“Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair”. Esta sentença de São Paulo é provocativa para fazer o exame de consciência neste momento oportuno da quaresma, para tomar consciência da realidade e do lugar onde nos encontramos pessoalmente, como Igreja e como sociedade (Êxodo, 3,1-8.13-15, Salmo 102, 1 Coríntios 10,1.6.10-12 e Lucas 13,1-9).
O santo Evangelho relata que algumas pessoas trazem duas notícias trágicas para Jesus. Elas são semelhantes a tantas notícias do nosso cotidiano. A primeira é um massacre ordenado por Pilatos contra um grupo de galileus no templo, tendo o sangue deles misturado com as ofertas. A segundo relato é o desabamento de uma torre que mata dezoito pessoas. Jesus comenta os dois fatos trágicos. Ajuda a fazer o discernimento para conduzir a reta interpretação e, deste modo, corrigir as falsas conclusões ou as condenações injustas.
Os fatos motivam Jesus a guiar seus ouvintes à necessidade da conversão. Não propõe a conversão em termos moralistas, mas realistas. Perante certas desgraças as certezas humanas entram em crise. Não se pode simplesmente descarregar a culpa em alguém. Diante da precariedade da existência humana deve-se assumir uma atitude de responsabilidade. A atitude correta, segundo Jesus, é converter-se. Ninguém está isento de ser vítima de desastres. Também não se pode gastar todo tempo em procurar culpados. Faz-se necessário rever o próprio agir e assumir a própria responsabilidade no contexto.
São Paulo escrevendo aos Coríntios deseja formar uma comunidade que esteja ciente do modo como estão vivendo. Recorda a eles o comportamento do povo de Deus na travessia do deserto conduzido por Moisés. O povo era bem conduzido e protegido, mesmo assim murmurava, isto é, sempre insatisfeito e reclamando constantemente contra Deus e Moisés. Como consequência morreram antes de chegar ao destino, por isso convida que a comunidade “não deseje coisas más” e mude o que for necessário para viver melhor.
A advertência de Paulo: “Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” também serve a Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Ecologia Integral”. A temática da ecologia passou a fazer parte do cotidiano. A globalização das informações permite que todos tenham acesso a notícias sobre os eventos climáticos de qualquer parte do mundo. É uma infinidade de informações que requerem um constante discernimento, assim como Jesus fez com os fatos trágicos que lhe contaram. Empenhar-se para encontrar a verdade dos fatos é uma atitude sábia e necessária. “A verdade vos libertará” afirmou Jesus. A verdade deve ser aceita. Ela se torna o ponto de partida para compreender as causas e encontrar as soluções.
O final do evangelho apresenta a parábola da figueira infrutífera. A primeira solução simplista apresentada é cortar a figueira, mas também surge uma segunda proposta: dar um tempo, colocar adubo e melhorar os arredores para torná-la frutífera. A proposta fundamental da Campanha da Fraternidade é esta: conhecer e reconhecer a crise socioambiental que estamos vivendo, oferecer ensinamentos da Escritura que dizem toda criação é obra de Deus e tudo foi feito muito bom e, por fim, tornar a vida do cristão frutífera produzindo frutos de conversão ecológica, isto é, mudar hábitos de consumo, relacionar-se com todas as criaturas de forma fraterna, cuidar e guardar com zelo da Casa Comum.