OPINIÃO

CONSERVADORES, PROGRESSISTAS, REACIONÁRIOS (3)

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EDMUND BURKE: FUNDADOR DO CONSERVADORISMO MODERNO

           O irlandês Edmund Burke (1729-1797) é reconhecido como o fundador do conservadorismo político moderno. Além de filósofo e teórico político, foi membro destacado do Parlamento londrino pelo Partido Whig, agremiação de tendências liberais que se contrapunha ao Partido Tory, de inclinação conservadora.

 

CONSERVADOR NÃO É REACIONÁRIO

Burke é um exemplo de que o verdadeiro conservador não é um reacionário. Ele inspirou tanto conservadores quanto liberais. Apoiou a Revolução Americana (1776-1783), mesmo sendo um deputado inglês. Defendia a restrição dos poderes dos reis ingleses, a liberdade de comércio e a tolerância religiosa. Foi um oponente avançado do comércio de escravos. A política, para ele, não se baseava na manutenção da ordem existente (status quo), mas devia ser feita com um mínimo de prudência e moderação. A política, disse ele, precisava respeitar “um princípio seguro de conservação e um princípio seguro de transmissão, sem excluir um princípio de melhoria”.

 

CRÍTICA DA REVOLUÇÃO

           O livro “Reflexões sobre a Revolução na França”, que Burke publicou em 1790, quando o processo revolucionário francês recém tinha iniciado, foi premonitório. Como mostrou Christopher Hitchens, Burke compreendeu antes de qualquer outra pessoa que as revoluções devoram os seus próprios filhos, como teria dito Vergniaud (1753-1793), revolucionário girondino executado na guilhotina. Para o leitor interessado: o grande pintor espanhol Francisco de Goya tem uma pintura impressionante e perturbadora de Saturno devorando seu filho.

 

O TRÁGICO ERRO DAS REVOLUÇÕES

           A ação revolucionária obedece ao que Burke chamou de “princípio da preguiça”, a preguiça de quem é incapaz de pacientemente estudar e reformar a sociedade real. Os revolucionários não percebem que a história das civilizações é feita de um longo depósito de tradições, de prudência e de moral incorporado nos usos, nos costumes e nas instituições. O grande erro das revoluções é a destruição de instituições seculares, lançando a sociedade no caos, no arbítrio e na violência. A Revolução Francesa levou ao Terror Jacobino, com a execução de milhares de pessoas e acabou na ditadura napoleônica. Apesar desse período trágico, da execução de milhares de inocentes (nesse tipo de ditaduras não existem inocentes), da decapitação do rei Luís 16 e da rainha Maria Antonieta, os Bourbons voltaram ao poder com Luís 18.

 

AS REVOLUÇÕES RUSSA E CUBANA

           A história mostrou o acerto das críticas às revoluções feitas por Edmund Burke. A Revolução Russa de 1917 criou um regime totalitário com a supressão total das liberdades individuais e sociais e levou à morte milhões de pessoas, incluindo a maioria da velha guarda bolchevique. O comunismo soviético só terminaria em 1991, desaparecendo “numa espécie de nada”, como disse François Furet. A Revolução Cubana de 1959, que tanta admiração e entusiasmo provocou na esquerda mundial, especialmente a latino-americana, evoluiu para uma ditadura burocrática, autoritária e ineficiente. Uma sociedade paralisada, uma economia estagnada, um povo que se vê sem futuro, com centenas arriscando a vida para fugir do regime cubano. A Berlim comunista criou um muro para que os berlinenses não fugissem para a Alemanha democrática. Cuba não precisou construir um muro de cimento e aço porque tem um “muro aquático”.

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