ROGER SCRUTON
Roger Vernon Scruton (1944-2020) é apontado como o filósofo britânico conservador mais bem sucedido desde Edmund Burke. É autor de dezenas de livros, vários deles publicados no Brasil. Três de seus livros são indispensáveis aos interessados em conhecer as principais características da filosofia conservadora: “Como ser um conservador” (2015), “Uma filosofia política: argumentos para o conservadorismo” (2017) e “Conservadorismo: um convite à grande tradição” (2017).
REAÇÃO AO MAIO DE 1968
Scruton diz que abraçou o conservadorismo pela primeira vez depois de testemunhar os protestos estudantis de maio de 1968 em Paris. Ele estava na capital francesa vendo os estudantes revirarem carros, quebrando janelas e vitrinas a pedradas e em violentos confrontos com a polícia. “De repente”, disse Scruton, “percebi que estava do outro lado. O que eu vi foi uma multidão rebelde desordenada de hooligans autoindulgentes de classe média alta. Quando eu perguntei aos meus colegas o que eles queriam, o que eles estavam tentando alcançar, tudo o que eu recebi de volta foi um ridículo discurso marxista nonsense. Fiquei enojado com isso e pensei que poderia haver um caminho de volta para a defesa da civilização ocidental contra esse tipo de coisa. Foi quando eu me tornei um conservador. Eu sabia que queria conservar as coisas ao invés de destruí-las.”
NO LESTE EUROPEU
Roger Scruton também se envolveu com grupos dissidentes no Leste da Europa (Polônia, Tchecoslováquia e Hungria), grupos que faziam oposição à ditadura comunista, submetida ao domínio da Rússia Soviética. Foi quando ele aprendeu que o comunismo não era “um sonho de idealistas, mas um sistema realista de governo imposto de alto a baixo e mantido pela força. Despertei para a fraude cometida em nome do socialismo e sentia obrigação imediata de fazer algo a respeito”, escreveu ele. Com o fim do comunismo na Europa Oriental Scruton recebeu a Medalha do Mérito da República Tcheca do então presidente Vaclav Havel em 1998.
SER UM INTELECTUAL CONSERVADOR É INVULGAR
Não é incomum ser conservador, diz Roger Scruton. O que é incomum é ser um intelectual conservador. No mundo acadêmico “o ambiente cultural é hostil aos valores tradicionais ou a qualquer referência que possa ser feita às elevadas conquistas da civilização ocidental”. Assim, 70% dos acadêmicos se identificam à esquerda. “As tentativas honestas de viver de acordo com as próprias ideias, cuidando de suas famílias apreciando as comunidades, cultuando seus deuses e adotando uma cultura determinada e confirmada – essas tentativas são ridicularizadas pela casta dos Guardian” (jornal inglês de tendência esquerdista). Os conservadores “são constantemente informados de que suas ideias e sentimentos são reacionários, preconceituosos, sexistas ou racistas”. Essa deve ser uma das razões pela crescente hostilidade das pessoas com o discurso da esquerda. Parte do sentimento de rejeição que as pessoas sentem em relação à esquerda radical resulta do fato dela aplicar testes de pureza ideológica e vilipendiar quem discorda dela.
O CONSERVADORISMO NÃO SUSCITA MODAS INTELECTUAIS
Gérard Lebrun, no livro “Passeios ao Léu” (1983), afirma que “a crítica das instituições e privilégios sempre terá mais atrativo que a banal apologia da ordem estabelecida". A defesa da Tradição, da Família e da Propriedade bem pode proporcionar desfiles folclóricos, mas não suscitar uma moda intelectual. (...) o conservadorismo só conseguiu criar movimentos de opinião ao transfigurar-se em doutrina subversiva frente a um sistema apresentado como ‘caduco’ ou ‘apodrecido’.”