O ano foi marcado por convulsões geopolíticas, algumas novas e outras nem tanto. A conclusão é inevitável: observamos ainda mais a decadência do sistema multilateral e dos seus mecanismos de funcionamento, a prevalência de sociedades fechadas e o relativo déficit de lideranças internacionais capazes de lidar com a realpolitik. As guerras perduram, alheias a qualquer tentativa de controlá-las. Por mais que se busquem soluções, o sistema multilateral não é capaz mais de lidar com os desafios presentes, onde a anarquia continua a reinar, transformando o mundo em um laboratório de aventureiros, que não têm nada a perder. Vimos, também, uma maior organização e alinhamento entre sociedades fechadas, um eixo de autocracias estruturado no BRICS, cujo mando se dá pelas mãos sino-russas, com apoio periférico de economias e líderes que simpatizam com a promessa de um novo mundo, regido pelas autocracias e sem espaço para o dólar. O déficit de lideranças ocidentais é um marcador relevante de 2024. A decadência de alguns líderes europeus é notável, com destaque ao alemão, que não conseguiu manter o apoio de sua coalizão, levando a economia para um lugar desfavorável. Já o líder francês quer brincar de chefe europeu. O fato é que a Europa deveria ter crescido muito mais.
Um evento definidor
Outro marcador geopolítico relevante foi certamente a eleição americana. Em um mundo com um déficit de lideranças, a chegada de Trump poderá modificar a conjuntura geopolítica, a depender de como vai lidar com as questões-chave do momento. Em termos práticos, já afirmou que vai penalizar, em termos tarifários, os países que propuserem a substituição do dólar, denotando que os próximos anos poderão ser marcados por uma guerra tarifária, a fim de ajustar a economia global, hoje fortemente dependente das autocracias.
Guerras
A guerra na Ucrânia está no seu terceiro ano. Putin não conseguiu atingir qualquer objetivo estratégico considerável. A guerra de atrito prevalece e afasta qualquer tentativa de acordo de paz. Iniciar um conflito é fácil, o difícil é terminar. O Oriente Médio segue turbulento e com novas frentes de guerra, como vimos com os terroristas do hezbollah. Novas armas são testadas nos campos de batalha e, entre elas, os poderosos mísseis russos. A OTAN se fortaleceu ainda mais neste ano. Alguns ditadores caíram, como vimos na Síria.
Política externa brasileira
Para a política externa brasileira, foi mais um ano de decadência. A cena com Maduro foi um teatro farsesco. O alinhamento com as autocracias e a subserviência aos ditadores, deprimente. Lula também comprou o discurso sobre a demonização do dólar como moeda financeira internacional, aderindo ao coro dos líderes do BRICS, cuja promessa é a de trocar o sistema vigente por alguma aventura típica de ditadores. O acordo do Mercosul avançou um pouco, mas não há qualquer garantia que de fato ele entre em vigor. O Mercosul deveria ter se refeito por primeiro. Na semana que vem, falaremos um pouco sobre os riscos geopolíticos para o ano de 2025, desejando a todos os nossos leitores um abençoado Natal.