A atual guerra empreendida pela Rússia contra a Ucrânia trouxe à tona uma série de questões no plano internacional, sendo talvez a mais relevante o declínio econômico e político da Europa. O conflito expôs a dura realidade de um continente ainda muito dependente da energia russa, o que obrigou a reformulação de estratégias para lidar com o aumento do custo de vida europeu. A economia europeia praticamente estagnou, enquanto o seu prestígio na política externa se desgastou. No âmbito diplomático, os líderes europeus não conseguiram estabelecer uma linha de negociação eficaz com Putin para pôr fim à guerra. Com o retorno de Trump ao cenário internacional, os líderes europeus parecem ter saído de uma zona de conforto. A visita de Macron a Trump evidenciou essa mudança. Um dos motores da Europa é a Alemanha, cuja economia estagnada reflete escolhas feitas no passado. No livro Kaput: O Fim do Milagre Econômico Alemão, Wolfgang Münchau apresenta uma análise atual da economia alemã e as suas fragilidades estruturais.
Kaput
O autor sustenta que o milagre econômico alemão ficou no passado. A conjuntura mudou radicalmente e algumas decisões anteriores têm impactos diretos na realidade atual. Durante anos, a economia alemã se beneficiou do gás russo barato, uma política adotada por Merkel. No entanto, essa dependência se tornou um problema. Segundo Münchau, a Alemanha possui uma das piores redes de telefonia móvel da Europa, e seu exército ainda utiliza fax como meio de comunicação. Além disso, a economia alemã depende excessivamente de setores como a indústria automobilística e a química, o que limita a sua resiliência diante de mudanças tecnológicas. A transição para os veículos elétricos, por exemplo, deixou a Alemanha para trás. Nos últimos anos, reformas econômicas foram negligenciadas. Com o aumento dos custos de vida, uma consequência direta da guerra na Ucrânia, o governo de Olaf Scholz entrou em colapso. O SPD, partido de centro-esquerda, contribuiu para o aprofundamento da crise econômica alemã.
Esperança?
Nas recentes eleições, a direita ganhou força, com o CDU de Friedrich Merz assumindo a liderança no Bundestag, enquanto o AfD se tornou a segunda maior força política do país. Em terceiro lugar, em uma amarga derrota, ficou o SPD. Diante desse cenário, o CDU provavelmente buscará uma composição com o SPD para formar uma "grande coalizão", uma vez que Merz descartou alianças com o AfD, por considerar o seu programa excessivamente radical. Após a formação do governo – que exige maioria simples de 316 assentos no Bundestag –, Merz enfrentará uma série de desafios, começando pela recuperação econômica e pela reposição da credibilidade internacional alemã. No tocante à guerra na Ucrânia, os líderes europeus deveriam assumir a iniciativa das negociações pela paz, em vez de continuar enviando armamentos indefinidamente a Zelensky. Ao que tudo indica, Trump buscará um acordo priorizando os interesses americanos nos minerais ucranianos. Se a Europa não redefinir a sua liderança, perderá protagonismo econômico e internacional, ficando a reboque da política de Washington.
Todavia, um eventual acordo mediado por Trump poderá ser tanto um sucesso quanto um fracasso, dependendo das garantias oferecidas e dos desdobramentos das futuras ações de Putin.