No sarau dos meus fantasmas (2022) – foram, são e continuarão sendo, avidamente, consultados nos meios tradicionalistas do Rio Grande do Sul.
Deleitem-se com os versos de Luís Lopes de Souza. Dos poemas, No sarau dos meus fantasmas, que dá título ao livro de 2022, que tive o privilégio de assinar a apresentação: “Voltei da boca do inferno/ já nem sei se sou humano...!” (...); de Prólogo dos versos que ainda não fiz: “"Me gusta" de um verso livre.../ Velhas primícias prosaicas/ desprovidas de resumo” (...); de Casmurro: “Hoje a inquietude me perturba / numa ressaca de incertezas e medo...”; de Maria... A louca: “Todo o pago conhecia,/ a louca, chamavam.../ mas seu nome, qual seria?” (...); e, confessadamente, os preferidos do poeta, de, Nos tempos em que eu escrevia: “Nos tempos em que eu escrevia.../ Meus versos cruzavam raros/ por entre réstias e sombras/ de um povoado imaginário.../ os lampiões esmaecidos/ escondiam os gemidos/ entre o mutismo e o medo,/ se apagando nos segredos/ dos romances proibidos…” (...).
Na Mateada Literária de 2024, que teve a apresentação de Alexandre da Rosa Viera, amadrinhados pelos músicos Vanderlei Carniel e Victor Von Dentz, além do próprio Alexandre, fizeram uso do microfone, as declamadoras Bárbara Vieira, Ana Clara Carniel, Sofia da Rosa Crestani, Laurem Gueno, Paula Rosa e, encerrando a festividade, a convidada especial, Tatiane da Rosa Crestani, que prestou o seu tributo à memória de Luis Lopes de Souza, declamando, de autoria própria, “Réquiem pra tua luz”.
Nos versos do poema “Réquiem pra tua luz”, Tatiane da Rosa Crestani, que, na adolescência, começou a sua trajetória de declamadora premiada pelos poemas de Luis Lopes de Souza, “A filha do doutor” foi um desses, imortalizou em versos a admiração pela obra do ilustre poeta gauchesco que tão cedo nos deixou. Escreveu Tatiane, nos versos de abertura: “Meu amigo companheiro,/ hoje venho despedir-me.../ abrindo o umbral do brete/ tu te vais, no teu caminho,/ com serenidade e paz,/ pois jamais foi um proscrito. (...) e finalizou: “Meu amigo companheiro/ foi mais um que se bandeou/ para os pagos do além./ Somente o sopro dos ventos/ faz repouso em sua cruz,/ pois quando parte um amigo/ parte também nossa luz!”.
Ainda lamento, conforme escrevi aqui nesse espaço de O NACIONAL, quando da morte do poeta Luis Lopes de Souza, que, naquele fatídico final de semana, 21 de agosto de 2022, em Bagé, antes de sair de cena para repousar, Luis Lopes de Souza, quem sabe rememorando versos de Apparicio Silva Rillo, até tivesse segredado para si mesmo, “hoje é um dia bom pra se morrer...”. Mas, foi pena, Luis, que, tal qual o personagem dos versos de Rillo, você não tivesse refletido “hoje é um dia bom pra se morrer, mas não é o dia ideal...”, e voltado para receber os aplausos dos pares que o aguardavam.
SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “El Niño Oscilação Sul – Clima, Vegetação e Agricultura” está disponível para download gratuito: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1164333/el-nino-oscilacao-sul-clima-vegetacao-e-agricultura