Enquanto a posse de Trump se aproxima, no dia 20 de janeiro, ele já dá indícios de uma profunda ressignificação no panorama da política externa americana para os anos vindouros. Em um mundo onde os líderes internacionais não conseguem mais impor agendas, ditadores acharam espaço para dar vazão às suas aventuras. Parece que Trump acerta nesse sentido, de propor uma ressignificação que coloque os EUA novamente como a principal superpotência global, influenciando a agenda internacional e demovendo o apetite do eixo das autocracias ou do “quarteto do caos” (China, Rússia, Irã e Coréia do Norte). Recentemente, Trump fez uma série de declarações, carregadas por um simbolismo expansionista, entre elas: 1) a de que o Canadá poderia ser o “51º Estado americano”, sendo a linha fronteiriça entre os EUA e Canadá, “artificialmente traçada”; 2) a de que a Groenlândia seria um território essencial à economia americana (ele pertence à Dinamarca) – uma vez que é uma passagem entre EUA e Europa e uma reserva importante de terras raras; 3) a retomada do Canal do Panamá por questões de segurança internacional; e 4) que poderia renomear o Golfo do México para “Golfo da América”. Grande parte das declarações ocorreram enquanto anunciava um investimento bilionário nos EUA, na retomada da atenção dos investidores internacionais para uma nova economia.
A mensagem
Por mais que os desdobramentos dos anúncios sejam pouco factíveis e de alta complexidade, Trump ressignifica a sua mensagem para um mundo onde ditaduras se aventuram como querem, ou seja, a de que os EUA reassumirá o seu papel de superpotência dominante, controlando o comércio internacional (guerra tarifária) e dissuadindo militarmente as ações contrárias aos interesses americanos. Trump quer ocupar o espaço deixado pela decadência dos líderes ocidentais recentes, que não demonstraram força para regular um mundo à sorte da lógica anárquica. A mensagem é direta também à aliança russo-chinesa, para que não se aventurem no hemisfério ocidental. Todavia, há um risco embutido na mensagem. Na medida em que Trump revela a sua ideia expansionista com relativa facilidade, isso poderia estimular as ditaduras aventureiras a buscarem projeção internacional ainda maior, como resposta. Ao mesmo tempo em que dá um novo tom à política externa americana, possibilita narrativas de outras partes também, como China e Rússia, pois, se Trump pode ser expansionista, por qual razão não seremos também?
Reequilíbrio de forças
Em que pese as manifestações de Trump restrinjam-se ao perímetro econômico e de segurança internacional mais imediatos aos EUA, ele inicia um reequilíbrio de forças que poderá se estender, principalmente se tomarmos as guerras mais distantes e até mesmo as conturbadas vias marítimas internacionais, que necessitam atenção. O tempo dirá se o discurso pragmático de Trump em relação à guerra na Ucrânia e no Oriente Médio será eficaz para dar um desfecho aos aludidos conflitos. Será necessário observarmos como a reação internacional das ditaduras em relação às manifestações de Trump, dar-se-á: o mais preocupante é que a reação não seja um discurso também, mas se não, ações concretas e novas aventuras.