São raros os passo-fundenses, ainda vivendo nessas plagas, que, naquela manhã do dia 15 de outubro de 1966, estiveram presentes no saguão do Cine Pampa (que não existe mais), para prestigiar o jovem escritor Gilberto Borges e a sua estreia no mundo das letras com o lançamento do livro “Uma terra à procura do céu”. O romance de Gilberto Borges foi o terceiro produzido em Passo Fundo e, pelo que é conhecido, o primeiro de um autor genuinamente passo-fundense. O advogado Jurandyr Algarve, que, sob o pseudônimo Montclair, assinou o folhetinesco Marta, publicado em1947, nasceu em Laguna, SC. E o jornalista Jorge Edeth Cafruni, autor do romance indianista Irapuã, com edições em 1955 e 1962, era natural de Porto Alegre.
Gilberto Borges, na visão do escritor Paulo Monteiro, membro da Academia Passo-Fundense de Letras, foi a nossa melhor promessa de ficcionista. Infelizmente ficou na promessa. Uma vez formado engenheiro-agrônomo e constituído família, o lado prosaico da vida o levou para outros caminhos. Nas lembranças dos amigos — Pedro Du Bois (in memoriam), Geraldo Fernandes, Khaled Ghoubar, Hugo Lisboa, Carlos Alceu Machado e Ivaldino Tasca — Gilberto Borges, o Gigi, é descrito como uma pessoa simples, politicamente engajado, às vezes solitário, até certo ponto tímido, sedutor, bem-humorado, algo melancólico, extremamente ético, franco, respeitoso, fraterno e amante da cultura.
Formado em Agronomia, pela primeira turma da UPF, em 1970, casado com Florinda Endres e pai da Bárbara e da Ana Maria, Gilberto Borges foi trabalhar em Ponta Grossa, no Paraná. De volta a Passo Fundo, no final dos anos 1980, fundou, em sociedade com Ivaldino Tasca, a editora Aldeia Sul e passou a publicar o Jornal do Plantio Direto. Mais tarde criou a Aldeia Norte Editora e continuou com o Jornal do Plantio Direto, depois transformado em Revista Plantio Direto e, tempos mais tarde, em Plantio Direto &Tecnologia Agrícola. Casou-se com a Juliane Borges e é pai do João Manoel e do Santiago.
Foi graças ao entusiasmo e ao idealismo do engenheiro-agrônomo Gilberto de Oliveira Borges que a semente de uma das principais feiras do agronegócio brasileiro, a EXPODIRETO COTRIJAL, um dia, foi plantada, germinou, cresceu e, uma vez manejada com esmero de ourives pela direção e equipe da Cotrijal, atingiu o prestígio que hoje goza.
Há quem diga que a EXPODIRETO começou em Passo Fundo. Não é verdade. Nossa cidade sediou diversos eventos, nacionais e internacionais, ligados ao Sistema Plantio Direto (Seminários, Encontros, Reuniões, Feiras, etc.), mas nenhum que tivesse levado o nome EXPODIRETO. Todavia, se alguém quiser dizer que houve uma primeira EXPODIRETO, no RS, deve fazer referência a I EXPODIRETO, que marcou os “10 anos do Clube do Plantio Direto com Cultivo Mínimo de Arroz Irrigado”, realizada na Fazenda Cerro do Tigre, em Alegrete, nos dias 6 e 7 de janeiro de 1994. Inclusive, consta que, alguns anos depois, Gilberto Borges consultou o Clube do Plantio Direto de Arroz Irrigado, cuja diretoria prontamente anuiu, sobre a possibilidade de utilizar o nome EXPODIRETO para denominar um evento que estava organizando na cidade de Carazinho.
Sobre a intenção de realizar uma EXPODIRETO em Passo Fundo, quatros pessoas discutiram e trabalharam muito para materializar essa ideia. Gilberto Borges, pela Revista Plantio Direto, Antoninho Luiz Berton (in memoriam), pela Emater/RS, Rainoldo Alberto Kochhann, pela Embrapa Trigo, e Luiz Graeff Teixeira (in memoriam), como presidente do Clube Amigos da Terra de Passo Fundo. A realização da Expodireto 99 na propriedade de Luiz Teixeira, em Coxilha, chegou a ser cogitada. Mas não se viabilizou economicamente. Foi então que Antoninho Berton, que era amigo do diretor do Centro Rural de Ensino Supletivo (CRES), professor Celito Lorenzi, aproximou o grupo daquela instituição, e assim acabou sendo realizada a Expodireto 99 – I Exposição e Demonstração de Máquinas, Implementos e Tecnologias para Plantio Direto, na área do CRES, em Carazinho, junto à Rodovia BR 285, de 24 a 27 de março de 1999.
A posição regional privilegiada, o sucesso da Expodireto 99 e a demanda de novas empresas para participar exigiam mais e melhor estrutura para os eventos futuros. E assim, novamente, Gilberto Borges, à frente da revista Plantio Direto, levou a ideia à direção da Cotrijal, que abraçou a causa e o resultado foi a EXPODIRETO COTRIJAL 2000, a primeira da série Cotrijal, realizada em Não-Me-Toque, de 21 a 24 de março de 2000.
Depois do livro “Uma terra à procura do céu”, Gilberto Borges pode exercitar a sua verve literária nos editoriais e nas reportagens para o Jornal e Revista Plantio Direto, além da sua obra derradeira, “Nonô Pereira - 25 anos plantando na palha”, concluída cinco dias antes da sua morte, aos 55 anos, em 31 de agosto de 2002.
Nunca é demasiado dar os devidos créditos a quem de direito merece receber. Se o talento literário de Gilberto Borges, hoje nome de rua no coração do Bairro Cidade Nova, não achou o céu merecido, ele, indiscutivelmente, se materializou na EXPODIRETO.
(Informações compiladas a partir de colunas publicadas em 05/04/2019 e 01/03/2024).
SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “El Niño Oscilação Sul – Clima, Vegetação e Agricultura” está disponível para download gratuito: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1164333/el-nino-oscilacao-sul-clima-vegetacao-e-agricultura