Em tempos escaldantes (e, nesse verão de 2025, no sul do Brasil, usar essa expressão não é linguagem figurada), nem todos tem a obrigação de saber como se mede (ou deveria se medir) a temperatura do ar. Então não é surpresa que muitos se deparem com termômetros, nas vias públicas, marcando temperaturas elevadíssimas e aleguem espanto: “Nossa, passei no centro, faz pouco minutos, e, no termômetro da praça, estava 50,0 °C. Isso pode?” Pode, mas é útil saber por que esse fenômeno, que não é raro de ser observado no verão, acontece.
Atente para o nome da variável: temperatura do ar. Logo, como está bem-explicitado na denominação, o que deveria ser medido é a temperatura do ar. Eis a razão porque, seja nas estações meteorológicas convencionais, cujos termômetros funcionam tendo o álcool ou o mercúrio como elementos sensíveis (dilatação e contração) às variações térmicas, ou nas estações meteorológicas automáticas (com eletrônica embarcada), cujas medições de temperaturas são feitas por meio de termopares (condutores metálicos, com metais diferentes pareados, que geram uma diferença de potencial elétrico proporcional à diferença de temperatura entre as suas extremidades), esses instrumentos estão colocados em abrigos meteorológicos padronizados (pintados de branco e paredes duplas e com aletas invertidas para o ar ficar parado no seu interior) e instalados a 1,5 m acima do nível do solo gramado.
Entenda que, quando o elemento sensível às variações térmicas de um termômetro, seja um modelo convencional analógico ou um modelo eletrônico a base de termopar, está exposto à radiação solar direta ou é colocado apenso a uma parede, pela sua pequena quantidade de massa, esse instrumento acaba refletindo a sua própria temperatura ou entra em equilíbrio com a temperatura da parede. Portanto, não mensurando adequadamente a temperatura do ar, que, em tese, seria o propósito. Algo similar, especialmente no verão, pode se passar com alguns desses termômetros digitais das vias públicas, com sensores dentro de caixas metálicas, não raro, pintadas em cores escuras ou preta mesmo, que marcam temperaturas elevadíssimas, quando se compara com as medições padronizadas do serviço meteorológico nacional. Ou seja, mensuram a temperatura do invólucro que estão acondicionados. No entanto, isso acontece nas excepcionalidades ou com instrumentos avariados, pois, na maioria das vezes, as medições desses termômetros são boas indicações do quão quente ou quão frio está o ambiente no seu entorno.
Outras medições de temperatura que causam espanto nas redes socias são as fotografias de termômetros colocados nos solos ou sobre o dossel de plantas em lavouras. Os valores, na maioria das vezes, em meio a estiagens como a atual no Rio Grande do Sul e sob Sol escaldante, são elevados. A razão é a mesma. Instrumentos, sob condições de temperaturas elevadas, expostos à radiação solar direta, refletindo a sua própria temperatura mais do que a temperatura do ar ou da superfície onde foram colocados. O ideal, para medições de temperaturas de superfícies, é o uso de termometria infravermelha. Lembrem-se, aulas de Física do ensino médio, que todo corpo com temperatura acima do zero absoluto emite energia proporcional a sua temperatura elevada na quarta potência.
Onda de calor é outra expressão que causa alguma estranheza na maioria da população, apesar dos seus efeitos serem facilmente perceptíveis nesse verão de 2025, no sul do Brasil. O Instituto Nacional de Meteorologia, Inmet, adota o critério para emitir alertas e caracterizar onda de calor quando a temperatura máxima do ar atinge, pelo menos, 5,0 °C acima do padrão da climatologia regional para a temperatura média mensal das máximas, persistindo por alguns dias: perigo potencial/alerta amarelo (2 a 3 dias), perigo/alerta laranja (3 a 5 dias) e grande perigo/alerta vermelho (por mais de 5 dias). A Organização Meteorológica Mundial, para caracterizar uma onda de calor, exige desvio mínimo de 5,0 °C por 5 ou mais dias consecutivos.
Em geral, no sul do Brasil, ondas de calor, no verão, estão associadas com a presença de uma massa de ar tropical continental, quente e seca, com origem na região do Chaco, que penetra no continente pelo Oeste e acaba bloqueada por um centro de alta pressão que impede o seu avanço.
Fica o alerta. Ondas de calor exigem cuidados especiais, hidratação e conforto térmico, para com os vulneráveis. Não se olvidem, cavalo velho, nesse Rio Grande de São Pedro, costuma morrer no verão (não em agosto como reza o ditado popular), quase sempre desidratado por ter, com o avanço da idade, diminuída a sensação de sede e não beber água.
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