O SENTIDO DA VIDA (2)
O sentido da vida é um tema instigante. Para a ciência, a vida não tem um sentido determinado, cabe a nós darmos a ela um significado. A vida de um homem não tem importância maior para o universo do que a de uma ostra, escreveu o filósofo britânico David Hume (1711-1786). Para as religiões, o sentido da vida reside na obediência aos mandamentos, contidos em documentos como a Bíblia, o Torá e o Alcorão. Para a maioria das religiões, a vida verdadeira, bem-aventurada, estaria numa existência após a morte. Não é pequeno o número de pessoas que afirmam que a vida na Terra é “um vale de lágrimas”, sendo apenas uma passagem para outra vida após a morte.
A vida é curta
Tem gente que acredita existir uma alma que vive depois que o corpo morre. Outros, que essa crença desvaloriza nossa vida terrena. “Alusões a uma existência feliz depois da morte são típicas nas últimas cartas de pais que tiram a vida dos filhos antes de suicidar-se”. Essas crenças “encorajam homens-bombas suicidas e sequestradores camicases. Susan Smith, que afogou seus dois filhos em um lago, teria apaziguado sua consciência racionalizando: “meus filhos merecem o melhor, e agora o terão”. No entanto, “nada dá mais significado à vida do que a percepção de que cada momento de sensibilidade é uma dádiva preciosa. Quantas brigas foram evitadas, quantas amizades se renovaram, quantas horas deixaram de ser desperdiçadas, quantos gestos de afeição foram oferecidos porque às vezes nos lembramos de que ‘a vida é curta’.”
A condição humana é um labirinto
Somos moscas em uma garrafa ou peixes em uma rede, pergunta Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo político italiano. Para ele, a condição humana pode ser configurada melhor em uma terceira imagem: a do labirinto. “Cremos saber que exista uma saída, mas não sabemos onde se encontra. Não havendo ninguém além de nós que nos possa indicá-la, temos de procurá-la sozinhos. Depois de buscar um sentido para a vida, percebemos que não faz sentido levantar a questão do sentido, e que a vida deve ser aceita e vivida no que tem de imediato, como faz a grande maioria dos homens. Mas quanto esforço é necessário para chegar à essa conclusão.”
Uma xícara de chá
A procura de um sentido para a vida também tem sido tratada com bom humor, como essa anedota: “Um estudioso ouviu dizer que o guru mais sábio de toda a Índia vive no alto da montanha mais alta da Índia. Então ele atravessa mundos e fundos para chegar até a montanha famosa. Ela é incrivelmente íngreme e mais de uma vez ele escorrega e cai. Quando chega ao alto, está todo cheio de cortes e hematomas, mas lá está o guru, sentado de pernas cruzadas diante de sua caverna.
- Ó, sábio guru - diz o estudioso - vim lhe perguntar qual é o segredo da vida.
- Ah, sim, o segredo da vida - diz o guru. O segredo da vida é uma xícara de chá.
- Uma xícara de chá? Eu vim até aqui em cima para descobrir o sentido da vida e o senhor me diz que é uma xícara de chá?
- Bom, então talvez não seja - diz o guru, dando de ombros.”
Life sucks
Steven Pinker refere-se a um certo pessimismo com que a vida é tratada. Segundo a Primeira Verdade Sagrada de Buda, “o nascimento é doloroso, a velhice é dolorosa, a doença é dolorosa, a morte é dolorosa...” Trecho de uma letra de rock: Life sucks, then you die (“A vida é uma droga, e depois você morre”).
Luzes na Caverna
BOBBIO, Norberto, O Tempo da Memória.
CATHCART, Thomas & KLEIN, Daniel. Platão e um ornitorrinco entram num bar... A filosofia explicada com senso de humor.
PINKER, Steven, Tábula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana.