Brizola rende muitas lembranças e intermináveis palavras. Não lhe faltam adjetivos: caudilho, estadista, engenheiro, governador, trabalhista..., mas quem foi Leonel Brizola? Da criança ao grande líder e homem público, o fio da meada sai de Carazinho, anda por Passo Fundo, chega a Porto Alegre, é esticado ao Uruguai e faz apoteose no Rio de Janeiro. Seguindo-o de ponta a ponta, o jornalista Cleber Dioni Tentardini escreveu “No Fio da História – A Vida de Leonel Brizola”. O livro terá lançamento em Passo Fundo na próxima quinta-feira, 20, com sessão de autógrafos no Bokinha. Cleber conta para O Nacional como andou nesse fio, por onde ouviu bem mais de uma centena de pessoas.
Vinte anos de estrada
A ideia nasceu durante a produção de um perfil sobre João Goulart, em 2003, e o cunhado Leonel Brizola, naturalmente entrou em alguns capítulos. Por vinte anos recolhi material sobre o político, tendo produzido com outros jornalistas cadernos especiais em jornais e revistas. Devido à idade avançada dos familiares e amigos de Brizola, minha preocupação inicial era recolher o quanto antes informações sobre a sua infância. Então fui direto a Carazinho conversar com um dos irmãos dele, seu Frutuoso, uma pessoa pra lá de carismática. Depois, encontrei um amigo de infância de Leonel, o Pedro da Rosa Pinto, falamos enquanto limpava o cemitério onde estão sepultados os pais de Brizola na área rural.
Infância em Passo Fundo
Em seguida, fui para Passo Fundo encontrar o outro irmão, seu Paraguaçu, que aos 90 anos dirigia uma Belina II. Conversamos em seu apartamento na Rua Coronel Chicuta. Sem esses dois relatos seria muito difícil detalhar a infância do Brizola e ouvir um pouco sobre os pais deles. Vasculhei bibliotecas, colégios, museus, jornais, cartórios, e igrejas onde encontrei muito material valioso. Passei pela Igreja Metodista, Instituto Educacional (IE) e Colégio Protásio Alves. Encontrei reportagens em O Nacional, obtive depoimentos de amigos de infância, colegas de primário, uma senhora que descreveu Brizola como um guri agitado em sala de aula. Em 2022, voltei a Passo Fundo e despertou minha curiosidade por trabalhados acadêmicos (UPF) e saber que Brizola ainda despertava interesse. Depois, a pesquisa voltou-se para Porto Alegre, onde encontrei a senhora que trouxe ele de trem, aos 14 anos, e na ETA, em Viamão, onde ele foi estudar técnico rural.
Informações além dos recortes
O que existia até ontem eram recortes da vida política de Brizola, livros sobre a Legalidade, o golpe de 1964 ou memórias de companheiros, todos trabalhos muito valiosos. Mas eu fui o único a colher informações da infância, adolescência e a detalhar sua atuação como parlamentar e prefeito da capital, principalmente. Importante também enfatizar que eu fui o único a ter acesso a um álbum particular da família de Brizola, guardado com uma sobrinha, criada por dona Oniva como filha, a dona Maria Cabíria.
Peleador, corajoso e líder
A minha tentativa de definir a personalidade dele, muito forte, por sinal, me levou a descobrir fatos desconhecidos, como suas constantes suspensões na ETA de Viamão, por brigar muito com os colegas. Sua coragem em desembarcar na Capital aos 14 anos, sem familiar algum e pouquíssimos recursos, sua ousadia enquanto jardineiro na Redenção em enfrentar chefes que não queriam deixa-lo cursar a faculdade, sua liderança no grêmio estudantil do colégio Julinho, e muitas outras passagens que mostraram um indivíduo determinado a vencer na vida, e que nunca esqueceu de retribuir quem o ajudou lá no início da adolescência, como o homem que lhe deu emprego como trocador de moedas na Galeria Chaves.
Aquariano impulsivo e genioso
A figura pública sobressai, até porque ele tinha uma capacidade de trabalho descomunal, mesmo que dormisse às duas ou três da madrugada, às seis da manhã estava trabalhando, e mobilizava todo mundo a sua volta. Mas isso, claramente, afetou muito sua vida familiar. O homem era um aquariano impulsivo e genioso. Brizola não foi, ele ainda é uma figura marcante na história do Brasil. Ele está muito presente na memória das pessoas, tem gente que o ama e gente que o odeia. Isso tornou o meu trabalho mais difícil, porque eu mantive um certo distanciamento do biografado a fim de não resultar num livro “chapa branca”. Recentemente, trouxe a público, pela primeira vez, parte da história da mais nova e única filha viva do ex-governador. Mesmo com teste de DNA positivo, não teve a paternidade reconhecida pela Justiça. Alguns torceram o nariz, mas é a vida dele
Personagem fascinante
Eu me propus a escrever uma biografia que fosse realmente honesta com os leitores. Um personagem fascinante, mas um homem do seu tempo. Acredito que o livro é uma contribuição importante para a biografia de Brizola. Teve edição minuciosa de João Borges de Souza, a quem é feita uma homenagem a sua memória, e a contribuição decisiva de jornalistas e editores como Elmar Bones da Costa e Fernando Brito. Outras biografias de Brizola virão, com mais informações, e assim vamos em frente.
Sobre o autor e o lançamento
- Cleber Dioni Tentardini é jornalista, gaúcho de Santana do Livramento, autor de vários livros com muitos prêmios conquistados.
- Bokinha: o lançamento com sessão de autógrafos em Passo Fundo será no Bokinha, Independência 503, quinta-feira, 20/03, das 18h30 às 21 horas.